From Indigenous Peoples in Brazil
News
Uma aventura profissional na terra ianomâmi
08/12/2002
Autor: MAURA CAMPANILI
Fonte: Estado de S. Paulo-São Paulo-SP
Médicos, economista, fotógrafo e professor iniciam projeto na maior comunidade desses índios
Ianomâmis do Alto Rio Negro: ortopedista busca parceria para desenvolver projeto na comunidade
Uma viagem de aventura de amigos pode resultar em um projeto de cooperação de longo prazo entre médicos paulistas e uma comunidade ianomâmi do Alto Rio Negro. A expedição, realizada durante 20 dias em novembro, reuniu três ortopedistas, um anestesista, um fotógrafo, um economista e um professor de educação física, com idade entre 37 e 50 anos.
O objetivo era alcançar o Pico da Neblina, próximo às fronteiras com Venezuela e Colômbia. Mas, na bagagem, além dos apetrechos para enfrentar a mata, seguiram 250 quilos de remédios e a disposição de conhecer e colaborar, em suas especialidades, com os índios de Maturacá, a maior comunidade ianomâmi no Amazonas.
Idealizador da viagem, o ortopedista Ricardo Affonso Ferreira passou sete meses organizando-a, desde roteiro e infra-estrutura até as autorizações para visitar a terra indígena e a lista de medicamentos que deveriam levar, obtida com a organização não-governamental Urihi, responsável pela saúde dos ianomâmis no Estado vizinho, Roraima. "Sempre quis conhecer esse pedaço quase paradisíaco da Amazônia, mas aliando a um trabalho voluntário, que me permitisse entrar em contato com esse povo."
Outro objetivo de Ferreira é realizar uma pesquisa sobre patologias referentes a luxação congênita de quadris, pé torto congênito, escoliose e encurtamento de braços e pernas. "O estudo seria uma avaliação clínica da comunidade e, depois, a comparação dos resultados com a incidência dessas doenças na população mundial", disse.
Segundo ele, esse projeto está, porém, em "fase de namoro". "Desde os primeiros contatos com o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Sanitário (IBDS), organização social responsável pela saúde da comunidade, percebi que havia outras prioridades a ser atendidas."
Nação forte - Localizada em área de sobreposição ao Parque Nacional da Neblina, Maturacá fica a cerca de 350 km do município de São Gabriel da Cachoeira, distância percorrida em cerca de seis horas de carro e dois dias de barco. "É uma das maiores concentrações de ianomâmis, que normalmente vivem em comunidades de umas cem pessoas. Até pouco tempo, a população local era de cerca de 500 pessoas, mas com a melhoria no atendimento médico básico a mortalidade infantil caiu drasticamente e hoje somam 1.250 pessoas."
Ferreira explica que esses cuidados, principalmente com a malária e a tuberculose, não são suficientes para melhorar a qualidade de vida dos índios. "Com o aumento da população, vem também o aumento da pobreza e das demandas. Apesar de formarem uma nação fortíssima, há problemas que precisam ser resolvidos para que a população não empobreça e perca sua identidade."
Entre esses problemas estão a falta de higiene e a desnutrição. "Há poucas hortas e chegamos a encontrar crianças com os cabelos claros, que no caso de uma população indígena isolada é sinal de problemas nutricionais."
Apesar de ter conseguido as autorizações e contar com o apoio do titular da missão católica em São Gabriel, os primos Ricardo, Martin e Henrique Affonso Ferreira, mais os amigos Patrick de Nadau, Eurico Campos, Jorge Abud, de Campinas, e o neozelandês Gordon Hawie levaram tempo para ganhar a confiança dos índios e responsáveis do IBDS. "Essa superproteção é razoável, mas conseguimos vencer as barreiras e passar dois dias, na volta do Pico da Neblina, examinando seus problemas ortopédicos."
Jorge Abud/Divulgação
Grupo no Pico da Neblina: aliando aventura e trabalho voluntário
Foram diagnosticados casos de cirurgia e de fisioterapia. Entre os mais graves estavam a seqüela de fratura exposta de tornozelo em um rapaz e uma bioartrite de quadril em uma moça de 16 anos, com dificuldade de locomoção.
