From Indigenous Peoples in Brazil
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Livro narra resistências indígenas na época da ditadura
06/04/2017
Fonte: OESP, Política, p. A12
Documentos anexos
Livro narra resistências indígenas na época da ditadura
Obra do jornalista Rubens Valente que será lançada hoje associa o período militar a casos de extermínios de etnias
Leonencio Nossa
É o roteiro de um filme que mostra generais nos gabinetes de Brasília e peões nas cabines de tratores na selva num mesmo momento. Neste cenário, o livro Os fuzis e as flechas, história de sangue e resistência indígena na ditadura (Companhia das Letras), do jornalista Rubens Valente, associa figuras centrais do período militar a extermínios na floresta.
O livro será lançado hoje, com um debate entre o autor, repórter da Folha de S.Paulo, Heloisa Starling, organizadora da coleção Arquivos da Repressão do Brasil, e Beto Ricardo, do Instituto Socioambiental, na Livraria da Vila em São Paulo.
Na obra, Valente trata de mortes de índios, à época do avanço da BR-174, no Amazonas. No período, os uaimiris-atroaris protagonizaram uma das mais intensas resistências civis à ditadura. Nos anos 1970, o regime jogou ali empreiteiros, soldados e funcionários públicos sem vivência na mata.
Segundo o autor, os sertanistas Gilberto Figueiredo e José Porfírio de Carvalho fizeram um pacto para impedir a "trágica pacificação". Diante do apelo para suspender a obra, o general Gentil Paes, chefe do canteiro, deu ordens para a tropa atirar no caso de o "mato mexer".
O coronel Altino Berthier Brasil relata 40 a 50 índios mortos por "encontros armados". "Nunca houve ordem para matar. Havia reação em contatos de surpresa, que obrigava cada um a puxar a sua arma", disse.
Com documentos inéditos, a obra funde a história do poder central com a dos índios. Assim, massacres se intercalam a ações dos generais Castelo Branco, Costa e Silva, Garrastazu Médici, Golbery do Couto e Silva e Albuquerque Lima.
Ao Estado, Valente destacou a vitória dos índios sobre a ditadura. "Registrou-se entre etnias um bem-vindo aumento populacional. Ao mesmo tempo, conflitos agrários deixaram de ser resolvidos a contento."
"Em reação, os índios se organizaram e são protagonistas de seu destino, participando da vida educacional do País, alcançando lugares na administração pública e na academia."
Ele afirma que houve recrudescimento de forças anti-indígenas. "O índio vive momentos de tensão com ameaças sobre os seus direitos, em especial o direito à terra, patrocinadas por parcelas do Congresso, do agronegócio e do Judiciário. Ironicamente, o índio sobreviveu à ditadura, aos trancos e barrancos, mas a democracia não foi a sua redenção."
OESP, 06/04/2017, Política, p. A12
http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,livro-narra-resistencias-indigenas-na-epoca-da-ditadura,70001728453
Obra do jornalista Rubens Valente que será lançada hoje associa o período militar a casos de extermínios de etnias
Leonencio Nossa
É o roteiro de um filme que mostra generais nos gabinetes de Brasília e peões nas cabines de tratores na selva num mesmo momento. Neste cenário, o livro Os fuzis e as flechas, história de sangue e resistência indígena na ditadura (Companhia das Letras), do jornalista Rubens Valente, associa figuras centrais do período militar a extermínios na floresta.
O livro será lançado hoje, com um debate entre o autor, repórter da Folha de S.Paulo, Heloisa Starling, organizadora da coleção Arquivos da Repressão do Brasil, e Beto Ricardo, do Instituto Socioambiental, na Livraria da Vila em São Paulo.
Na obra, Valente trata de mortes de índios, à época do avanço da BR-174, no Amazonas. No período, os uaimiris-atroaris protagonizaram uma das mais intensas resistências civis à ditadura. Nos anos 1970, o regime jogou ali empreiteiros, soldados e funcionários públicos sem vivência na mata.
Segundo o autor, os sertanistas Gilberto Figueiredo e José Porfírio de Carvalho fizeram um pacto para impedir a "trágica pacificação". Diante do apelo para suspender a obra, o general Gentil Paes, chefe do canteiro, deu ordens para a tropa atirar no caso de o "mato mexer".
O coronel Altino Berthier Brasil relata 40 a 50 índios mortos por "encontros armados". "Nunca houve ordem para matar. Havia reação em contatos de surpresa, que obrigava cada um a puxar a sua arma", disse.
Com documentos inéditos, a obra funde a história do poder central com a dos índios. Assim, massacres se intercalam a ações dos generais Castelo Branco, Costa e Silva, Garrastazu Médici, Golbery do Couto e Silva e Albuquerque Lima.
Ao Estado, Valente destacou a vitória dos índios sobre a ditadura. "Registrou-se entre etnias um bem-vindo aumento populacional. Ao mesmo tempo, conflitos agrários deixaram de ser resolvidos a contento."
"Em reação, os índios se organizaram e são protagonistas de seu destino, participando da vida educacional do País, alcançando lugares na administração pública e na academia."
Ele afirma que houve recrudescimento de forças anti-indígenas. "O índio vive momentos de tensão com ameaças sobre os seus direitos, em especial o direito à terra, patrocinadas por parcelas do Congresso, do agronegócio e do Judiciário. Ironicamente, o índio sobreviveu à ditadura, aos trancos e barrancos, mas a democracia não foi a sua redenção."
OESP, 06/04/2017, Política, p. A12
http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,livro-narra-resistencias-indigenas-na-epoca-da-ditadura,70001728453
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