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Em aviões da FAB, indígenas que ocuparam Belo Monte vão a Brasília

04/06/2013

Fonte: Valor Econômico - www.valor.com.br/brasil



Em aviões da FAB, indígenas que ocuparam Belo Monte vão a Brasília

André Borges
Valor

BRASÍLIA - Uma delegação de indígenas do Pará, principalmente do povo munduruku, terá reunião hoje em Brasília, no Palácio do Planalto, com o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência da República. Está prevista ainda a participação dos ministros José Eduardo Cardozo, da Justiça, e Edison Lobão, de Minas e Energia, e representantes de outras pastas do governo federal. A vice-procuradora-geral da República, Deborah Duprat, também deve participar da conversa.
Os índios participaram da recente ocupação do principal canteiro de obras da usina de Belo Monte, em construção na região de Altamira. O governo enviou na manhã de terça-feira dois aviões da FAB para o local, para fazer o deslocamento dos índios.
A reunião é parte de um acordo firmado com os indígenas na semana passada, para desocupação pacífica do canteiro de obras.
Na pauta do encontro estão 33 reivindicações apresentadas em janeiro pelos índios, durante a assembleia indígena munduruku, na aldeia Sai Cinza, no município de Jacareacanga (PA), onde está sendo construída a hidrelétrica de Teles Pires, na divisa com o Mato Grosso.
O governo também promete apresentar "uma proposta de pactuação da consulta sobre possíveis empreendimentos hidrelétricos na região" previstos para as bacias dos rios Tapajós e Teles Pires. A proposta, segundo o governo, prevê a realização de consulta aos indígenas de acordo com os preceitos da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que está em processo de regulamentação.
Em carta divulgada nesta terça-feira, os índios afirmam não fizeram nenhum acordo com o governo e que apenas aceitaram a reunião. "Quanto mais nós dizíamos que não sairíamos de lá, mais policiais vocês mandavam para o canteiro de obras. E no mesmo dia em que seríamos tirados à força pela sua polícia, vocês mataram um parente Terena no Mato Grosso do Sul. Então nós decidimos que não queríamos outro morto. Nós evitamos uma tragédia, vocês não. Vocês não evitam tragédias, vocês executam", afirma a carta.
"Viemos aqui falar para vocês da outra tragédia que iremos lutar para evitar: a perda do nosso território e da nossa vida. Nós não viemos negociar com vocês, porque não se negocia nem território nem vida. Nós somos contra a construção de barragens que matam a terra indígena, porque elas matam a cultura quando matam o peixe e afogam a terra. E isso mata a gente sem precisar de arma. Vocês continuam matando muito. Vocês simplesmente matam muito. Vocês já mataram demais, faz 513 anos", afirmam os indígenas.
O objetivo dos índios é exigir a suspensão dos estudos e das obras de barragens. "Vocês não estão falando apenas com o povo Munduruku. Vocês estão falando com os Xipaya, Kayapó, Arara, Tupinambá e com todos os povos que estão juntos nessa luta, porque essa é uma luta grande e de todos. Nós não trouxemos listas de pedidos. Nós somos contra as barragens. Exigimos o compromisso do governo federal em consultar e garantir o direito a veto a projetos que destroem a gente."
A lista de 33 reivindicações que será discutida hoje foi entregue pelos índios em janeiro de 2013. "No mês seguinte, nós fomos novamente à Brasília exigir alguma resposta da Secretaria Geral da Presidência sobre os 33 pontos. Conseguimos encontrar o ministro, mas ele ignorou nossas reivindicações e tentou fazer com que nós assinássemos um documento aceitando as hidrelétricas do rio Tapajós."
Os indígenas acusam o governo de publicar um decreto que autoriza a entrada das tropas policiais nas terras indígenas e de desrespeitarem lugares sagrados. "No Teles Pires, foram encontrados ossos de parentes, muito antigos. Vocês estão destruindo um lugar sagrado", relata a carta. "E agora chegamos aqui com vocês. Esperando que afinal vocês nos ouçam, ao invés de ouvir aqueles que pagam suas campanhas. Ainda que vocês não estejam dispostos a aprender a ouvir, nós estamos dispostos a ensinar", conclui o texto.

Valor Econômico, 04/06/2013, Brasil

http://www.valor.com.br/brasil/3148974/em-avioes-da-fab-indigenas-que-ocuparam-belo-monte-vao-brasilia
 

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