From Indigenous Peoples in Brazil

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Cadê os Amarildos da Bahia?

08/09/2013

Autor: Ribamar Bessa Freire

Fonte: D24am.com - http://blogs.d24am.com



Crendeuspai! Sinto um cheiro arretado de chifre queimado no ar. As redes sociais anunciam que o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), vai enfrentar inferno similar ao de seu colega do Rio, Sérgio Cabral. O Palácio de Ondina, residência oficial, já fede a enxofre. Tudo isso porque jagunços armados que mataram um índio permanecem impunes, o que estimula a criação de novos amarildos, desta vez baianos. Relatos de Edson Kayapó e de Yakui Tupinambá revelam a violência cometida nesta semana contra os índios, sem que a grande mídia desse um pio.

Edson Kayapó, de 41 anos, coordena o curso de Licenciatura Intercultural Indígena do Instituto Federal da Bahia (IFBA) e lá é professor de História. Tem muitos amigos espalhados pelo Brasil: do Oiapoque ao Chuí, passando por Minas, onde se graduou na UFMG e por São Paulo, onde concluiu o mestrado e o doutorado em História Social na PUC.

Respeitado e querido na academia, o doutor Edson Machado de Brito - o Edson Kayapó - deu aulas na PUC/SP e na Universidade Federal do Amapá. Na qualidade de doutor, especialista em educação indígena, participou no Rio da banca de defesa de monografia do guarani Algemiro Karai Mirim na Licenciatura em Educação do Campo da UFRRJ, na última segunda-feira, quando estivemos juntos.

Foi aí que o convidei para irmos no dia seguinte à Bienal do Livro, lá encontraríamos dois escritores indígenas Daniel Munduruku e Graça Graúna, com quem eu compartilhava uma mesa no Café Literário. Edson agradeceu o convite, mas informou que retornava na terça-feira à Bahia. Dois dias depois, ele foi sequestrado e sofreu um atentado, quando seguia para Pau Brasil num carro oficial do IFBA.


Sequestro

Por volta das 11h da última quinta-feira, quatro jagunços armados interceptaram o carro do IFBA em São José da Vitória, nas proximidades de Buerarema. "Tem um índio no carro" - disse um deles. Expulsaram os três professores e o motorista, confiscaram os celulares de cada um, deixaram todos eles na estrada e levaram o carro que foi incendiado mais adiante. Dois carros da Guarda Nacional passaram pelo grupo, mas se recusaram a dar proteção a Edson, cujos colegas recomendaram, então, que ele voltasse de táxi a Itabuna para se afastar da área de tiro.

- Foi o que fiz, no entanto o taxi foi interceptado em Buerarama e lá fui sequestrado, levado para uma casa por pessoas armadas, que me espancaram, me ameaçaram de morte com uma arma apontada pra minha cabeça, dizendo que iriam acionar o gatilho. Depois me soltaram, consegui chegar em outra cidade da região, onde me escondi. Não sei quando poderei sair daqui, porque a BR está fechada pelos capangas dos fazendeiros. Estou com o olho esquerdo inchado. Hoje, eu achei que morreria - me contou Edson por telefone.

A região da Serra do Padeiro, entre Buererama, Una e Ilhéus, é um caldeirão que já começou a explodir, devido à disputa por terra indígena ocupada por fazendeiros. Um índio de 35 anos, casado, da comunidade Tupinambá de Olivença, foi morto na noite de terça-feira, o que foi confirmado pela Polícia Federal e pela Funai. Seu corpo permanecia no Departamento de Polícia Técnica (DPT), aguardando o reconhecimento da família para ser liberado.

O couro comeu na semana passada, quando a Justiça Federal suspendeu as nove liminares que favoreceriam os grandes fazendeiros da região. A medida, segundo a Advocacia Geral da União, autoriza a permanência na área de cerca de 500 famílias tupinambá, o que deixou os fazendeiros enfurecidos.


Fitifiu e vaia

O depoimento de Yakuy Tupinambá, 51 anos, confirma o clima de terror instaurado pelos jagunços no sul da Bahia:

- "Eles nos atacaram, tocaram fogo em nossas casas, expropriaram nossa produção, queimaram carros do governo que prestavam assistência a nós. O clima é de apreensão e medo, o governo não está dando atenção ao caso, os direitos humanos são violados, ainda há pouco fecharam a estrada vicinal em Sapocaeira, queimaram oito casas dos parentes, saquearam e depredaram uma loja só porque o dono vendia material de construção para os índios".

Yakui criticou a imprensa local, que "está incitando a violência contra nós" e o governo da Bahia, "um dos culpados". Reclamou da mídia, que prefere cobrir um engavetamento de carros no interior da Inglaterra do que contar aos brasileiros o massacre que ocorre com os índios na Bahia. Ela participou de vários eventos sobre o uso das redes sociais pelos índios, entre os quais o I Simpósio Indígena sobre Uso da Internet nas Comunidades Indígenas e o Seminário Literatura Internet e Liberdade, na UFRJ, em 2010.

- Não existe instrumento de comunicação mais democrático que a internet, jamais conseguimos espaço na grande mídia para contar a nossa história, denunciar a violação dos nossos direitos. Hoje, basta um clic e estou passando informações para todo o Brasil e até para organismos internacionais como a Anistia Internacional e até a ONU.

O governador Jaques Wagner, cuja eleição foi celebrada pelos índios por derrotar a oligarquia da Bahia, aceitou a pressão dos fazendeiros e solicitou que o reconhecimento das terras indígenas fosse adiado. Agora, a violência contra os índios pode significar para ele aquilo que a repressão aos índios da aldeia Maracanã representou para Cabral. As vaias a ele e o fitifiu generalizado já começa a se transformar em rotina. Uma pena! Gostaríamos de poder aplaudir sua decisiva defesa dos direitos indígenas.



http://blogs.d24am.com/taquiprati/2013/09/08/cade-os-amarildos-da-bahia/
 

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