From Indigenous Peoples in Brazil

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Ônibus grátis garante público em festa de Marta

29/05/2004

Fonte: OESP, Nacional, p.A13



Ônibus grátis garante público em festa de Marta
Iniciativa foi de empresários, diz SPTrans; Tatto e subprefeito negam ter participado
SILVIA AMORIM

Nove ônibus do sistema de transporte coletivo da Prefeitura foram usados ontem para levar moradores para a inauguração de dois Centros de Educação e Cultura Indígena (Cecis) - espécie de CEUs para a população indígena - das aldeias guaranis Tenonde Porã e Krukutu, em Parelheiros, no extremo sul da capital, com a participação da prefeita Marta Suplicy (PT).
Cerca de 300 pessoas chegaram nos ônibus. Algumas nem sabiam o motivo da comemoração.
A organização da "excursão" teria sido de líderes comunitários, que se disseram ligados ao presidente da Câmara, Arselino Tatto (PT), cuja influência política é forte na região. "Todo mundo lutou por isso aqui (os centros). É momento de festejar e cobrar também", contou Ester Fernandes de Souza, que coordenou uma das caravanas e disse trabalhar para o vereador.
Rádio comunitária - Anúncios divulgados por rádios comunitárias ajudaram a recrutar os moradores para a inauguração. "No rádio estava dizendo que quem quisesse ver a Marta era só chegar cedo na subprefeitura. Um ônibus ia sair de lá de graça", disse Ione Bernadete Martins, de 37 anos. O motorista de ônibus Carolino Alves Correia, que trabalha em uma das empresas que liberaram ônibus para a inauguração, contou que recebeu a tarefa na garagem da viação. "O gerente falou que eu tinha de trazer o pessoal para a aldeia para um evento da Prefeitura."
Reserva técnica - A SPTrans, que administra o transporte coletivo na cidade, informou que os ônibus usados para levar pessoas à inauguração são da reserva técnica, assim como os motoristas, e não houve prejuízos no atendimento à população. Segundo a empresa, a liberação dos veículos foi iniciativa dos empresários. Arselino Tatto e o subprefeito de Parelheiros, Carlos Henrique Pires, negaram ter relação com o episódio.
Na inauguração das escolas, que só vão atender as crianças da aldeia, nenhuma reivindicação ou cobrança foi feita à prefeita. Pelo contrário, a platéia era só aplausos a Marta que, ao lado do marido, Luís Favre, chegou de helicóptero, recebeu homenagens, fez breve discurso ressaltando a grande dívida do País para com o povo indígena e saiu sem dar entrevistas.
"Hoje começa um resgate de 500 anos de dívida da nossa nação para com os índios", afirmou Marta. Sua visita durou cerca de duas horas.

Prefeita vai de helicóptero e não vê pobreza do lugar
Ruas esburacadas e malsinalizadas, adultos e crianças se aventurando em vias sem calçadas, ônibus velhos e congestionamentos. A ida de helicóptero a uma das regiões mais pobres da cidade impediu que a prefeita Marta Suplicy (PT) conferisse ontem a realidade nada animadora de quem vive em Parelheiros, uma das áreas mais pobres do extremo sul da cidade.
Por ironia, a viagem também poupou a petista de ver de perto as mudanças - para melhor - que as obras de um corredor de ônibus, bandeira de campanha do atual governo, estão trazendo à região. São mais de dez quilômetros de vias com novo asfalto.
"A gente queria ver a Marta pisando aqui no bairro. Eu só a conheço de nome", disse Elione Silva da Cruz, 38 anos, moradora de um bairro vizinho a uma aldeia indígena onde a petista inaugurou ontem duas escolas.
Do centro da cidade até o local do evento, Marta levou cerca de 20 minutos, situação bem diferente da de milhares de paulistanos que chegam a levar cerca de três horas dentro de um ônibus - na maioria das vezes em péssimo estado de conservação - para atravessar a cidade.
"Lá no centro as coisas estão uma maravilha. Elas só podiam vir um pouquinho mais pra esses lados. Estamos abandonados", lamentou Elione. (S.A.)

OESP, 29/05/2004, p. A13.
 

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