From Indigenous Peoples in Brazil
News
Ato contra privatização do Maracanã denuncia fim de 'local histórico' indígena
01/12/2012
Autor: Mauricio Thuswhol
Fonte: Rede Brasil Atual - http://www.redebrasilatual.com.br
Processo licitatório para demolição do Museu do Índio, onde funciona atualmente a Aldeia Maracanã, será iniciado em 20 de dezembro
Rio de Janeiro - Cerca de 500 pessoas participaram hoje (1o) de um ato contra o projeto do governo do Rio de Janeiro que prevê a concessão do Maracanã à iniciativa privada. Mesmo com a ausência de algumas celebridades que dão apoio ao movimento - como o cantor e escritor Chico Buarque e o nadador Cesar Cielo, entre outros -, o ato atraiu a participação de ativistas do Comitê Popular da Copa e de moradores que gritaram palavras de ordem contra a privatização do estádio. Demolições previstas no projeto de reforma do Maracanã para a Copa do Mundo de 2014, como as do Estádio de Atletismo Célio de Barros, do Parque Aquático Julio Delamare, do Museu do Índio e da Escola Municipal Friedenreich, também foram alvo dos protestos dos manifestantes.
Entre os manifestantes, um grupo de 15 indígenas chamou a atenção ao fazer uma roda e entoar cânticos em protesto contra a derrubada do prédio do antigo Museu do Índio, construído há 150 anos e onde há seis anos foi instalada a Aldeia Maracanã, espécie de embaixada informal para os indígenas de diversas etnias que chegam ao Rio de Janeiro. Líder da aldeia, o cacique Carlos Tukano diz que os índios estão "muito preocupados com a incerteza" sobre o futuro: "Até agora não tivemos nenhuma posição do governo, não fomos procurados nem para dizerem em que dia vão demolir", disse.
A situação dos habitantes da Aldeia Maracanã tende a piorar, já que no dia 13 de novembro foram derrubadas duas liminares que os favoreciam. Uma delas exigia a permanência dos povos indígenas dentro do prédio do antigo Museu do Índio, e a outra impedia a demolição do prédio. As liminares haviam sido concedidas a pedido da Defensoria Pública da União, e sua derrubada deixa o caminho livre para que os índios sejam desalojados e o prédio demolido.
O governador Sérgio Cabral fixou em 20 de dezembro a data-limite para que seja deflagrado o processo de licitação para demolição do prédio: "O governador disse que não tem nada contra os índios, mas não nos deu nenhuma solução ou orientação. Nós precisamos do espaço, que é um referencial para os povos indígenas, não só os que estão aqui, mas em nível nacional. Esse espaço para nós é tão importante quanto os royalties do petróleo são importantes para ele", diz Tukano.
O cacique lembra que o governo estadual comprou por R$ 60 milhões o prédio do Museu do Índio - que pertencia à Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) - "apenas 15 dias após o fim da Rio+20", evento durante o qual Cabral havia feito manifestações de apoio aos povos indígenas. Ele se queixa da luta desigual: "Nós não temos recursos em nível jurídico para tentarmos nos defender particularmente. Estão rasgando a Constituição para negar nossos direitos. Se a demolição de fato acontecer, vai ser uma grande perda. Vai se apagar a história cultural dos povos indígenas mais uma vez, depois de 512 anos", diz.
Valor histórico
Tukano diz que "em vez de se falar em demolir, deveriam valorizar o Museu do Índio para a Copa". Sua justificativa é o valor histórico do prédio: "Não é apenas um prédio, o fato é que ele carrega a memória dos povos indígenas. Lá foi criada em 1910 pelo Marechal Rondon a primeira instituição do governo federal para tratar dos interesses dos povos indígenas. Foi lá também que em 1953 o Darcy Ribeiro fundou o primeiro museu da América do Sul sobre os povos indígenas. É um local histórico", diz.
