From Indigenous Peoples in Brazil
The printable version is no longer supported and may have rendering errors. Please update your browser bookmarks and please use the default browser print function instead.
Noticias
Exposição reúne 15 anos de foto indígena
04/12/2013
Fonte: O Globo, Segundo Caderno, p. 2
Exposição reúne 15 anos de foto indígena
Centro Cultural Correios mostra 50 imagens do fotógrafo e antropólogo Milton Guran
AUDREY FURLANETO
audrey.furlaneto@oglobo.com.br
Era 1978, e o então repórter fotográfico do "Jornal de Brasília" Milton Guran encontrou o cineasta Vladimir Carvalho numa pauta. Carvalho puxou conversa, elogiou o trabalho de Guran e emendou: "Amanhã vou para o Xingu. Vamos?". O convite (aceito) fez de Guran um dos principais fotógrafos de índios do país: desde 1978, acumulou 15 mil fotos e tornou-se respeitado antropólogo.
A partir desta quarta, ele exibe um recorte de sua produção como fotógrafo em "Filhos da Terra", mostra que o Centro Cultural Correios abre às 19h, para convidados, e que ficará em cartaz até 14 de janeiro. Guran coletou 50 imagens em preto e branco desde a primeira, no Xingu (feita na ocasião do convite de Vladimir Carvalho), até as últimas de sua produção, em 1991, quando passou a se dedicar aos estudos acadêmicos - ele é doutor em Antropologia pela prestigiada École des Hautes Études en Sciences Sociales, na França.
Guran cita o teórico da fotografia André Rouillé - para quem há duas categorias (a arte dos fotógrafos e a fotografia dos artistas) - a fim de situar sua produção:
- Trabalho com a arte da fotografia, não sou artista. O que determina o resultado de meu trabalho é o mundo real, e não o que está na minha cabeça.
Foi assim que, na primeira foto que fez de índios, em 1978, no Xingu, Guran apenas pousou o dedo sobre o botão da câmera ao se deparar com duas índias da etnia kamayurá.
- Eu dormia numa maloca e acordei para fazer xixi na mata, quando vi as duas moças. A foto mostra o nível de abandono da menina que é pintada, e a concentração da que pinta, como duas amigas que se pintam para sair à noite - diz ele.
Nesta primeira e em todas as fotos sequentes, Guran não usou de recursos de finalização para tratar a imagem, algo comum a artistas que voltam suas câmeras aos índios ("Como faz a brilhante Claudia Andujar", ele cita). O olhar de Guran é documental.
Ele viajou pelo país com equipes da Funai, foi fotógrafo do Museu do Índio e tem registros raros de rituais (de casamento ou iniciação xamânica) em distintas etnias. Muitas vezes, esteve nos primeiros contatos de índios com "homens brancos" - e registrou o encontro, como em "Wokarangma (Arara do Rio Iriri), Pará, 1989". Na foto, o índio se deixa fotografar depois de tocar a pele do fotógrafo e de testar a câmera ele próprio.
Se na primeira sala da mostra Guran exibe os contatos com índios no Xingu e alguns indícios da aculturação das etnias, no segundo ambiente da exposição já se veem famílias indígenas degradadas, resultado trágico da "fricção interétnica", nas palavras do antropólogo:
- Aqui você vê 15 anos de fotografia. Nesse tempo, meu olhar e minha sensibilidade foram instrumentalizados pela antropologia. Mas passei a fotografar menos. A antropologia enquanto ciência é redutora, e a fotografia, como forma de expressão, é transcendental.
O Globo, 04/12/2013, Segundo Caderno, p. 2
http://oglobo.globo.com/cultura/exposicao-reune-15-anos-de-fotografia-indigena-10956623
Centro Cultural Correios mostra 50 imagens do fotógrafo e antropólogo Milton Guran
AUDREY FURLANETO
audrey.furlaneto@oglobo.com.br
Era 1978, e o então repórter fotográfico do "Jornal de Brasília" Milton Guran encontrou o cineasta Vladimir Carvalho numa pauta. Carvalho puxou conversa, elogiou o trabalho de Guran e emendou: "Amanhã vou para o Xingu. Vamos?". O convite (aceito) fez de Guran um dos principais fotógrafos de índios do país: desde 1978, acumulou 15 mil fotos e tornou-se respeitado antropólogo.
A partir desta quarta, ele exibe um recorte de sua produção como fotógrafo em "Filhos da Terra", mostra que o Centro Cultural Correios abre às 19h, para convidados, e que ficará em cartaz até 14 de janeiro. Guran coletou 50 imagens em preto e branco desde a primeira, no Xingu (feita na ocasião do convite de Vladimir Carvalho), até as últimas de sua produção, em 1991, quando passou a se dedicar aos estudos acadêmicos - ele é doutor em Antropologia pela prestigiada École des Hautes Études en Sciences Sociales, na França.
Guran cita o teórico da fotografia André Rouillé - para quem há duas categorias (a arte dos fotógrafos e a fotografia dos artistas) - a fim de situar sua produção:
- Trabalho com a arte da fotografia, não sou artista. O que determina o resultado de meu trabalho é o mundo real, e não o que está na minha cabeça.
Foi assim que, na primeira foto que fez de índios, em 1978, no Xingu, Guran apenas pousou o dedo sobre o botão da câmera ao se deparar com duas índias da etnia kamayurá.
- Eu dormia numa maloca e acordei para fazer xixi na mata, quando vi as duas moças. A foto mostra o nível de abandono da menina que é pintada, e a concentração da que pinta, como duas amigas que se pintam para sair à noite - diz ele.
Nesta primeira e em todas as fotos sequentes, Guran não usou de recursos de finalização para tratar a imagem, algo comum a artistas que voltam suas câmeras aos índios ("Como faz a brilhante Claudia Andujar", ele cita). O olhar de Guran é documental.
Ele viajou pelo país com equipes da Funai, foi fotógrafo do Museu do Índio e tem registros raros de rituais (de casamento ou iniciação xamânica) em distintas etnias. Muitas vezes, esteve nos primeiros contatos de índios com "homens brancos" - e registrou o encontro, como em "Wokarangma (Arara do Rio Iriri), Pará, 1989". Na foto, o índio se deixa fotografar depois de tocar a pele do fotógrafo e de testar a câmera ele próprio.
Se na primeira sala da mostra Guran exibe os contatos com índios no Xingu e alguns indícios da aculturação das etnias, no segundo ambiente da exposição já se veem famílias indígenas degradadas, resultado trágico da "fricção interétnica", nas palavras do antropólogo:
- Aqui você vê 15 anos de fotografia. Nesse tempo, meu olhar e minha sensibilidade foram instrumentalizados pela antropologia. Mas passei a fotografar menos. A antropologia enquanto ciência é redutora, e a fotografia, como forma de expressão, é transcendental.
O Globo, 04/12/2013, Segundo Caderno, p. 2
http://oglobo.globo.com/cultura/exposicao-reune-15-anos-de-fotografia-indigena-10956623
Las noticias publicadas en el sitio Povos Indígenas do Brasil (Pueblos Indígenas del Brasil) son investigadas en forma diaria a partir de fuentes diferentes y transcriptas tal cual se presentan en su canal de origen. El Instituto Socioambiental no se responsabiliza por las opiniones o errores publicados en esos textos. En el caso en el que Usted encuentre alguna inconsistencia en las noticias, por favor, póngase en contacto en forma directa con la fuente mencionada.