From Indigenous Peoples in Brazil
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News
Caatinga Climate Week ignora EUA e coloca semiárido no centro da adaptação climátic
10/10/2025
Autor: Geovana Oliveira; Eduardo Knapp
Fonte: FSP - https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2025/10/caatinga-climate-week-ignora-eua-e-coloca-semi
Caatinga Climate Week ignora EUA e coloca semiárido no centro da adaptação climática
Resiliência do bioma e impacto das energias renováveis nas comunidades tradicionais foram mostradas a visitantes
deia do evento surgiu após participação na Semana do Clima em Nova York em 2024
Geovana Oliveira
Eduardo Knapp
Caruaru (PE)
10.out.2025 às 23h00
Chovia quando um grupo com cerca de 25 pessoas chegou na casa dos agricultores Maria José e Aloísio Barbosa, na comunidade Serrote dos Bois, a sete quilômetros de Caruaru, no agreste pernambucano.
A conversa dos donos da casa com os vizinhos era de que o clima já não seguia uma ordem. Outubro é período de seca na região e, de janeiro a março, quando deveria ter chovido muito, não choveu.
A plantação neste ano, disse José dos Santos, o Pelé, só foi possível no final de junho, período em que eles já deveriam estar colhendo mandioca, feijão e milho. Se não chover até dezembro, completou, sofrerão com a falta de água nos reservatórios.
Esse é um dos relatos que o coordenador do Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá, Carlos Magno, queria que o pequeno grupo ouvisse. Ele foi formado por representantes de institutos ambientais e de direitos humanos de diferentes regiões do país, filantropos da Suíça e de países em desenvolvimento, além de pesquisadores, jornalistas e comunicadores socioambientais.
Todos participaram da Caatinga Climate Week, evento que começou a ser idealizado por Magno em setembro do ano passado, durante a Climate Week de Nova York. Ele compareceu ao evento nos Estados Unidos em 2024 a convite da Rockefeller Foundation, mas neste ano decidiu fazer a própria semana do clima no semiárido.
Assim, de 1o e 4 de outubro, cerca de 110 pessoas se reuniram em Caruaru e percorreram quase 400 km pela caatinga. Segundo a organização, cerca de 500 participaram das atividades como um todo.
A intenção foi presenciar as mudanças climáticas, pautas como o impacto da energia eólica -que serão levadas para a COP30 em novembro- e, principalmente, as soluções de adaptação já encontradas por seus moradores.
"A Semana do Clima do mundo [em Nova York] reúne especialistas para falar e a da caatinga reúne especialistas para escutar", afirmou Magno na mesa de abertura do evento, que contou com as enviadas especiais da COP30 Janja Lula da Silva, Jurema Werneck e Denise Dora.
Os agricultores da comunidade de Serrote dos Bois, por exemplo, mostraram como conseguiram continuar com a agricultura mesmo com a seca cada vez maior.
Há 20 anos, eles passaram a investir na produção de mandioca, mais adaptada às temperaturas altas e resistente à falta de água. Antes, haviam perdido toda a plantação de batata inglesa devido à falta de chuva.
Já na cidade de Vertentes, José Severino de Lima, Cilene Luzinete e os dois filhos superaram a seca quando receberam uma cisterna de 16 mil litros para consumo próprio e outra de 52 mil litros para a produção agrícola. Também tiveram assistência técnica para cuidar do solo, do plantio, da colheita e para armazenar água e sementes.
Caatinga verde
Os organizadores tinham a ambição de construir um novo imaginário sobre o bioma -o de que ele pode ser verde, bonito e abundante conforme seu ciclo natural. Esse papel ficou sob responsabilidade dos indígenas e quilombolas.
A reportagem da Folha fez parte do grupo que visitou a terra indígena do povo xukuru do Ororubá, na serra da cidade de Pesqueira, que está sendo reflorestada. No último ano, foram plantadas 50 mil mudas nativas da caatinga.
"A caatinga também pode ser mata escura e refrigerada", diz o agrônomo Iran Xukuru, em referência ao significado do nome do bioma, que na tradução do tupi-guarani significa "mata branca". A mata vista no território Xukuru exibia tons de verde e fornecia frescor diante das altas temperaturas.
Durante a seca, a vegetação da caatinga deixa as folhas caírem, o que forma o conhecido visual "branco". Os indígenas, porém, ressaltam que as plantas estão apenas dormindo para guardar energia e logo voltam.
"Nós sempre somos vistos como um lugar de mulheres feias com seus maridos magros e crianças magras e feias. Não somos. Somos [um lugar] de beleza, de cultura e de conflito também", disse Elisa Pankararu, professora e antropóloga indígena.
Planeta em Transe
Uma newsletter com o que você precisa saber sobre mudanças climáticas
Em geral, a ideia de resistência do bioma apareceu repetidamente na fala de lideranças das comunidades tradicionais, além de pesquisadores e gestores públicos. Isso inclui o presidente Lula (PT), que enviou vídeo para o encerramento do evento.
