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Administrador da Funai diz que há desvios

31/05/2006

Fonte: O Liberal



Administrador da Funai diz que há desvios

O administrador da Funai em Belém, Moacir Melo, ganhou da presidência do órgão vários abacaxis para descascar. Eles vieram embrulhados com a criação de uma coordenação, para, além da unidade do órgão na capital paraense, orientar o trabalho das outras administrações espalhadas pelo Pará (Altamira, Marabá, Itaituba e Redenção e um núcleo de apoio em Tucumã) e pelo Amapá (Macapá e Oiapoque).

O abacaxi mais espinhoso veio da Administração de Redenção, onde Moacir Melo constatou que os índios kaiapós estão vivendo 'abaixo da linha da pobreza'.

Os índios informaram ao administrador da Funai que as vendas no comércio são superfaturadas e que funcionários do órgão possuem fazendas e são donos de academias e de outras propriedades no município.

Para botar a casa em ordem, Moacir Melo busca parcerias com outros órgãos da administração pública e organizações não-governamentais, já que os recursos da Funai são insuficientes. Mesmo assim, ele admite que o dinheiro é mal administrado. Acompanhe a entrevista concedida a O LIBERAL.

Por que os índios kaiapós chegaram ao fundo do poço?

Vários fatores contribuíram para isso. O principal deles foi a falta de um projeto acompanhado de perto pela Funai, com alternativas de geração de renda. Nunca vi uma situação dessas, abaixo da linha de miséria, índios jogados no chão ao lado de esgotos. A culpa é da própria Funai.

Os kaiapós estão na penúria. Há recursos e competência para reverter o quadro?

É esse o nosso desafio. Os recursos da Funai não são suficientes. A Presidência (do órgão) já foi informada. Por isso, estamos buscando parcerias com outros órgãos oficiais e organizações não-governamentais. Mas é preciso admitir que os recursos disponíveis não são bem administrados. Pelo contrário. Segundo os índios, as vendas para a Funai são superfaturadas, o que torna a dívida gigantesca, e há funcionários que compraram fazendas e são donos de academia em Redenção, onde estariam construindo mansões.

A Funai aprova que parte deles continue vendendo madeira, apesar de o dinheiro não ser revertido para beneficiar todos os índios?

Não aprova. Por isso, vamos fazer um trabalho de conscientização, mostrando que venda de madeira, além de ilegal, não resolve o problema.

É notório que a Funai é um órgão pouco prestigiado pelo governo federal. Há, fora do governo, pessoas ou organizações dispostas a investir no bem-estar dos índios?

Já fizemos alguns contatos com ONGs e a receptividade foi boa. Mas a Funai precisa se organizar melhor para que esse tipo de parceria vingue. Também com outros órgãos das administrações federal, estadual e municipal.

Como funciona a nova estrutura da Funai em Belém, que coordena as atividades das outras administrações espalhadas pelo Pará e pelo Amapá?

O grosso de nosso trabalho é na Administração de Belém. Nas outras (do Pará e Amapá), vamos apenas coordenar, sugerir ações e dar suporte, pelo fato da Administração de Belém estar localizada na capital.

A Funai (Brasília) vai destinar recursos suficientes para a nova estrutura?

No momento, os recursos são escassos. E estamos preocupados com isso.

Os kaiapós são índios guerreiros. O senhor não teme que eles façam alguma ação em Redenção ou aprisionem funcionários da Funai?

Tudo é possível. Por isso, estamos nos antecipando para evitar o pior.

Que mudanças o senhor fez na Administração de Redenção?

Primeiro, nomeamos, a pedido das comunidades indígenas kaiapó, o índio Moikô Kaiapó como administrador e dois interventores - Salomão Santos, que já foi administrador e superintendente da Funai em Belém, e Paulo Sérgio Brabo, que ainda está na ativa. Uma auditoria interna vai averiguar todas as acusações feitas pelos índios contra funcionários da Administração de Redenção.

O Liberal, 31/05/2006
 

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