O raciocínio de Carlos Tukano parece perfeito, mas a alta consideração pelo local não é compartilhada pelo cacique da política fluminense. "O prédio fica em uma área de mobilidade do projeto de preparação do Maracanã para a Copa e vai ser demolido. A Fifa exige um alto grau de mobilidade para a circulação de pessoas no entorno do estádio. O prédio não tem valor histórico", diz Sérgio Cabral.
Além de utilizar como justificativa a relevância histórica do Museu do Índio e a importância social da Aldeia Maracanã, a tentativa de defesa da preservação do espaço feita pela Defensoria Pública da União se baseou em um parecer do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Rio de Janeiro (Crea-RJ) que afirma não ter o edifício sofrido qualquer abalo estrutural que justifique sua demolição. Uma inspeção realizada em setembro por técnicos da entidade afirmou ainda que a estrutura do edifício está apta para ser restaurada e que sua localização não atrapalha a mobilidade para quem chega ou sai do Maracanã.
Resistência
Atualmente, segundo o cacique, vivem na Aldeia Maracanã 23 índios das etnias Pataxó, Apurinã, Tukano, Guarani e Guajajara. A área total do terreno é de 1,6 mil metros quadrados, mas o péssimo estado da parte interna do edifício, assim como a falta de telhado em boa parte dele, obrigou seus habitantes a construírem pequenas casas com forro de estuque (mistura de água, gesso e cola). No quintal, os índios plantam legumes e verduras para consumo próprio, mas ainda convivem com problemas básicos como a falta de água e de energia elétrica.
Os indígenas da Aldeia Maracanã mantêm em atividade um centro cultural que realiza aos primeiros sábados de cada mês um festival de gastronomia, música, rituais e artes indígenas. O evento atrai muita gente, mas não foi realizado hoje por conta da mobilização contra a privatização do Maracanã. A hora é de os índios saírem de sua casa para pedir ajuda e conquistar apoios. "Pretendemos fazer uma mobilização ainda maior do que a que fizemos até agora. As pessoas estão simpatizando com nossa causa, com a causa dos povos indígenas. Vamos resistindo até onde for necessário", diz Carlos Tukano.
Autoritarismo
Durante o ato, o coordenador do Comitê Popular da Copa, Marcelo Edmundo, afirmou que a tendência é que o movimento contra a privatização do Maracanã ganhe força nos próximos meses. "Questionamos esse processo de reformulação do Complexo do Maracanã, com suas remoções e demolições. Mais do que um estádio, o Maracanã é um símbolo da cidade, junto com os aparelhos do seu entorno. O governo quer mudar a cara do Maracanã sem consultar a população", disse. O objetivo do movimento agora é tentar agendar uma conversa com Sérgio Cabral: "Nossa expectativa é a de conseguir marcar uma reunião com o governador para que nossas reivindicações sejam ouvidas", diz Edmundo.
Para Afonso Celso, que é diretor do Sindicato dos Professores do Rio de Janeiro (Sinpro), a população fluminense assiste a um filme repetido. "Esse projeto vai entregar um patrimônio público para a iniciativa privada. Já havia sido gasto muito dinheiro público com a realização do Pan de 2007, e agora se vai gastar novamente", diz.
A demolição da Escola Friedenreich, considerada a quarta melhor do Rio pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), merece duras críticas do sindicalista. "A decisão em relação à demolição da escola repete uma coisa que esse governo sempre faz, que é agir independentemente do que pensa a população que está usufruindo daquele bem. Como você tira uma escola de seu lugar, sem antes apontar para onde ela vai e quais são as necessidades daquelas pessoas? É autoritária a forma como se quer privatizar um bem público e é autoritária a forma como se quer remover uma escola. Esse autoritarismo é que faz com que a indignação e a onda de protestos cresçam cada vez mais".
