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Com EUA de Trump fora do acordo contra crise climática, Europa está jogando duro nas negociações
14/07/2025
Fonte: OESP - https://www.estadao.com.br/
Com EUA de Trump fora do acordo contra crise climática, Europa está jogando duro nas negociações
Reunião pré-COP na Alemanha expôe desafios para destravar financiamento; procurada, União Europeia não comentou
14/07/2025
Paula Ferreira
A saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris altera o xadrez das negociações climáticas e projeta a União Europeia como principal obstáculo para destravar os pedidos de mais dinheiro para os países em desenvolvimento, entre eles o Brasil. As movimentações trazem um importante pano de fundo para a Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP-30), que será em novembro, em Belém.
Antes, os Estados Unidos lideravam os países desenvolvidos, que resistem em ampliar valores para o financiamento climático. Após a eleição de Donald Trump, porém, a Casa Branca abandona essas negociações e a União Europeia tem sido mais vocal nas negociações, segundo especialistas e negociadores.
No ano passado, na COP-29, os países acordaram uma meta de US$ 300 bilhões, que devem ser pagos pelas nações ricas para que os países mais pobres enfrentem a mudança do clima.
O valor, porém, é considerado bem abaixo do necessário, estimado em US$ 1,3 trilhão. O Acordo de Paris - pacto global contra o aquecimento do planeta - prevê que os países desenvolvidos enviem recursos para aqueles em desenvolvimento.
Em junho, a Conferência de Mudanças Climáticas de Bonn, na Alemanha, uma espécie de negociação preparatória para a COP. expôs a nova conjuntura internacional.
A UE foi protagonista na hora de travar negociações sobre os "meios de implementação", que em geral incluem financiamento, capacitação e transferência de tecnologia. Ou seja, os mecanismos para os países atingirem as metas climáticas previstas. Procurada pela reportagem para comentar, a União Europeia não respondeu.
Especialista no tema, André Castro explica que, com a saída de Washington das conversas, há um "reequilíbrio" de funções.
"Os Estados Unidos tinham mais obrigações que a União Europeia para provisão de recursos. Sem os americanos, ela passa a ser a principal interessada", diz André Castro, diretor técnico da LACLIMA, instituto que acompanha as negociações.
Um dos principais embates aconteceu nas discussões sobre a Meta Global de Adaptação, que pretende estabelecer indicadores para que as nações se adaptem aos efeitos da crise climática. Os países pobres são os mais vulneráveis e demandam recursos dos ricos para colocar seus planos em prática.
Os recursos vindos do exterior são considerados fundamentais para preparar os locais vulneráveis a eventos extremos, como tempestades e secas, e também preservar florestas, a exemplo da Amazônia.
Durante as conversas, a União Europeia travou a agenda ao se opor a incluir, entre os indicadores, um que medisse os meios de implementação. Depois de 14 horas de discussões, com embate entre países desenvolvidos, liderados pela UE, e países em desenvolvimento, as partes conseguiram incluir o típico.
Negociadores pelo lado brasileiro ouvidos pelo Estadão explicam que os países ricos têm sentido falta da experiência negociadora dos Estados Unidos. Os representantes americanos eram hábeis em observar brechas e fazer interpretações jurídicas que favoreciam as nações desenvolvidas.
Os embates sobre financiamento têm no centro da arena, além da União Europeia, países do grupo LMDCs (Like-Minded Developing Countries), que reúne gigantes do mundo em desenvolvimento, como a China e a Índia, que cobram mais dinheiro dos desenvolvidos. Em Bonn, o entrave em torno do tema ficou evidente.
Ao mesmo tempo que resiste em avanços no financiamento, a União Europeia pressiona os países a assumirem maior ambição nas metas de cortar emissões de gases do efeito estufa. No último dia 2, a UE lançou a Lei Climática, que estabelece corte de 90% das emissões de gases estufa até 2040.
"A União Europeia segue importante, uma voz que pressiona muito pelo aumento da ambição dos países e do comprometimento dos países nas suas metas, mas precisa dar contrapartida, que é colocar o dinheiro na mesa. E isso eles não querem", analisa Camila Jardim, especialista em Política Internacional do Greenpeace Brasil, que acompanhou os debates em Bonn.