"A caatinga é um bioma exclusivamente brasileiro, é coisa nossa. Berço de uma biodiversidade única e, longe de ser um território de escassez, é um laboratório vivo de resistência, adaptação e inovação climática", disse em vídeo de pouco mais de um minuto.
O reconhecimento do presidente, nascido no semiárido, levou a aplausos dos participantes da reunião, que incluía diferentes etnias indígenas, quilombolas e agricultores do agreste e do sertão nordestino. Mas as reclamações feitas durante os cinco dias de evento mostram que a sinalização não se traduz em políticas públicas.
Impacto das energias renováveis
Os participantes do evento ressaltaram conflitos como o impacto das companhias de energia renovável e da expansão do agronegócio sobre as comunidades tradicionais e o meio ambiente.
No terceiro dia da CCW, um grupo com cerca de 40 pessoas foi até o município de Caetés, cidade natal do presidente Lula, onde comunidades rurais vivem há quase uma década com turbinas eólicas nos quintais de suas casas.
"A gente tem uma grande dificuldade em falar o que está acontecendo, porque não acreditam", disse João do Vale, membro da CPT (Comissão Pastoral da Terra) que participa da iniciativa Escola dos Ventos. "Existe uma romantização tão grande do empreendimento eólico que na cabeça das pessoas não é possível que seja violento. Não é a tecnologia, mas o uso político violento dela".
Segundo o professor, a comunidade está adoecida devido ao barulho das turbinas. "As pessoas estão com depressão, ansiedade, síndrome do pânico, pressão alta, taquicardia", diz. "Crianças de 7 anos estão tomando remédio para dormir".
A condição da comunidade levou pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco a criarem o termo "síndrome da turbina eólica".
Já para conter o agronegócio, diferentes lideranças falaram sobre a necessidade de reconhecer a caatinga como patrimônio nacional -posto reservado à amazônia, mata atlântica e pantanal. Uma PEC (proposta de emenda à Constituição) tramita há mais de dez anos no Congresso para incluir a caatinga e o cerrado.
Indígenas e quilombolas pedem ainda a demarcação de suas terras. "Todo mundo sabe, e às vezes faz de conta que não, que nós somos guardiões dos territórios", disse Irailda Leandro, líder quilombola da Comunidade do Mundo Novo, em Buíque (PE).
Foram essas demandas que, ao final dos cinco dias, os catingueiros pediram que os participantes da semana do clima levassem à conferência da ONU sobre mudança climática. "Quem tiver a oportunidade de estar nesta tal de COP30, grite o mais alto que for necessário", disse a líder indígena Cícera Pankará.
A reportagem viajou a convite da organização do evento.
https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2025/10/caatinga-climate-week-ignora-eua-e-coloca-semiarido-no-centro-da-adaptacao-climatica.shtml
Resiliência do bioma e impacto das energias renováveis nas comunidades tradicionais foram mostradas a visitantes
deia do evento surgiu após participação na Semana do Clima em Nova York em 2024
Geovana Oliveira
Eduardo Knapp
Caruaru (PE)
10.out.2025 às 23h00
Chovia quando um grupo com cerca de 25 pessoas chegou na casa dos agricultores Maria José e Aloísio Barbosa, na comunidade Serrote dos Bois, a sete quilômetros de Caruaru, no agreste pernambucano.
A conversa dos donos da casa com os vizinhos era de que o clima já não seguia uma ordem. Outubro é período de seca na região e, de janeiro a março, quando deveria ter chovido muito, não choveu.
A plantação neste ano, disse José dos Santos, o Pelé, só foi possível no final de junho, período em que eles já deveriam estar colhendo mandioca, feijão e milho. Se não chover até dezembro, completou, sofrerão com a falta de água nos reservatórios.
Esse é um dos relatos que o coordenador do Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá, Carlos Magno, queria que o pequeno grupo ouvisse. Ele foi formado por representantes de institutos ambientais e de direitos humanos de diferentes regiões do país, filantropos da Suíça e de países em desenvolvimento, além de pesquisadores, jornalistas e comunicadores socioambientais.
Todos participaram da Caatinga Climate Week, evento que começou a ser idealizado por Magno em setembro do ano passado, durante a Climate Week de Nova York. Ele compareceu ao evento nos Estados Unidos em 2024 a convite da Rockefeller Foundation, mas neste ano decidiu fazer a própria semana do clima no semiárido.
Assim, de 1o e 4 de outubro, cerca de 110 pessoas se reuniram em Caruaru e percorreram quase 400 km pela caatinga. Segundo a organização, cerca de 500 participaram das atividades como um todo.
A intenção foi presenciar as mudanças climáticas, pautas como o impacto da energia eólica -que serão levadas para a COP30 em novembro- e, principalmente, as soluções de adaptação já encontradas por seus moradores.
"A Semana do Clima do mundo [em Nova York] reúne especialistas para falar e a da caatinga reúne especialistas para escutar", afirmou Magno na mesa de abertura do evento, que contou com as enviadas especiais da COP30 Janja Lula da Silva, Jurema Werneck e Denise Dora.