"Selecionei quatro casos para operar em São Gabriel da Cachoeira. Visitamos o hospital de lá, que é muito bem equipado e cuidado pelo Exército. Pretendo levar daqui as placas, parafusos, tudo o que for preciso, e uma equipe, com anestesista e instrumentadora, para me acompanhar."
Para viabilizar esse projeto, Ferreira está conversando com possíveis parceiros, como a Unimed de Campinas e o laboratório Medley, que doou os medicamentos levados na excursão. A intenção é obter recursos para bancar duas viagens por ano de médicos de várias especialidades para realizar cirurgias e colaborar com outras necessidades, entre elas promover cursos para os cerca de 15 agentes de saúde da comunidade. Outra preocupação é ajudar a equipar a escola, mantida por salesianos, e dar alternativas de sobrevivência aos índios, abrindo canais para a venda de artesanato.
"Maturacá conta com um médico e uma enfermeira, mas sua área de atuação é grande e eles circulam bastante. Para chegar a uma aldeia chamada Umaiá, por exemplo, precisam andar dois dias de barco e um a pé." Essa deficiência foi sentida pelos médicos da expedição, que tiveram de atender um rapaz com cortes profundos causados por uma briga.
Proteção - A população dos ianomâmis, nos dois lados da fronteira Brasil-Venezuela, é estimada em 26 mil pessoas. No Brasil, são cerca de 12.800, em 228 comunidades no Amazonas e em Roraima. A Terra Indígena Ianomâmi, reconhecida em 1992, cobre 96 mil km2 de floresta tropical e tem alta relevância para proteção da biodiversidade amazônica.
Formada por caçadores-agricultores, a sociedade ianomâmi tem na expansão garimpeira sua maior ameaça. Segundo a Urihi, os cerca de 400 a 800 garimpeiros nas terras ianomâmis estão tendo relações sexuais com as índias, distribuindo munição e estimulando conflitos entre as aldeias. Além disso, quase 60% de seu território está coberto por requerimentos e títulos minerários registrados no Departamento Nacional de Produção Mineral.
Ianomâmis do Alto Rio Negro: ortopedista busca parceria para desenvolver projeto na comunidade
Uma viagem de aventura de amigos pode resultar em um projeto de cooperação de longo prazo entre médicos paulistas e uma comunidade ianomâmi do Alto Rio Negro. A expedição, realizada durante 20 dias em novembro, reuniu três ortopedistas, um anestesista, um fotógrafo, um economista e um professor de educação física, com idade entre 37 e 50 anos.
O objetivo era alcançar o Pico da Neblina, próximo às fronteiras com Venezuela e Colômbia. Mas, na bagagem, além dos apetrechos para enfrentar a mata, seguiram 250 quilos de remédios e a disposição de conhecer e colaborar, em suas especialidades, com os índios de Maturacá, a maior comunidade ianomâmi no Amazonas.
Idealizador da viagem, o ortopedista Ricardo Affonso Ferreira passou sete meses organizando-a, desde roteiro e infra-estrutura até as autorizações para visitar a terra indígena e a lista de medicamentos que deveriam levar, obtida com a organização não-governamental Urihi, responsável pela saúde dos ianomâmis no Estado vizinho, Roraima. "Sempre quis conhecer esse pedaço quase paradisíaco da Amazônia, mas aliando a um trabalho voluntário, que me permitisse entrar em contato com esse povo."
Outro objetivo de Ferreira é realizar uma pesquisa sobre patologias referentes a luxação congênita de quadris, pé torto congênito, escoliose e encurtamento de braços e pernas. "O estudo seria uma avaliação clínica da comunidade e, depois, a comparação dos resultados com a incidência dessas doenças na população mundial", disse.
Segundo ele, esse projeto está, porém, em "fase de namoro". "Desde os primeiros contatos com o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Sanitário (IBDS), organização social responsável pela saúde da comunidade, percebi que havia outras prioridades a ser atendidas."
