From Indigenous Peoples in Brazil

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Crise financeira afeta kayapós

22/07/2009

Autor: Flávio Bonanome

Fonte: Amazonia.org.br - http://www.amazonia.org.br



Índios Kayapós da reserva do Baú enfrentam grandes dificuldades para comercializar produtos tradicionais no mercado formal

A falta de produtos oriundos da floresta Amazônica no mercado brasileiro já não é novidade e, com a atual crise financeira, essa comercialização tende a ser ainda mais difícil. É o caso dos índios Kaypós da terra indígena do Baú, sudeste do Pará. Já há quatro anos com um bem-sucedido projeto de produção de óleo de castanha, os indígenas enfrentam desde 2007 um grande problema para encontrar compradores.

A idéia inicial do projeto surgiu em 2005 com o intuito de produzir comercialmente a extração do óleo de castanha, atividade tradicional dos indígenas, para a indústria de cosméticos. Com uma produção de quatro toneladas por safra certificada pelo selo FSC não foi difícil encontrar compradores.

Porém, esse contexto mudou quando a empresa Beraca de cosméticos, que havia se comprometido a comprar toda a produção dos Kayapós, adquiriu somente 35% da produção. A justificativa da empresa foi a existência de um cenário financeiro ruim.

Luis Sampaio, funcionário da Fundação Nacional do Índio e coordenador do projeto de comercialização do óleo na reserva do Baú, explica que a situação agravou-se ainda mais em 2008, quando a atual crise financeira mundial ficou mais grave. "Entramos em 2008 com 2,5 toneladas em estoque, batalhando de todos os lados para vendê-lo. Em março agora, a gente mandou fazer uma nova análise do óleo, pois ficamos desconfiados que o óleo já estivesse estragando".

O resultado foi exatamente este: a estocagem por longo período aumentou a acidez do óleo, tornando-o inviável para a indústria de cosméticos. "Os índios ficaram muito tristes, queriam jogar o óleo fora, mas com muito custo vendemos para a indústria de biodiesel. Estávamos acostumados a vender o quilo do óleo R$ 35, para o biodiesel não passou de R$ 1,25", explica Sampaio.

Apesar da experiência negativa, a comunidade não desistiu da produção. "É claro que a comunidade ficou muito desanimada com os problemas de comercialização, mas estamos dispostos a trabalhar de novo na produção do óleo, porque é uma atividade que vale a pena", explica Kori Kayapó um dos envolvidos na produção do óleo. Segundo Kori, a comunidade encontra-se agora num estágio de readaptação do negócio, buscando primeiro o diálogo com compradores, para conseguir acordos formalizados e que dêem alguma segurança.

"Estamos fazendo um trabalho que é tentar trazer as empresas, fazendo as empresas se aproximarem da comunidade. Não somente com óleo de castanha, mas castanha sem casca também", explica Sampaio. O especialista assume também um pouco da culpa pelos problemas de negociação. "A gente entrou neste processo do óleo meio na escura e sob uma pressão dos Kayapós, que queriam comercializar o óleo de qualquer forma", conclui.

A empresa
Mesmo com a falta do cumprimento do acordo por parte da Beraca, Luis Sampaio não responsabiliza a companhia pelos prejuízos ao projeto. Segundo o coordenador, a empresa não possuía nenhum documento formalizando os termos. "As empresas também têm suas limitações. De repente elas almejam que comprando o óleo dos Kayapós teriam uma venda no exterior e dá tudo errado", explica.

Sampaio, inclusive, agradece a participação que a empresa teve no começo do projeto, comprando o óleo e tornando a comercialização viável. Para ele "o problema da sustentabilidade na Amazônia é a aproximação dos interessados nos produtos da floresta. Normalmente estas indústrias têm um receio, um cálculo tão profundo das coisas, que eles calculam até o valor destas visitas e num cenário mundial não muito animador, como estamos passando agora, a coisa é mais distante", afirma.

Produção Tradicional
Na terra indígena do Baú residem cerca de 180 indígenas, dos quais 60 participam da colheita da castanha e processamento do óleo, num método já empregado a centenas de anos pelos Kayapó. "A extração do óleo é uma atividade muito bacana para os Kayapós por que eles sempre a desenvolveram", explica Kori.

Além do óleo, o indígena vislumbra outros produtos dentro da reserva que poderiam ser utilizados com fins comerciais. "Temos vários recursos naturais lá, como babaçu, óleo de copaíba e o cumaru, que é uma fruta que tem a semente muito boa para a área de cosméticos", explica o Kayapó.
 

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