Os agricultores da comunidade de Serrote dos Bois, por exemplo, mostraram como conseguiram continuar com a agricultura mesmo com a seca cada vez maior.
Há 20 anos, eles passaram a investir na produção de mandioca, mais adaptada às temperaturas altas e resistente à falta de água. Antes, haviam perdido toda a plantação de batata inglesa devido à falta de chuva.
Já na cidade de Vertentes, José Severino de Lima, Cilene Luzinete e os dois filhos superaram a seca quando receberam uma cisterna de 16 mil litros para consumo próprio e outra de 52 mil litros para a produção agrícola. Também tiveram assistência técnica para cuidar do solo, do plantio, da colheita e para armazenar água e sementes.
Caatinga verde
Os organizadores tinham a ambição de construir um novo imaginário sobre o bioma -o de que ele pode ser verde, bonito e abundante conforme seu ciclo natural. Esse papel ficou sob responsabilidade dos indígenas e quilombolas.
A reportagem da Folha fez parte do grupo que visitou a terra indígena do povo xukuru do Ororubá, na serra da cidade de Pesqueira, que está sendo reflorestada. No último ano, foram plantadas 50 mil mudas nativas da caatinga.
"A caatinga também pode ser mata escura e refrigerada", diz o agrônomo Iran Xukuru, em referência ao significado do nome do bioma, que na tradução do tupi-guarani significa "mata branca". A mata vista no território Xukuru exibia tons de verde e fornecia frescor diante das altas temperaturas.
Durante a seca, a vegetação da caatinga deixa as folhas caírem, o que forma o conhecido visual "branco". Os indígenas, porém, ressaltam que as plantas estão apenas dormindo para guardar energia e logo voltam.
"Nós sempre somos vistos como um lugar de mulheres feias com seus maridos magros e crianças magras e feias. Não somos. Somos [um lugar] de beleza, de cultura e de conflito também", disse Elisa Pankararu, professora e antropóloga indígena.
Planeta em Transe
Uma newsletter com o que você precisa saber sobre mudanças climáticas
Em geral, a ideia de resistência do bioma apareceu repetidamente na fala de lideranças das comunidades tradicionais, além de pesquisadores e gestores públicos. Isso inclui o presidente Lula (PT), que enviou vídeo para o encerramento do evento.
"A caatinga é um bioma exclusivamente brasileiro, é coisa nossa. Berço de uma biodiversidade única e, longe de ser um território de escassez, é um laboratório vivo de resistência, adaptação e inovação climática", disse em vídeo de pouco mais de um minuto.
O reconhecimento do presidente, nascido no semiárido, levou a aplausos dos participantes da reunião, que incluía diferentes etnias indígenas, quilombolas e agricultores do agreste e do sertão nordestino. Mas as reclamações feitas durante os cinco dias de evento mostram que a sinalização não se traduz em políticas públicas.
Impacto das energias renováveis
Os participantes do evento ressaltaram conflitos como o impacto das companhias de energia renovável e da expansão do agronegócio sobre as comunidades tradicionais e o meio ambiente.
No terceiro dia da CCW, um grupo com cerca de 40 pessoas foi até o município de Caetés, cidade natal do presidente Lula, onde comunidades rurais vivem há quase uma década com turbinas eólicas nos quintais de suas casas.
"A gente tem uma grande dificuldade em falar o que está acontecendo, porque não acreditam", disse João do Vale, membro da CPT (Comissão Pastoral da Terra) que participa da iniciativa Escola dos Ventos. "Existe uma romantização tão grande do empreendimento eólico que na cabeça das pessoas não é possível que seja violento. Não é a tecnologia, mas o uso político violento dela".
Segundo o professor, a comunidade está adoecida devido ao barulho das turbinas. "As pessoas estão com depressão, ansiedade, síndrome do pânico, pressão alta, taquicardia", diz. "Crianças de 7 anos estão tomando remédio para dormir".
A condição da comunidade levou pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco a criarem o termo "síndrome da turbina eólica".
Já para conter o agronegócio, diferentes lideranças falaram sobre a necessidade de reconhecer a caatinga como patrimônio nacional -posto reservado à amazônia, mata atlântica e pantanal. Uma PEC (proposta de emenda à Constituição) tramita há mais de dez anos no Congresso para incluir a caatinga e o cerrado.
Indígenas e quilombolas pedem ainda a demarcação de suas terras. "Todo mundo sabe, e às vezes faz de conta que não, que nós somos guardiões dos territórios", disse Irailda Leandro, líder quilombola da Comunidade do Mundo Novo, em Buíque (PE).
Foram essas demandas que, ao final dos cinco dias, os catingueiros pediram que os participantes da semana do clima levassem à conferência da ONU sobre mudança climática. "Quem tiver a oportunidade de estar nesta tal de COP30, grite o mais alto que for necessário", disse a líder indígena Cícera Pankará.
A reportagem viajou a convite da organização do evento.
https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2025/10/caatinga-climate-week-ignora-eua-e-coloca-semiarido-no-centro-da-adaptacao-climatica.shtml
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