"Eles saem dessa posição confortável (de se manifestar) no bastidor para ter de mostrar seus posicionamentos", afirma Thaynah Gutierrez, secretária executiva da Rede por Adaptação Antirracista, que acompanhou as salas de negociação sobre o tema.
Desafios para a COP
Com uma difícil equação para resolver, negociadores brasileiros já preveem um cenário complexo para a COP-30. A avaliação é de que o Brasil terá de lidar com dois problemas: o embate sobre financiamento e um possível hiato nas metas dos países no âmbito do Acordo de Paris - que têm o nome oficial de Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs).
Segundo negociadores climáticos ouvidos pelo Estadão, uma das opções para resolver o impasse sobre o financiamento é indicar de modo detalhado o que deve ser feito para que os países atinjam US$ 1,3 trilhão de financiamento climático. A determinação de construir o documento foi tomada na COP de 2024.
No caso das NDCs, até o momento, menos de 30 nações entregaram suas metas. A presidência brasileira da COP-30 tem feito um esforço diplomático para que os países adotem objetivos ambiciosos. Durante a conferência em Bonn, o Brasil realizou reuniões bilaterais com os países para conversar sobre essas metas.
A expectativa é de que encontros climáticos antes da COP-30 ajudem a destravar esses tópicos. É o caso de um retiro para negociadores que será promovido pelo Azerbaijão (presidente da COP-29), e reuniões como a Semana do Clima da Nova York, o Africa Climate Summit, na Etiópia, a pré-COP em Brasília, entre outros.
Apesar das dificuldades, a percepção do Brasil é de que, apesar de divergências fortes, há disposição das nações em buscar consensos e evitar a chamada "regra 16", quando discussão precisa começar do zero por falta de acordo.
Para Camila Jardim, o Brasil tem adotado postura cuidadosa nas negociações, evitando entrar em embates, o que, na visão dela, é positivo.
"O Brasil, que geralmente é bastante vocal e propositivo, tem estado num compasso mais de escuta. Tem tentado fazer construções nos bastidores. É sensível esse processo e o Brasil sabiamente tenta não desagradar nenhum dos lados para manter a conversa. Precisa que a conversa continue acontecendo", diz.
https://www.estadao.com.br/sustentabilidade/com-eua-de-trump-fora-do-acordo-contra-crise-climatica-europa-esta-jogando-duro-nas-negociacoes/
Reunião pré-COP na Alemanha expôe desafios para destravar financiamento; procurada, União Europeia não comentou
14/07/2025
Paula Ferreira
A saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris altera o xadrez das negociações climáticas e projeta a União Europeia como principal obstáculo para destravar os pedidos de mais dinheiro para os países em desenvolvimento, entre eles o Brasil. As movimentações trazem um importante pano de fundo para a Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP-30), que será em novembro, em Belém.
Antes, os Estados Unidos lideravam os países desenvolvidos, que resistem em ampliar valores para o financiamento climático. Após a eleição de Donald Trump, porém, a Casa Branca abandona essas negociações e a União Europeia tem sido mais vocal nas negociações, segundo especialistas e negociadores.
No ano passado, na COP-29, os países acordaram uma meta de US$ 300 bilhões, que devem ser pagos pelas nações ricas para que os países mais pobres enfrentem a mudança do clima.
O valor, porém, é considerado bem abaixo do necessário, estimado em US$ 1,3 trilhão. O Acordo de Paris - pacto global contra o aquecimento do planeta - prevê que os países desenvolvidos enviem recursos para aqueles em desenvolvimento.
Em junho, a Conferência de Mudanças Climáticas de Bonn, na Alemanha, uma espécie de negociação preparatória para a COP. expôs a nova conjuntura internacional.
A UE foi protagonista na hora de travar negociações sobre os "meios de implementação", que em geral incluem financiamento, capacitação e transferência de tecnologia. Ou seja, os mecanismos para os países atingirem as metas climáticas previstas. Procurada pela reportagem para comentar, a União Europeia não respondeu.
Especialista no tema, André Castro explica que, com a saída de Washington das conversas, há um "reequilíbrio" de funções.
"Os Estados Unidos tinham mais obrigações que a União Europeia para provisão de recursos. Sem os americanos, ela passa a ser a principal interessada", diz André Castro, diretor técnico da LACLIMA, instituto que acompanha as negociações.
