From Indigenous Peoples in Brazil
News
Terra Terena, sonho que vem do Império
09/06/2013
Fonte: OESP, Política, p. A12
Terra Terena, sonho que vem do Império
Morte de índio durante conflito em fazenda expõe drama da etnia que lutou na Guerra do Paraguai e briga por demarcação
Pablo Pereira, ENVIADO ESPACIAL / SIDROLÂNDIA
Na última quinta-feira, o índio terena Jabez Gabriel, de 41 anos, voltou ao local no qual, uma semana antes, perdera o irmão Oziel Gabriel, baleado durante ação da polícia que cumpria despejo na Fazenda Buriti, a cerca de 25 quilômetros de Sidrolândia (MS). Professor de português, fala mansa, mas firme, Jabez estava a 200 metros do local onde Oziel foi baleado.
Com familiares, Jabez acompanhou jornalistas na primeira visita ao lugar onde caiu o líder que começa a se transformar em mártir dos terenas. Jabez e Oziel são netos de Armando Gabriel, cacique terena que morreu aos 94 anos, em 2010, e incutiu nos oito netos o sonho da Terra Indígena Buriti.
Moradores da aldeia Córrego do Meio, a 4 quilômetros dali, os cerca de 5 mil terenas - a Prefeitura diz que são 2 mil, 550 deles inscritos como eleitores -, os Gabriel sofrem no centro de uma crise fundiária que remonta aos tempos do Império. Os terenas ajudaram o Brasil na Guerra do Paraguai. Documentos públicos citam sua presença na região desde o começo do século 19.
De acordo com levantamentos do governo federal, citados em documento do Ministério Público federal do MS, "a Terra Indígena Buriti tem 2.060 hectares, fica em Sidrolândia e Dois Irmãos do Buriti e engloba 9 aldeias, onde vivem 3.302 indígenas: Córrego do Meio, Lagoinha, Tereré, Água Azul, Berrerinho, Buriti, Olho D'Água, Oliveira e Recanto. Ela foi demarcada em 1928 pelo Serviço de Proteção ao Índio)". Ao todo, os terenas somam 25 mil.
Ação e reação. Desde 1993, quando a Funai lhes reconheceu a posse da terra, fazendeiros tentam reverter judicialmente a decisão. A área pivô da atual crise tem cerca de 300 hectares e é ocupada por pecuária. Pertence à família Bacha, do ex-deputado Ricardo Bacha (PSDB), que obteve dias atrás a autorização judicial para desocupação. Depois do episódio, revoltados com a ação policial, os terena deram o troco. Ocuparam outras fazendas, expandindo sua presença em pelo menos 15 quilômetros a partir da Fazenda Buriti. Na terça-feira já dominavam 12 áreas. Ordenavam a retirada dos não- índios e foram acusados de saquear as casas e queimá-las.
"Saquearam as casas", afirmou Rosana Miranda Corrêa, produtora rural que passou a semana com a família tentando retirar o gado da Fazenda Cambará pelos fundos da área. Os índios negam os saques.
Em depoimento emocionado, em Sidrolândia, a produtora disse que a família perdeu as casas, mobília, equipamentos e gado. Outro produtor, Rubens do Amaral Júnior, perdeu tudo que tinha. Logo no primeiro dia da ocupação da Fazenda Lindoia, teve pelo menos 200 bois confiscados pelos índios.
A pacificação chegou na quinta-feira. Uma reunião entre o comandante da Força Nacional, major Luiz Alves, e líderes das nove aldeias terena acalmou os ânimos.
Até a chegada da Força Nacional as aldeias não eram seguras para ninguém. Líderes terenas admitiam não ter controle sobre seus guerreiros. Mulheres das aldeias denunciavam terem sido seguidas por pistoleiros. Agora, Jabez quer criar a Fundação Oziel Gabriel Terena para preservar a memória do confidente de Armando Terena.
Fazendeiros vivem há 12 anos em clima de tensão
Donos e arrendatários da região vivem na insegurança; para eles, problema é a indecisão do Judiciário e do Planalto
O Estado de S.Paulo
O desespero e a revolta tomaram conta de produtores rurais do município de Sidrolândia (MS) nos últimos dias. Em meio à indecisão do governo federal e do Judiciário em resolver a posse de 17,3 mil hectares que os terenas reivindicam, pelo menos 12 proprietários e arrendatários vivem aos sobressaltos. Terenas, amparados pela Funai e pelo Ministério Público Federal, conforme determina a Constituição, ocupam áreas, expulsam moradores, queimam sedes e sequestram equipamentos depois que a desocupação judicial terminou em tragédia no dia 30, com a morte do índio Oziel Gabriel.
"Nós vivemos nessa tensão há uns 12 anos. Nos últimos três, piorou muito", disse Rosana Miranda Corrêa, que criava gado na Fazenda Cambará, uma das que foram ocupadas pelos terena três dias após a morte de Gabriel. Alojada em hotel em Sidrolândia e impedida de chegar à propriedade, a família passou a semana tentando retirar cerca de 1.200 cabeças de gado, espalhadas nas terras ocupadas pelos índios, usando uma saída pela Serra da Vassoura.
