From Indigenous Peoples in Brazil
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News
Negociação lenta em Le Bourget põe acordo climático em risco
06/12/2015
Fonte: O Globo, Sociedade, p. 40
Negociação lenta em Le Bourget põe acordo climático em risco
Países não debatem no plenário e discordam sobre como zerar e monitorar emissões
Renato Grandelle
Começou bem. Chefes de Estado chegaram à Conferência do Clima (COP-21) com metas voluntárias a tiracolo e considerando adotá-las com peso de lei. Nos últimos dias - e assim será até o fim da cúpula, na próxima sexta-feira -, a animação e a dinâmica iniciais dão lugar a uma trajetória lenta e truncada, a mesma que limitou todos os documentos já assinados até hoje contra o aquecimento global e que pode contaminar o Acordo de Paris.
Instruídos pelos governantes, os negociadores tentam eliminar as centenas de pontos ainda não consensuais do rascunho do acordo. Não há discussão no plenário - os representantes de cada país apenas dizem se são favoráveis ou não a determinada medida. O debate acontece dentro de blocos com demandas semelhantes, em comissões multilaterais e, principalmente, em cafezinhos.
- Participei de duas conferências e vi como as conversas acontecem nos corredores, cafés, bares, restaurantes. Isso faz parte da negociação - lembra José Marengo, pesquisador do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais. - Algumas vezes, eles pegam o telefone para consultar alguém, não sei se ali mesmo ou seus governos.
- Quando se vai para o plenário sem acordo prévio, aí é que não há avanço mesmo - lamenta Suzana Kahn, coordenadora executiva do Fundo Verde e presidente do Comitê Científico do Painel Brasileiro para Mudanças Climáticas. - Os chefes de Estado foram embora e acho que levaram junto a esperança de um acordo robusto. Agora, com os negociadores, entramos no mundo real, com os obstáculos que existem há seis anos.
Impasses no financiamento
Um dos itens mais importantes e controversos da COP-21 é o financiamento. China e EUA são protagonistas na disputa sobre os futuros doadores e privilegiados por um fundo que deve receber US$ 100 bilhões por ano. Os países desenvolvidos se recusam a pagar a conta sozinhos. As nações mais vulneráveis ainda reivindicam uma verba emergencial para adaptação às mudanças climáticas. Esta ferramenta, conhecida como perdas e danos, corre o risco de ser totalmente ignorada pelos negociadores.
Também não há acordo sobre quando os países devem zerar a emissão de combustíveis fósseis. Existem planos para que esta medida ocorra em meados do século ou mesmo em 2100, o que inviabiliza a missão de impedir que a temperatura do planeta avance mais do que 2 graus Celsius.
Os países tampouco chegam a um consenso sobre como e para quem revelarão seu progresso no cumprimento de metas. E, principalmente, reagem a qualquer monitoramento estrangeiro, alegando que esta regra afetaria a soberania nacional.
Outro impasse vem da floresta. Há dois anos foi aprovado um plano para remunerar os países que conseguissem reduzir as emissões causadas por desmatamento. Até agora, porém, esta medida não gerou fluxos financeiros. Espera-se que o Acordo de Paris finalmente assegure apoio a este projeto.
Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, Eduardo Viola acredita que apenas a União Europeia apresentou metas ambiciosas para cortar as emissões de gases-estufa.
- Alguns países de renda média pretendem receber financiamento das nações ricas, competindo pelos escassos recursos com aquelas de renda baixa. É uma das maiores demostrações de baixa responsabilidade global - condena. - O Acordo de Paris terá baixa ambição, mas pelo menos sinalizará ao mundo empresarial que o processo de zerar os combustíveis fósseis é para valer, mesmo que ocorra em uma velocidade lenta e com intensidade insuficiente.
Ontem, a secretária-executiva da Cúpula do Clima, Christiana Figueres, o ex-vice-presidente dos EUA, Al Gore, e o filantropo Tom Steyer tiveram uma reunião reservada na COP-21 com 20 diretores dos principais fundos institucionais de investimento do mundo.
Christiana acredita que há um irreversível movimento em direção à economia de baixo carbono. Para ela, as negociações são difíceis, mas avançam. O maior obstáculo é o "medo político do desconhecido". Ainda não se sabe, por exemplo, como funcionará a "economia do carbono", na qual as empresas, em vez de emitir poluentes, capturam os gases de efeito estufa.
- O diálogo entre as nações não é trivial, mas a entrada em campo da comunidade de investidores institucionais muda tudo - pondera o empresário Roberto Silva Waack, integrante da Coalizão Brasil, Clima, Florestas e Agricultura, que participou do encontro. - A compreensão desta realidade acontece aqui independentemente do rumo das negociações internacionais.