http://www.redebrasilatual.com.br/temas/cidadania/2012/12/ato-contra-privatizacao-do-maracana-denuncia-fim-de-local-historico-indigena
Rio de Janeiro - Cerca de 500 pessoas participaram hoje (1o) de um ato contra o projeto do governo do Rio de Janeiro que prevê a concessão do Maracanã à iniciativa privada. Mesmo com a ausência de algumas celebridades que dão apoio ao movimento - como o cantor e escritor Chico Buarque e o nadador Cesar Cielo, entre outros -, o ato atraiu a participação de ativistas do Comitê Popular da Copa e de moradores que gritaram palavras de ordem contra a privatização do estádio. Demolições previstas no projeto de reforma do Maracanã para a Copa do Mundo de 2014, como as do Estádio de Atletismo Célio de Barros, do Parque Aquático Julio Delamare, do Museu do Índio e da Escola Municipal Friedenreich, também foram alvo dos protestos dos manifestantes.
Entre os manifestantes, um grupo de 15 indígenas chamou a atenção ao fazer uma roda e entoar cânticos em protesto contra a derrubada do prédio do antigo Museu do Índio, construído há 150 anos e onde há seis anos foi instalada a Aldeia Maracanã, espécie de embaixada informal para os indígenas de diversas etnias que chegam ao Rio de Janeiro. Líder da aldeia, o cacique Carlos Tukano diz que os índios estão "muito preocupados com a incerteza" sobre o futuro: "Até agora não tivemos nenhuma posição do governo, não fomos procurados nem para dizerem em que dia vão demolir", disse.
A situação dos habitantes da Aldeia Maracanã tende a piorar, já que no dia 13 de novembro foram derrubadas duas liminares que os favoreciam. Uma delas exigia a permanência dos povos indígenas dentro do prédio do antigo Museu do Índio, e a outra impedia a demolição do prédio. As liminares haviam sido concedidas a pedido da Defensoria Pública da União, e sua derrubada deixa o caminho livre para que os índios sejam desalojados e o prédio demolido.
O governador Sérgio Cabral fixou em 20 de dezembro a data-limite para que seja deflagrado o processo de licitação para demolição do prédio: "O governador disse que não tem nada contra os índios, mas não nos deu nenhuma solução ou orientação. Nós precisamos do espaço, que é um referencial para os povos indígenas, não só os que estão aqui, mas em nível nacional. Esse espaço para nós é tão importante quanto os royalties do petróleo são importantes para ele", diz Tukano.
O cacique lembra que o governo estadual comprou por R$ 60 milhões o prédio do Museu do Índio - que pertencia à Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) - "apenas 15 dias após o fim da Rio+20", evento durante o qual Cabral havia feito manifestações de apoio aos povos indígenas. Ele se queixa da luta desigual: "Nós não temos recursos em nível jurídico para tentarmos nos defender particularmente. Estão rasgando a Constituição para negar nossos direitos. Se a demolição de fato acontecer, vai ser uma grande perda. Vai se apagar a história cultural dos povos indígenas mais uma vez, depois de 512 anos", diz.
Valor histórico
Tukano diz que "em vez de se falar em demolir, deveriam valorizar o Museu do Índio para a Copa". Sua justificativa é o valor histórico do prédio: "Não é apenas um prédio, o fato é que ele carrega a memória dos povos indígenas. Lá foi criada em 1910 pelo Marechal Rondon a primeira instituição do governo federal para tratar dos interesses dos povos indígenas. Foi lá também que em 1953 o Darcy Ribeiro fundou o primeiro museu da América do Sul sobre os povos indígenas. É um local histórico", diz.
O raciocínio de Carlos Tukano parece perfeito, mas a alta consideração pelo local não é compartilhada pelo cacique da política fluminense. "O prédio fica em uma área de mobilidade do projeto de preparação do Maracanã para a Copa e vai ser demolido. A Fifa exige um alto grau de mobilidade para a circulação de pessoas no entorno do estádio. O prédio não tem valor histórico", diz Sérgio Cabral.