"Na segunda-feira, eles permitiram que nós tirássemos 180 cabeças", contou Rosana na manhã de quinta-feira. "Agora estamos tentando tirar o restante pelos fundos, como se estivéssemos roubando o que é nosso", protestou. A Cambará é herança da família, que alega ter título de propriedade desde antes da chegada dos terena.
"A produção é de gado especial, com melhoria genética, gado de alto valor", contou um produtor que não quis ser identificado. Segundo Rosana, os índios mataram alguns animais durante a ocupação. / P.P.
'Aqui é diferente da Amazônia'
Francisco Maia, presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul)
Qual a importância da Força Nacional em Sidrolândia?
Dá tranquilidade, mas não resolve a questão.
Qual é a solução?
A solução é o governo federal comprar as áreas (na região, o hectare vale de R$ 10 mil a R$ 15 mil). Não há mais segurança jurídica nem clima para o produtor continuar lá. A vida toda produtores e índios conviveram sem problema. O que há é uma orquestração política.
Orquestração de quem?
Da Igreja Católica, o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), ONGs. O DNA disso está na Igreja Católica. Ali não há o que se discutir sobre títulos de propriedade. Toda a documentação na região é legal.
Mas os índios argumentam que estão na região desde a Guerra do Paraguai, no século 19.
Mas então São Paulo também tem de ser retomada. Nós reconhecemos a dívida social com os índios. Mas essa dívida é da sociedade, não dos produtores rurais. Os produtores rurais são vítimas.
Bastaria comprar e entregar para os índios?
Sim. Mas tem uma outra questão, que é o debate sobre o direito de propriedade. O que adianta o governo liberar bilhões para a produção se não dá segurança jurídica ao produtor? Em Mato Grosso do Sul há uma área de 250 mil hectares questionada. Aqui é diferente da Amazônia. Aqui os índios vivem integrados, próximos das cidades, têm computador.
Os produtores vão reagir?
Vamos fazer no dia 14 uma mobilização nacional nos Estados de conflito. Isso precisa ser debatido. / P.P.
OESP, 09/06/2013, Política, p. A12
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,terra-terena-sonho-que-vem-do-imperio-,1040422,0.htm
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,fazendeiros-vivem-ha-12-anos-em-clima-de-tensao-,1040427,0.htm
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,aqui-e-diferente-da-amazonia-,1040417,0.htm
Morte de índio durante conflito em fazenda expõe drama da etnia que lutou na Guerra do Paraguai e briga por demarcação
Pablo Pereira, ENVIADO ESPACIAL / SIDROLÂNDIA
Na última quinta-feira, o índio terena Jabez Gabriel, de 41 anos, voltou ao local no qual, uma semana antes, perdera o irmão Oziel Gabriel, baleado durante ação da polícia que cumpria despejo na Fazenda Buriti, a cerca de 25 quilômetros de Sidrolândia (MS). Professor de português, fala mansa, mas firme, Jabez estava a 200 metros do local onde Oziel foi baleado.
Com familiares, Jabez acompanhou jornalistas na primeira visita ao lugar onde caiu o líder que começa a se transformar em mártir dos terenas. Jabez e Oziel são netos de Armando Gabriel, cacique terena que morreu aos 94 anos, em 2010, e incutiu nos oito netos o sonho da Terra Indígena Buriti.
Moradores da aldeia Córrego do Meio, a 4 quilômetros dali, os cerca de 5 mil terenas - a Prefeitura diz que são 2 mil, 550 deles inscritos como eleitores -, os Gabriel sofrem no centro de uma crise fundiária que remonta aos tempos do Império. Os terenas ajudaram o Brasil na Guerra do Paraguai. Documentos públicos citam sua presença na região desde o começo do século 19.
De acordo com levantamentos do governo federal, citados em documento do Ministério Público federal do MS, "a Terra Indígena Buriti tem 2.060 hectares, fica em Sidrolândia e Dois Irmãos do Buriti e engloba 9 aldeias, onde vivem 3.302 indígenas: Córrego do Meio, Lagoinha, Tereré, Água Azul, Berrerinho, Buriti, Olho D'Água, Oliveira e Recanto. Ela foi demarcada em 1928 pelo Serviço de Proteção ao Índio)". Ao todo, os terenas somam 25 mil.
Ação e reação. Desde 1993, quando a Funai lhes reconheceu a posse da terra, fazendeiros tentam reverter judicialmente a decisão. A área pivô da atual crise tem cerca de 300 hectares e é ocupada por pecuária. Pertence à família Bacha, do ex-deputado Ricardo Bacha (PSDB), que obteve dias atrás a autorização judicial para desocupação. Depois do episódio, revoltados com a ação policial, os terena deram o troco. Ocuparam outras fazendas, expandindo sua presença em pelo menos 15 quilômetros a partir da Fazenda Buriti. Na terça-feira já dominavam 12 áreas. Ordenavam a retirada dos não- índios e foram acusados de saquear as casas e queimá-las.
