From Indigenous Peoples in Brazil
The printable version is no longer supported and may have rendering errors. Please update your browser bookmarks and please use the default browser print function instead.

News

Foz do Amazonas é supersensível a óleo e exploração carece de dados científicos, dizem pesquisadores

15/07/2024

Fonte: FSP - https://www1.folha.uol.com.br/



Foz do Amazonas é supersensível a óleo e exploração carece de dados científicos, dizem pesquisadores
Cientistas lembram existência de atlas de sensibilidade ambiental em caso de vazamento e defendem que estudos norteiem decisões

Vinicius Sassine

15/07/2024

Há oito anos, o governo federal tem um detalhado atlas que mapeia a vulnerabilidade da região da foz do rio Amazonas a um eventual derramamento de petróleo. O documento -chamado carta de sensibilidade ambiental a derramamento de óleo- foi concluído em 2016 pelo MMA (Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima).

O atlas foi elaborado por pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi, da UFPA (Universidade Federal do Pará) e do Iepa (Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá). É uma baliza para um plano de contingências, caso ocorra vazamento de petróleo na região onde o rio Amazonas deságua no oceano Atlântico.

A carta aponta uma capacidade altíssima de ecossistemas da região da foz de absorverem hidrocarbonetos; uma extrema sensibilidade da costa a óleo; e uma altíssima dificuldade de limpeza de manguezais, que são abundantes na região, e de florestas de várzea, áreas úmidas e praias, em caso de vazamento de petróleo.

A existência do documento foi lembrado por pesquisadores na 76ª reunião anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), realizada em Belém, no campus da UFPA (Universidade Federal do Pará), e que se encerrou no último sábado (13).

"A carta mostra que a linha da costa da foz tem extrema sensibilidade a óleo, que afetaria a biodiversidade como um todo", disse Amilcar Mendes, geólogo e pesquisador do programa de estudos costeiros do Museu Emílio Goeldi. Ele foi um dos formuladores do texto. "Não dá para entrar com máquinas em mangues, e a argila segura muito mais poluentes que a areia."

Os elementos descritos pela carta de sensibilidade ao óleo não estão no cerne das discussões sobre o empreendimento de petróleo defendido pelo presidente Lula (PT).

O chefe do Executivo quer a exploração de óleo na bacia Foz do Amazonas, mais especificamente no chamado bloco 59, cuja distância para a costa é de 160 a 179 km, na linha de Oiapoque (AP).

O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) já negou concessão de licença para prospecção de óleo no bloco, em maio de 2023. A Petrobras, responsável pelo empreendimento, recorreu e aguarda a emissão da autorização ainda em 2024. A estatal e o Ministério de Minas e Energia pressionam pela licença.

A ministra Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima) disse, na última mesa da reunião da SBPC, na sexta (12), que Ibama adotará uma decisão técnica, não política. "O órgão não discute a oportunidade e conveniência de explorar ou não o petróleo. Discute a viabilidade ambiental."

Marina negou que Lula faça exigências taxativas pela autorização. "O presidente Lula nunca, em todas as vezes que trabalhei com ele, disse: 'faça a licença'. Ele quer a coisa da forma correta. Há um debate técnico, de natureza interna, com diálogo entre os ministérios."

Documentos do processo de licenciamento, elaborados e fornecidos pelos empreendedores, apontam a possibilidade de impacto de óleo na costa de oito países, além de dois territórios da França, em caso de vazamentos.

Conforme as modelagens usadas, feitas em 2015 e em 2022, não há previsão de toque na costa brasileira. Estudos científicos contestam essa previsão de que não haveria impacto no território nacional. E, caso um derramamento ocorra e óleo chegue à costa brasileira, os impactos podem ser extremos, conforme pesquisadores.

Relatórios usados pela Petrobras afirmam que a dispersão do óleo ocorreria rumo a ilhas do Caribe. Modelagens e simulações mostram óleo em Barbados, Granada, Guiana, Santa Lúcia, São Vicente e Granadinas, Suriname, Trinidad e Tobago e Venezuela, além de Guiana Francesa e Martinica (ambos territórios franceses).

"O EIA [estudo de impacto ambiental] é muito deficitário e abranda a questão da dispersão do óleo. Incluídas outras modelagens, o óleo também chegaria à costa brasileira", afirmou o pesquisador da área de oceanografia Nils Edvin Neto, professor da UFPA. "Há uma carência de estudos de base sólida."

Para Nilson Gabas Junior, diretor do Museu Emílio Goeldi, não é possível tomar decisões sobre exploração de petróleo na região sem dados científicos que embasem essas decisões. E a foz do rio Amazonas carece de estudos que mapeiem sua própria biodiversidade, disse.

"Essa é uma das regiões mais ricas em descarga hídrica e sedimentológica no mundo. A pluma de água doce no oceano, na ordem de 209 mil metros cúbicos por segundo, influencia a salinidade e a ecologia marinha", afirmou o diretor. "Os serviços ecossistêmicos são valiosos, com regulação do clima e conservação da biodiversidade."

Pouco se sabe ainda sobre o que está abaixo da água, afirmou Edvin Neto, da UFPA. "Na questão subaquática, não temos mapeamento de espécies e recursos pesqueiros."

Faltam elementos técnicos suficientes, por exemplo, para a definição do defeso -período do ano em que é proibida a pesca, para reprodução- de espécies de peixes da região da foz do Amazonas.

Em caso de vazamento de óleo, um cenário pensado pelos pesquisadores é que nem exista intervenção para remoção, tamanhas a dificuldade de acesso e a complexidade dos ecossistemas. Assim, seria necessário aguardar por uma regeneração.

A carta de sensibilidade ambiental a óleo trata a bacia marítima da foz do Amazonas como "uma das últimas fronteiras para a introdução da atividade petrolífera".

A Petrobras defende os modelos adotados para análise sobre eventual dispersão de óleo em caso de vazamentos, usados no processo de licenciamento ambiental.

A estatal disse, no fim de 2023, que contratou uma empresa de referência mundial e que essa empresa utilizou sistemas modernos para modelos e projeções sobre eventual dispersão de óleo no mar, seguindo exigências do termo de referência do Ibama.

"Foram realizadas duas modelagens (2015 e 2022) e os resultados indicam que não há probabilidade de toque na costa brasileira, sendo remotíssima a probabilidade de toque de óleo na costa de outros países. As modelagens foram aprovadas pelo Ibama. O parecer do Ibama também validou que o plano da Petrobras para resposta à emergência é robusto", afirmou a empresa.

https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2024/07/foz-do-amazonas-e-supersensivel-a-oleo-e-exploracao-carece-de-dados-cientificos-dizem-pesquisadores.shtml
 

The news items published by the Indigenous Peoples in Brazil site are researched daily from a variety of media outlets and transcribed as presented by their original source. ISA is not responsible for the opinios expressed or errors contained in these texts. Please report any errors in the news items directly to the source