From Indigenous Peoples in Brazil
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News
A exclusão que já não é notícia
25/02/2005
Autor: KISCHINHEVSKY, Marcelo
Fonte: JB, País, p. A6
A exclusão que já não é notícia
Marcelo Kischinhevsky
De acordo com a lógica dos manuais de jornalismo, o tsunami que devastou o litoral asiático e deixou mais de 250 mil mortos é notícia de primeira. Não é toda hora que se morre num maremoto, ainda mais num resort de luxo numa praia paradisíaca. A desnutrição de centenas de milhares de crianças no interior do Brasil, no entanto, está longe de ter o mesmo apelo para a imprensa.
Chama a atenção o espaço modestíssimo dedicado à internação de crianças famintas no Mato Grosso do Sul. Todas vindas das aldeias de Bororó e Jaguapiru, na reserva indígena de Dourados. Num momento em que a discussão sobre o excesso de peso das garotas de Ipanema toma conta da mídia, é aterrador confirmar que o morticínio de bebês desnutridos comove quase ninguém, por deixar de atender às exigências de ineditismo e imagens plásticas impactantes - só para usar um neologismo do dialeto economês.
Descendentes dos primeiros habitantes das Américas, assim como os afro-brasileiros, sofreram com o descaso das autoridades durante séculos. Enfrentaram os opressores ora com bravura, ora com táticas de conciliação ou submissão aparente. Muitos se deixaram absorver pela sociedade branca implantada pelos europeus.
Hoje, no entanto, parte começa a reconhecer sua etnicidade, declarando-se negro ou índio aos institutos de pesquisas. Basicamente porque o abismo social determinado pela cor permanece à flor da pele.
Afirmar-se como minoria, num momento em que a desigualdade e o racismo despertam remorso na elite branca da Zona Sul, constitui hábil estratégia de sobrevivência e ascensão social. Mas ainda resta insuficiente.
Estudo do economista Jonas Zoninsein, professor da Universidade de Michigan, mostra que a plena educação de afrodescendentes e indígenas e a equiparação de seus rendimentos aos dos brancos que desempenham as mesmas funções proporcionariam ao Brasil um crescimento imediato de 12,8%. Seria algo como mais R$ 200 bilhões circulando pela economia. O trabalho foi publicado no livro Inclusão social e desenvolvimento econômico na América Latina (Ed. Campus), patrocinado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Com números, expõe a exclusão que já não é notícia. E retrata a utopia de uma nação integrada, sem discriminação étnica.
JB, 25/02/2005, País, p. A2
Marcelo Kischinhevsky
De acordo com a lógica dos manuais de jornalismo, o tsunami que devastou o litoral asiático e deixou mais de 250 mil mortos é notícia de primeira. Não é toda hora que se morre num maremoto, ainda mais num resort de luxo numa praia paradisíaca. A desnutrição de centenas de milhares de crianças no interior do Brasil, no entanto, está longe de ter o mesmo apelo para a imprensa.
Chama a atenção o espaço modestíssimo dedicado à internação de crianças famintas no Mato Grosso do Sul. Todas vindas das aldeias de Bororó e Jaguapiru, na reserva indígena de Dourados. Num momento em que a discussão sobre o excesso de peso das garotas de Ipanema toma conta da mídia, é aterrador confirmar que o morticínio de bebês desnutridos comove quase ninguém, por deixar de atender às exigências de ineditismo e imagens plásticas impactantes - só para usar um neologismo do dialeto economês.
Descendentes dos primeiros habitantes das Américas, assim como os afro-brasileiros, sofreram com o descaso das autoridades durante séculos. Enfrentaram os opressores ora com bravura, ora com táticas de conciliação ou submissão aparente. Muitos se deixaram absorver pela sociedade branca implantada pelos europeus.
Hoje, no entanto, parte começa a reconhecer sua etnicidade, declarando-se negro ou índio aos institutos de pesquisas. Basicamente porque o abismo social determinado pela cor permanece à flor da pele.
Afirmar-se como minoria, num momento em que a desigualdade e o racismo despertam remorso na elite branca da Zona Sul, constitui hábil estratégia de sobrevivência e ascensão social. Mas ainda resta insuficiente.
Estudo do economista Jonas Zoninsein, professor da Universidade de Michigan, mostra que a plena educação de afrodescendentes e indígenas e a equiparação de seus rendimentos aos dos brancos que desempenham as mesmas funções proporcionariam ao Brasil um crescimento imediato de 12,8%. Seria algo como mais R$ 200 bilhões circulando pela economia. O trabalho foi publicado no livro Inclusão social e desenvolvimento econômico na América Latina (Ed. Campus), patrocinado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Com números, expõe a exclusão que já não é notícia. E retrata a utopia de uma nação integrada, sem discriminação étnica.
JB, 25/02/2005, País, p. A2
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