From Indigenous Peoples in Brazil

News

Usina nuclear no sertão ameaça índios pankarás

15/07/2012

Fonte: OESP, Nacional, p. A11



Usina nuclear no sertão ameaça índios pankarás
Tribo que foi forçada a deixar suas terras perto do São Francisco agora se revolta contra abertura de estrada que corta a aldeia, em Pernambuco

LEONENCIO NOSSA , ENVIADO ESPECIAL, ITACURUBÁ (PE)

Quando o governo transferiu a aldeia da margem do Rio São Francisco para um terreno pedregoso e sem água, em Itacurubá, a 466 quilômetros do Recife, o então cacique Geraldo Cabral pensou que o megaprojeto da Represa de Itaparica era o último ataque à história dos pankarás, índios que resistiram, durante quatro séculos, a jesuítas, franciscanos, capuchinhos, criadores de gado, escravagistas, cangaceiros, coronéis, líderes messiânicos, corruptos e assentados da reforma agrária.
A história se repete. Tratores amarelos, mesma cor das máquinas que derrubaram malocas antes do enchimento da reserva, em 1988, cortaram a comunidade onde vivem 65 famílias para a abertura de uma estrada estadual, construída com recursos federais. O susto maior foi quando os índios receberam a notícia de que o caminho na caatinga levaria a uma usina nuclear.
O projeto de uma usina no semiárido nordestino chegou a ser anunciado no ano passado pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. A ideia está engavetada, pois não convenceu setores influentes do governo e recebeu críticas pesadas de políticos e cientistas. Uma estrada, porém, começou a ser aberta na terra dos pankarás para garantir o acesso a um sítio, a 8 km das malocas, reservado para a usina.
'Bomba'. "No passado, eles tiraram a gente da beira do rio, onde tinha água e peixe. A gente ficou na pedra", lembra o índio Fernando Antonio da Silva, de 65 anos, um dos mais antigos da tribo. "Só não é pior que ficar ao lado da bomba. Se tiver problema, não vai dar tempo de correr."
Os técnicos do governo espalharam no centro de Itacurubá a versão de que serão criados, durante as obras, 4 mil empregos - e depois, a usina, que "não é uma bomba", trará finalmente o desenvolvimento da região. Era uma notícia robusta para os habitantes de Itacurubá, Rodelas e Petrolândia, cidades reconstruídas pela Companhia Hidrelétrica do São Francisco, a Chesf, após a inundação da represa.
Os moradores da região saíram de uma economia de subsistência, de pequenas criações e lavouras, para viver ao redor das prefeituras e dos salários do funcionalismo público, em novos centros urbanos. "O governo sabe tudo o que está ocorrendo", diz, resignado, Jorge França, de 40 anos, uma das novas lideranças dos pankarás. "Eles (os políticos) sempre nos viram como pessoas que empatam o desenvolvimento do Brasil", reclama a cacique Lucélia Leal Cabral, de 34 anos. "Não ganhamos indenização em 1988 e não queremos agora. A tribo precisa apenas de paz para sobreviver."
Até dezembro de 2002, os índios da região utilizavam vários nomes e expressões para reafirmar sua distintividade étnica, como "caboclo" e "braiado". No começo de 2003, passaram a adotar o etnônimo Pankará da Serra do Arapuá. Hoje, o povo indígena reúne quase 3 mil pessoas - a Funai só tomou providências quanto ao reconhecimento territorial em 2005.
Lucélia não se opõe a obras de infraestrutura do governo, mas critica a falta de diálogo com os índios e a ausência de compromisso para garantir que a comunidade seja beneficiada.

OESP, 15/07/2012, Nacional, p. A11

http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,usina-nuclear-no-sertao-ameaca-indios-pankaras-,900360,0.htm
 

The news items published by the Indigenous Peoples in Brazil site are researched daily from a variety of media outlets and transcribed as presented by their original source. ISA is not responsible for the opinios expressed or errors contained in these texts. Please report any errors in the news items directly to the source