Nação forte - Localizada em área de sobreposição ao Parque Nacional da Neblina, Maturacá fica a cerca de 350 km do município de São Gabriel da Cachoeira, distância percorrida em cerca de seis horas de carro e dois dias de barco. "É uma das maiores concentrações de ianomâmis, que normalmente vivem em comunidades de umas cem pessoas. Até pouco tempo, a população local era de cerca de 500 pessoas, mas com a melhoria no atendimento médico básico a mortalidade infantil caiu drasticamente e hoje somam 1.250 pessoas."
Ferreira explica que esses cuidados, principalmente com a malária e a tuberculose, não são suficientes para melhorar a qualidade de vida dos índios. "Com o aumento da população, vem também o aumento da pobreza e das demandas. Apesar de formarem uma nação fortíssima, há problemas que precisam ser resolvidos para que a população não empobreça e perca sua identidade."
Entre esses problemas estão a falta de higiene e a desnutrição. "Há poucas hortas e chegamos a encontrar crianças com os cabelos claros, que no caso de uma população indígena isolada é sinal de problemas nutricionais."
Apesar de ter conseguido as autorizações e contar com o apoio do titular da missão católica em São Gabriel, os primos Ricardo, Martin e Henrique Affonso Ferreira, mais os amigos Patrick de Nadau, Eurico Campos, Jorge Abud, de Campinas, e o neozelandês Gordon Hawie levaram tempo para ganhar a confiança dos índios e responsáveis do IBDS. "Essa superproteção é razoável, mas conseguimos vencer as barreiras e passar dois dias, na volta do Pico da Neblina, examinando seus problemas ortopédicos."
Jorge Abud/Divulgação
Grupo no Pico da Neblina: aliando aventura e trabalho voluntário
Foram diagnosticados casos de cirurgia e de fisioterapia. Entre os mais graves estavam a seqüela de fratura exposta de tornozelo em um rapaz e uma bioartrite de quadril em uma moça de 16 anos, com dificuldade de locomoção.
"Selecionei quatro casos para operar em São Gabriel da Cachoeira. Visitamos o hospital de lá, que é muito bem equipado e cuidado pelo Exército. Pretendo levar daqui as placas, parafusos, tudo o que for preciso, e uma equipe, com anestesista e instrumentadora, para me acompanhar."
Para viabilizar esse projeto, Ferreira está conversando com possíveis parceiros, como a Unimed de Campinas e o laboratório Medley, que doou os medicamentos levados na excursão. A intenção é obter recursos para bancar duas viagens por ano de médicos de várias especialidades para realizar cirurgias e colaborar com outras necessidades, entre elas promover cursos para os cerca de 15 agentes de saúde da comunidade. Outra preocupação é ajudar a equipar a escola, mantida por salesianos, e dar alternativas de sobrevivência aos índios, abrindo canais para a venda de artesanato.
"Maturacá conta com um médico e uma enfermeira, mas sua área de atuação é grande e eles circulam bastante. Para chegar a uma aldeia chamada Umaiá, por exemplo, precisam andar dois dias de barco e um a pé." Essa deficiência foi sentida pelos médicos da expedição, que tiveram de atender um rapaz com cortes profundos causados por uma briga.
Proteção - A população dos ianomâmis, nos dois lados da fronteira Brasil-Venezuela, é estimada em 26 mil pessoas. No Brasil, são cerca de 12.800, em 228 comunidades no Amazonas e em Roraima. A Terra Indígena Ianomâmi, reconhecida em 1992, cobre 96 mil km2 de floresta tropical e tem alta relevância para proteção da biodiversidade amazônica.
Formada por caçadores-agricultores, a sociedade ianomâmi tem na expansão garimpeira sua maior ameaça. Segundo a Urihi, os cerca de 400 a 800 garimpeiros nas terras ianomâmis estão tendo relações sexuais com as índias, distribuindo munição e estimulando conflitos entre as aldeias. Além disso, quase 60% de seu território está coberto por requerimentos e títulos minerários registrados no Departamento Nacional de Produção Mineral.
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