"Saquearam as casas", afirmou Rosana Miranda Corrêa, produtora rural que passou a semana com a família tentando retirar o gado da Fazenda Cambará pelos fundos da área. Os índios negam os saques.
Em depoimento emocionado, em Sidrolândia, a produtora disse que a família perdeu as casas, mobília, equipamentos e gado. Outro produtor, Rubens do Amaral Júnior, perdeu tudo que tinha. Logo no primeiro dia da ocupação da Fazenda Lindoia, teve pelo menos 200 bois confiscados pelos índios.
A pacificação chegou na quinta-feira. Uma reunião entre o comandante da Força Nacional, major Luiz Alves, e líderes das nove aldeias terena acalmou os ânimos.
Até a chegada da Força Nacional as aldeias não eram seguras para ninguém. Líderes terenas admitiam não ter controle sobre seus guerreiros. Mulheres das aldeias denunciavam terem sido seguidas por pistoleiros. Agora, Jabez quer criar a Fundação Oziel Gabriel Terena para preservar a memória do confidente de Armando Terena.
Fazendeiros vivem há 12 anos em clima de tensão
Donos e arrendatários da região vivem na insegurança; para eles, problema é a indecisão do Judiciário e do Planalto
O Estado de S.Paulo
O desespero e a revolta tomaram conta de produtores rurais do município de Sidrolândia (MS) nos últimos dias. Em meio à indecisão do governo federal e do Judiciário em resolver a posse de 17,3 mil hectares que os terenas reivindicam, pelo menos 12 proprietários e arrendatários vivem aos sobressaltos. Terenas, amparados pela Funai e pelo Ministério Público Federal, conforme determina a Constituição, ocupam áreas, expulsam moradores, queimam sedes e sequestram equipamentos depois que a desocupação judicial terminou em tragédia no dia 30, com a morte do índio Oziel Gabriel.
"Nós vivemos nessa tensão há uns 12 anos. Nos últimos três, piorou muito", disse Rosana Miranda Corrêa, que criava gado na Fazenda Cambará, uma das que foram ocupadas pelos terena três dias após a morte de Gabriel. Alojada em hotel em Sidrolândia e impedida de chegar à propriedade, a família passou a semana tentando retirar cerca de 1.200 cabeças de gado, espalhadas nas terras ocupadas pelos índios, usando uma saída pela Serra da Vassoura.
"Na segunda-feira, eles permitiram que nós tirássemos 180 cabeças", contou Rosana na manhã de quinta-feira. "Agora estamos tentando tirar o restante pelos fundos, como se estivéssemos roubando o que é nosso", protestou. A Cambará é herança da família, que alega ter título de propriedade desde antes da chegada dos terena.
"A produção é de gado especial, com melhoria genética, gado de alto valor", contou um produtor que não quis ser identificado. Segundo Rosana, os índios mataram alguns animais durante a ocupação. / P.P.
'Aqui é diferente da Amazônia'
Francisco Maia, presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul)
Qual a importância da Força Nacional em Sidrolândia?
Dá tranquilidade, mas não resolve a questão.
Qual é a solução?
A solução é o governo federal comprar as áreas (na região, o hectare vale de R$ 10 mil a R$ 15 mil). Não há mais segurança jurídica nem clima para o produtor continuar lá. A vida toda produtores e índios conviveram sem problema. O que há é uma orquestração política.
Orquestração de quem?
Da Igreja Católica, o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), ONGs. O DNA disso está na Igreja Católica. Ali não há o que se discutir sobre títulos de propriedade. Toda a documentação na região é legal.
Mas os índios argumentam que estão na região desde a Guerra do Paraguai, no século 19.
Mas então São Paulo também tem de ser retomada. Nós reconhecemos a dívida social com os índios. Mas essa dívida é da sociedade, não dos produtores rurais. Os produtores rurais são vítimas.
Bastaria comprar e entregar para os índios?
Sim. Mas tem uma outra questão, que é o debate sobre o direito de propriedade. O que adianta o governo liberar bilhões para a produção se não dá segurança jurídica ao produtor? Em Mato Grosso do Sul há uma área de 250 mil hectares questionada. Aqui é diferente da Amazônia. Aqui os índios vivem integrados, próximos das cidades, têm computador.
Os produtores vão reagir?
Vamos fazer no dia 14 uma mobilização nacional nos Estados de conflito. Isso precisa ser debatido. / P.P.
OESP, 09/06/2013, Política, p. A12
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,terra-terena-sonho-que-vem-do-imperio-,1040422,0.htm
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,fazendeiros-vivem-ha-12-anos-em-clima-de-tensao-,1040427,0.htm
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,aqui-e-diferente-da-amazonia-,1040417,0.htm
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