Um dos principais embates aconteceu nas discussões sobre a Meta Global de Adaptação, que pretende estabelecer indicadores para que as nações se adaptem aos efeitos da crise climática. Os países pobres são os mais vulneráveis e demandam recursos dos ricos para colocar seus planos em prática.
Os recursos vindos do exterior são considerados fundamentais para preparar os locais vulneráveis a eventos extremos, como tempestades e secas, e também preservar florestas, a exemplo da Amazônia.
Durante as conversas, a União Europeia travou a agenda ao se opor a incluir, entre os indicadores, um que medisse os meios de implementação. Depois de 14 horas de discussões, com embate entre países desenvolvidos, liderados pela UE, e países em desenvolvimento, as partes conseguiram incluir o típico.
Negociadores pelo lado brasileiro ouvidos pelo Estadão explicam que os países ricos têm sentido falta da experiência negociadora dos Estados Unidos. Os representantes americanos eram hábeis em observar brechas e fazer interpretações jurídicas que favoreciam as nações desenvolvidas.
Os embates sobre financiamento têm no centro da arena, além da União Europeia, países do grupo LMDCs (Like-Minded Developing Countries), que reúne gigantes do mundo em desenvolvimento, como a China e a Índia, que cobram mais dinheiro dos desenvolvidos. Em Bonn, o entrave em torno do tema ficou evidente.
Ao mesmo tempo que resiste em avanços no financiamento, a União Europeia pressiona os países a assumirem maior ambição nas metas de cortar emissões de gases do efeito estufa. No último dia 2, a UE lançou a Lei Climática, que estabelece corte de 90% das emissões de gases estufa até 2040.
"A União Europeia segue importante, uma voz que pressiona muito pelo aumento da ambição dos países e do comprometimento dos países nas suas metas, mas precisa dar contrapartida, que é colocar o dinheiro na mesa. E isso eles não querem", analisa Camila Jardim, especialista em Política Internacional do Greenpeace Brasil, que acompanhou os debates em Bonn.
"Eles saem dessa posição confortável (de se manifestar) no bastidor para ter de mostrar seus posicionamentos", afirma Thaynah Gutierrez, secretária executiva da Rede por Adaptação Antirracista, que acompanhou as salas de negociação sobre o tema.
Desafios para a COP
Com uma difícil equação para resolver, negociadores brasileiros já preveem um cenário complexo para a COP-30. A avaliação é de que o Brasil terá de lidar com dois problemas: o embate sobre financiamento e um possível hiato nas metas dos países no âmbito do Acordo de Paris - que têm o nome oficial de Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs).
Segundo negociadores climáticos ouvidos pelo Estadão, uma das opções para resolver o impasse sobre o financiamento é indicar de modo detalhado o que deve ser feito para que os países atinjam US$ 1,3 trilhão de financiamento climático. A determinação de construir o documento foi tomada na COP de 2024.
No caso das NDCs, até o momento, menos de 30 nações entregaram suas metas. A presidência brasileira da COP-30 tem feito um esforço diplomático para que os países adotem objetivos ambiciosos. Durante a conferência em Bonn, o Brasil realizou reuniões bilaterais com os países para conversar sobre essas metas.
A expectativa é de que encontros climáticos antes da COP-30 ajudem a destravar esses tópicos. É o caso de um retiro para negociadores que será promovido pelo Azerbaijão (presidente da COP-29), e reuniões como a Semana do Clima da Nova York, o Africa Climate Summit, na Etiópia, a pré-COP em Brasília, entre outros.
Apesar das dificuldades, a percepção do Brasil é de que, apesar de divergências fortes, há disposição das nações em buscar consensos e evitar a chamada "regra 16", quando discussão precisa começar do zero por falta de acordo.
Para Camila Jardim, o Brasil tem adotado postura cuidadosa nas negociações, evitando entrar em embates, o que, na visão dela, é positivo.
"O Brasil, que geralmente é bastante vocal e propositivo, tem estado num compasso mais de escuta. Tem tentado fazer construções nos bastidores. É sensível esse processo e o Brasil sabiamente tenta não desagradar nenhum dos lados para manter a conversa. Precisa que a conversa continue acontecendo", diz.
https://www.estadao.com.br/sustentabilidade/com-eua-de-trump-fora-do-acordo-contra-crise-climatica-europa-esta-jogando-duro-nas-negociacoes/
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