Além de utilizar como justificativa a relevância histórica do Museu do Índio e a importância social da Aldeia Maracanã, a tentativa de defesa da preservação do espaço feita pela Defensoria Pública da União se baseou em um parecer do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Rio de Janeiro (Crea-RJ) que afirma não ter o edifício sofrido qualquer abalo estrutural que justifique sua demolição. Uma inspeção realizada em setembro por técnicos da entidade afirmou ainda que a estrutura do edifício está apta para ser restaurada e que sua localização não atrapalha a mobilidade para quem chega ou sai do Maracanã.
Resistência
Atualmente, segundo o cacique, vivem na Aldeia Maracanã 23 índios das etnias Pataxó, Apurinã, Tukano, Guarani e Guajajara. A área total do terreno é de 1,6 mil metros quadrados, mas o péssimo estado da parte interna do edifício, assim como a falta de telhado em boa parte dele, obrigou seus habitantes a construírem pequenas casas com forro de estuque (mistura de água, gesso e cola). No quintal, os índios plantam legumes e verduras para consumo próprio, mas ainda convivem com problemas básicos como a falta de água e de energia elétrica.
Os indígenas da Aldeia Maracanã mantêm em atividade um centro cultural que realiza aos primeiros sábados de cada mês um festival de gastronomia, música, rituais e artes indígenas. O evento atrai muita gente, mas não foi realizado hoje por conta da mobilização contra a privatização do Maracanã. A hora é de os índios saírem de sua casa para pedir ajuda e conquistar apoios. "Pretendemos fazer uma mobilização ainda maior do que a que fizemos até agora. As pessoas estão simpatizando com nossa causa, com a causa dos povos indígenas. Vamos resistindo até onde for necessário", diz Carlos Tukano.
Autoritarismo
Durante o ato, o coordenador do Comitê Popular da Copa, Marcelo Edmundo, afirmou que a tendência é que o movimento contra a privatização do Maracanã ganhe força nos próximos meses. "Questionamos esse processo de reformulação do Complexo do Maracanã, com suas remoções e demolições. Mais do que um estádio, o Maracanã é um símbolo da cidade, junto com os aparelhos do seu entorno. O governo quer mudar a cara do Maracanã sem consultar a população", disse. O objetivo do movimento agora é tentar agendar uma conversa com Sérgio Cabral: "Nossa expectativa é a de conseguir marcar uma reunião com o governador para que nossas reivindicações sejam ouvidas", diz Edmundo.
Para Afonso Celso, que é diretor do Sindicato dos Professores do Rio de Janeiro (Sinpro), a população fluminense assiste a um filme repetido. "Esse projeto vai entregar um patrimônio público para a iniciativa privada. Já havia sido gasto muito dinheiro público com a realização do Pan de 2007, e agora se vai gastar novamente", diz.
A demolição da Escola Friedenreich, considerada a quarta melhor do Rio pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), merece duras críticas do sindicalista. "A decisão em relação à demolição da escola repete uma coisa que esse governo sempre faz, que é agir independentemente do que pensa a população que está usufruindo daquele bem. Como você tira uma escola de seu lugar, sem antes apontar para onde ela vai e quais são as necessidades daquelas pessoas? É autoritária a forma como se quer privatizar um bem público e é autoritária a forma como se quer remover uma escola. Esse autoritarismo é que faz com que a indignação e a onda de protestos cresçam cada vez mais".
http://www.redebrasilatual.com.br/temas/cidadania/2012/12/ato-contra-privatizacao-do-maracana-denuncia-fim-de-local-historico-indigena
The news items published by the Indigenous Peoples in Brazil site are researched daily from a variety of media outlets and transcribed as presented by their original source. ISA is not responsible for the opinios expressed or errors contained in these texts. Please report any errors in the news items directly to the source