From Indigenous Peoples in Brazil

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Índios questionam atuação da Funasa

28/02/2007

Autor: Andréa Zílio

Fonte: Página 20




A equipe de seis pessoas da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) que foi detida na última segunda-feira na aldeia Nova Esperança, no rio Gregório, pelos ínidos yawanawá, continua no local. Segundo o cacique Biraci Brasil, eles serão liberados somente ao concluírem trabalhos e se a Funasa propuser manter o diálogo sobre os problemas e insatisfações na saúde indígena depois da primeira reunião, que acontece hoje.

Biraci se encontra hoje à tarde, em Rio Branco, com o coordenador da Funasa, José Carlos, e o secretário de Povos Indígenas, Francisco Pinhanta, para discutir o assunto. Mas antes mesmo do encontro, eles anunciam que na próxima segunda-feira haverá uma reunião maior, com todas as lideranças indígenas, para discutir a saúde indígena no Acre. Um momento para que as insatisfações sejam ditas e ouvidas.

E foi exatamente a insatisfação que abalou a política cordial de que sempre se orgulharam os representantes de Estado, a Funasa e as próprias lideranças indígenas. Biraci diz que fala em nome de seu povo, que soma mais de 600 pessoas, sobre o desrespeito com a saúde indígena não só no Acre, mas em todo o Brasil, e que isso é um problema de muito tempo.

"Decidimos manter a equipe na aldeia para que fizessem o trabalho que estava incompleto e para agilizar a conversa com a Funasa sobre a saúde indígena. A equipe vai continuar com a gente quando terminar o que está fazendo. Se a Funasa continuar com o diálogo eles voltam", diz Biraci.

O coordenador do Pólo Base da Funasa em Tarauacá, Valdeusmar Torquato, foi enviado à aldeia com a tarefa de visitar a equipe e transferir uma criança doente para o hospital de Tarauacá. Mas, segundo o cacique, a equipe está sendo bem tratada, atuando em atividades normais que estão acostumada a realizar nas aldeias.

Depois de conversar por telefone com o secretário Francisco, Biraci conta à equipe do Página 20 que acredita no entendimento e que Funasa e a Secretaria dos Povos Indígenas vão manter o diálogo sobre o assunto, inclusive intensificando a discussão com a reunião de segunda-feira com outras lideranças. Isso mostra que o objetivo do povo yawanawá foi alcançado: atenção para falar das insatisfações na saúde indígena.

"Somos um povo cordial e não gostamos de confusão. Em toda minha vida fui mediador entre meu povo e o mundo branco, agora representando meu povo nessa atitude para exigir essa discussão. A saúde indígena é específica e tem que se adaptar à realidade do índio. Queremos que esse assunto seja discutido de forma limpa, clara, com soluções", comenta o cacique, que diz ter o apoio da Organização dos Povos Indígenas de Tarauacá.

Já o secretário Francisco Pinhanta quer recuperar o caminho tranqüilo das conversas. Ele diz que sua secretaria trabalha para que casos como esse não interfiram numa relação institucional entre Estado e povos indígenas. Diz ainda que esse caminho não é a ponte para o diálogo e que o governo que inicia este ano mantém a posição de estar sempre aberto para discutir junto os problemas e caminhar na busca por soluções.

"A atitude na aldeia foi uma surpresa, mas vale a pena ver o que está acontecendo para poder fazer uma avaliação. A atitude é bem particular do povo. Trata-se da saúde, e nos colocamos a disposição, continuamos abertos ao diálogo."

Insatisfação dá uma pausa no diálogo

O cacique Biraci diz que muita coisa mudou na saúde indígena, mas ainda existe um desrespeito, e muitas vezes, até mesmo preconceito. As insatisfações de seu povo são várias, garante, e muitas vezes fazem por conta própria melhorias que a Funasa nem fica sabendo, mas isso não é solução quando há verbas específicas para serem usadas. Portanto, alega descaso tanto da Funasa quanto das prefeituras.

Atualmente, segundo o coordenador da Funasa, José Carlos, o Ministério da Saúde repassa cerca de R$ 12 milhões anuais para as prefeituras do Acre trabalharem a saúde indígena, e a Funasa participa com a autonomia de apenas acompanhar a execução do recurso e na escolha de técnicos que são contratados pelos municípios. O dinheiro atende uma média de 200 aldeias, de 14 etnias. "Estamos trabalhando um planejamento financeiro junto aos municípios para dar mais transparência ao uso do recurso", diz José Carlos.

Ele afirma ainda que a verba da Funasa para compra de insumos, equipamentos, medicamentos e outros gastos é em média de R$ 4 milhões por ano para o distrito do Alto Purus e o mesmo valor para o distrito do Alto Acre.

Momento de corrigir erros

Biraci Brasil reforça a insatisfação de seu povo dando exemplos dos casos de diarréia e vômito que acontecem todos os anos na aldeia, e o serviço é sempre de diagnosticar a crise, e não preventivo a ela. José Carlos reconhece falha na saúde indígena alegando que a Funasa enfrenta grande problema por capacitar técnicos com contratos provisórios, e eles logo se afastam, por isso está tentando junto às prefeituras, prolongar essas contratações.

"Os índios são de outra cultura do branco, a saúde tem de ser trabalhada levando isso em consideração. Estamos inseridos num modelo tendo que se adaptar ao branco, quando devia ser de acordo com nossa realidade, do contrário, perdemos a essência de ser um povo indígena", desabafa Biraci.

O secretário Pinhanta garante que na reunião de segunda-feira a Funasa começa o trabalho que já tinha agendado, de conversar com lideranças indígenas para falar de seu planejamento e ouvir as opiniões de cada povo. E segunda-feira começa o evento que amplia a discussão. "Não é só o povo Yawanawá, todos os municípios estão discutindo a saúde indígena, e isso estava planejada para acontecer, foi antecipada por conta desse fato dos Yawanawá".

O cacique Biraci diz que o Acre avançou quando conseguiu realizar um Governo que nenhum outro Estado brasileiro fez, em relação a política indígena, mas adverte que agora essa oportunidade tem de ser aproveitada, portanto, esse é um momento de corrigir erros, melhorar a saúde, a educação, e resolver a questão da demarcação de território.
 

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