O Globo, 06/12/2015, Sociedade, p. 40
http://oglobo.globo.com/sociedade/sustentabilidade/negociacao-lenta-em-le-bourget-poe-acordo-climatico-em-risco-18230107
Países não debatem no plenário e discordam sobre como zerar e monitorar emissões
Renato Grandelle
Começou bem. Chefes de Estado chegaram à Conferência do Clima (COP-21) com metas voluntárias a tiracolo e considerando adotá-las com peso de lei. Nos últimos dias - e assim será até o fim da cúpula, na próxima sexta-feira -, a animação e a dinâmica iniciais dão lugar a uma trajetória lenta e truncada, a mesma que limitou todos os documentos já assinados até hoje contra o aquecimento global e que pode contaminar o Acordo de Paris.
Instruídos pelos governantes, os negociadores tentam eliminar as centenas de pontos ainda não consensuais do rascunho do acordo. Não há discussão no plenário - os representantes de cada país apenas dizem se são favoráveis ou não a determinada medida. O debate acontece dentro de blocos com demandas semelhantes, em comissões multilaterais e, principalmente, em cafezinhos.
- Participei de duas conferências e vi como as conversas acontecem nos corredores, cafés, bares, restaurantes. Isso faz parte da negociação - lembra José Marengo, pesquisador do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais. - Algumas vezes, eles pegam o telefone para consultar alguém, não sei se ali mesmo ou seus governos.
- Quando se vai para o plenário sem acordo prévio, aí é que não há avanço mesmo - lamenta Suzana Kahn, coordenadora executiva do Fundo Verde e presidente do Comitê Científico do Painel Brasileiro para Mudanças Climáticas. - Os chefes de Estado foram embora e acho que levaram junto a esperança de um acordo robusto. Agora, com os negociadores, entramos no mundo real, com os obstáculos que existem há seis anos.
Impasses no financiamento
Um dos itens mais importantes e controversos da COP-21 é o financiamento. China e EUA são protagonistas na disputa sobre os futuros doadores e privilegiados por um fundo que deve receber US$ 100 bilhões por ano. Os países desenvolvidos se recusam a pagar a conta sozinhos. As nações mais vulneráveis ainda reivindicam uma verba emergencial para adaptação às mudanças climáticas. Esta ferramenta, conhecida como perdas e danos, corre o risco de ser totalmente ignorada pelos negociadores.
Também não há acordo sobre quando os países devem zerar a emissão de combustíveis fósseis. Existem planos para que esta medida ocorra em meados do século ou mesmo em 2100, o que inviabiliza a missão de impedir que a temperatura do planeta avance mais do que 2 graus Celsius.
Os países tampouco chegam a um consenso sobre como e para quem revelarão seu progresso no cumprimento de metas. E, principalmente, reagem a qualquer monitoramento estrangeiro, alegando que esta regra afetaria a soberania nacional.
Outro impasse vem da floresta. Há dois anos foi aprovado um plano para remunerar os países que conseguissem reduzir as emissões causadas por desmatamento. Até agora, porém, esta medida não gerou fluxos financeiros. Espera-se que o Acordo de Paris finalmente assegure apoio a este projeto.
Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, Eduardo Viola acredita que apenas a União Europeia apresentou metas ambiciosas para cortar as emissões de gases-estufa.
- Alguns países de renda média pretendem receber financiamento das nações ricas, competindo pelos escassos recursos com aquelas de renda baixa. É uma das maiores demostrações de baixa responsabilidade global - condena. - O Acordo de Paris terá baixa ambição, mas pelo menos sinalizará ao mundo empresarial que o processo de zerar os combustíveis fósseis é para valer, mesmo que ocorra em uma velocidade lenta e com intensidade insuficiente.
Ontem, a secretária-executiva da Cúpula do Clima, Christiana Figueres, o ex-vice-presidente dos EUA, Al Gore, e o filantropo Tom Steyer tiveram uma reunião reservada na COP-21 com 20 diretores dos principais fundos institucionais de investimento do mundo.
Christiana acredita que há um irreversível movimento em direção à economia de baixo carbono. Para ela, as negociações são difíceis, mas avançam. O maior obstáculo é o "medo político do desconhecido". Ainda não se sabe, por exemplo, como funcionará a "economia do carbono", na qual as empresas, em vez de emitir poluentes, capturam os gases de efeito estufa.
- O diálogo entre as nações não é trivial, mas a entrada em campo da comunidade de investidores institucionais muda tudo - pondera o empresário Roberto Silva Waack, integrante da Coalizão Brasil, Clima, Florestas e Agricultura, que participou do encontro. - A compreensão desta realidade acontece aqui independentemente do rumo das negociações internacionais.
O Globo, 06/12/2015, Sociedade, p. 40
http://oglobo.globo.com/sociedade/sustentabilidade/negociacao-lenta-em-le-bourget-poe-acordo-climatico-em-risco-18230107
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