From Indigenous Peoples in Brazil
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Indígenas caminham duas horas até chegar à parada de ônibus em Manaus

07/05/2025

Autor: Ana Pastana

Fonte: Agencia Cenarium - https://agenciacenarium.com.br



MANAUS (AM) - Indígenas da Comunidade Parque das Tribos, no bairro Tarumã-Açu, na Zona Oeste de Manaus, enfrentam dificuldades para ter acesso ao transporte coletivo que atende à localidade. De acordo com relatos à CENARIUM, moradores caminham por mais de duas horas para chegar até o ponto de ônibus mais próximo.

O indígena da etnia Guarani Estevão da Silva Cavalcante, de 16 anos, é natural do município de São Paulo de Olivença (a 985 quilômetros da capital amazonense) e está em Manaus em busca de mais oportunidades de estudo. Estevão, que estuda no bairro São Jorge, na Zona Oeste de Manaus, leva cerca de duas horas e 47 minutos para chegar até a parada de ônibus.

"Às 9h, em ponto, eu já estou vindo para cá [para a parada de ônibus], depois eu pego o ônibus das 11h40 e vou para a escola", afirmou, acrescentando que faz o percurso a pé todos os dias.

O estudante, que mora em uma região de difícil acesso, reforçou a necessidade de paradas de ônibus mais próximas ao local onde mora. "A única coisa que eu pediria, mesmo, era que as linhas de ônibus entrassem até lá [em casa] e que também houvesse mais paradas de ônibus por lá", reforçou.

A dona de casa Jaqueline Duarte da Silva, indígena da etnia Munduruku, também precisa caminhar por um quilômetro para chegar até a parada de ônibus mais próxima. A mulher afirma que, no final de semana, a espera por um transporte coletivo pode levar até duas horas.

"O transporte, dia de semana, passa a cada uma hora, no final de semana é de duas em duas horas", disse. Questionada sobre quanto tempo leva para chegar até a parada de ônibus, Jaqueline afirma que caminha por um quilômetro.

"[Ando] Um quilômetro para poder pegar o ônibus e quando para tem motorista que só 'Jesus na causa', tem uns que estão de bom humor e param porque o ônibus já vem bem lotado. Aqui, nós necessitamos de mais ônibus, durante a semana, seria no caso de três a quatro rotas a mais para diminuir o prazo de duas a três horas esperando o ônibus. Agora eu estou precisando sair, estou desde 10h50 aqui e só vou pegar 11h45, 12h", declarou.

Durante a reportagem, a equipe presenciou a espera por um transporte coletivo da dona de casa e da filha dela. Após uma hora de espera, quando um ônibus se aproximou, Jaqueline foi informada que a motorista que estaria indo para o horário de almoço e que um outro veículo passaria. "Agora, é esperar até as 12h, 12h30", lamentou.

O que diz o Immu
A CENARIUM entrou em contato com o Immu para questionar sobre as dificuldades com o transporte coletivo relatadas por moradores da Comunidade Parque das Tribos. Em nota, o órgão informou que "atualmente, nove veículos operam nas linhas que atendem a região", sendo as linhas 011, 012 e 005.

Questionado sobre o porquê algumas regiões da comunidade os coletivos não operam, o instituto municipal informou que "determinadas localidades ainda não contam com atendimento direto devido à inviabilidade operacional de trajeto e manobra dos coletivos em pontos mais internos da comunidade".

Além disso, o Immu informou que "mantém estudos técnicos em andamento visando a melhoria do atendimento à comunidade" e que estão "avaliando alternativas viáveis de acesso para garantir maior cobertura, segurança e regularidade nas operações do transporte coletivo na região".

Aumento da tarifa
A Prefeitura de Manaus aumentou o valor da tarifa do transporte coletivo de R$ 4,50 para R$ 6, no valor integral. O valor, que passou a valer a partir do dia 20 abril deste ano, foi oficializado pelo prefeito da capital amazonense, David Almeida (Avante), por meio do decreto 6.166/2025, publicado em edição extra do Diário Oficial de Manaus (DOM), no dia 19 do mesmo mês.

De acordo com a Prefeitura de Manaus, apesar do valor cheio da passagem ser de R$ 6, descontos serão aplicados conforme o perfil do usuário. Passageiros que pagam com dinheiro ou cartão PassaFácil terão desconto e pagarão R$ 5 por viagem. Os estudantes que não possuem gratuidade devem seguir pagando R$ 2,50, mediante apresentação da carteira estudantil válida.

Em fevereiro, o aumento da tarifa do transporte coletivo em Manaus chegou a ser alvo de Ação Civil Pública (ACP), do Ministério Público do Estado do Amazonas (MP-AM) para suspender o aumento da tarifa, que seria reajustado de R$ 4,50 para R$ 5. Na época, o MP apontou que o reajuste foi realizado sem a devida transparência, considerando que o Immu e o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Amazonas (Sinetram) não apresentaram estudos técnicos que justificassem o novo valor.

A justificativa para o aumento, de acordo com a Prefeitura de Manaus, seria a renovação da frota. Mas, segundo o MP-AM, "a substituição de veículos é uma obrigação contratual das concessionárias e deveria ocorrer regularmente para garantir um transporte de qualidade".

Parque das Tribos
O bairro Parque das Tribos, primeiro bairro indígena da capital amazonense, segundo a prefeitura municipal, abriga mais de 1 mil famílias, de 35 etnias.

Em 2024, a CENARIUM já havia registrado a dificuldade dos moradores do Parque das Tribos com o acesso ao transporte coletivo no bairro. Na época, o pai de uma estudante do Ensino Médio Raimundo Nonato lamentou que a filha precisasse enfrentar um longo trajeto para ter acesso ao transporte coletivo.

"Minha filha sai às 4h da tarde para chegar na escola. Só volta às 21h, em um ônibus lotado e com a mochila pesada nas costas. Quando tem mais sorte, chega às 20h, dependendo do trânsito ou se nada acontece com o ônibus no caminho", afirmou na época.

Samia Gonzaga da Silva, da etnia Kanamari, moradora do Parque das Tribos desde a fundação, afirmou à reportagem na época que muitos indígenas chegaram a perder oportunidades de trabalho devido à demora dos coletivos na região. "A gente passa horas na parada de ônibus e, quando passa, é lotado. A principal situação é que eles demoram. Gostaríamos de mais opções e outras linhas. A situação aqui de transporte é de calamidade", disse.

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