From Indigenous Peoples in Brazil

News

Reserva Indígena Kayapó invadida por posseiros

01/02/2006

Autor: Carolina Derivi

Fonte: Amazônia.org- São Paulo-SP



Indigenistas temem a possibilidade de um conflito violento entre índios e invasores; Funai garante que a situação está sob controle

Desde setembro do ano passado, as comunidades indígenas da Reserva Kayapó, situada próxima ao município de São Felix do Xingu, no Pará, vêm apresentando denúncias de invasão e desmatamento em suas terras. Imagens de satélite analisadas pela ONG Conservação Internacional dão conta de um desmatamento de cerca de 800 hectares e já ocorreram encontros hostis, embora não violentos, entre índios e posseiros.

A área ocupada está situada a apenas 30km da aldeia indígena de Kokraimoro e 50 km da aldeia Kikretum, onde habitam cerca de mil pessoas. Os Kayapós são um povo conhecido por sua cultura guerreira e já ameaçaram usar da força para expulsar os invasores, mas vêm sendo contidos pela Funai e por indigenistas que atuam na área. Uma expedição de intimidação foi organizada pelos indígenas na tentativa de afugentar os posseiros, sem sucesso, pois os acampamentos foram retomados pouco tempo depois.

Trégua

A administradora substituta do escritório regional da Funai, em Marabá, Sandra Gomes de Souza, garante que a possibilidade de conflito no momento foi afastada: "Nós estamos falando todos os dias com o cacique, as comunidades estão tranqüilas. Nesse momento há um consenso de que os índios não vão tomar nenhuma atitude violenta para resolver o problema."

Entretanto, a demora na solução do caso permanece preocupante. Após sucessivas solicitações de apoio por parte do escritório regional da Funai, apenas na semana passada o Ibama e a Polícia Federal colocaram-se à disposição para acompanhar o caso. A expectativa agora se volta para a visita do presidente da Funai, Mercio Pereira Gomes, à TI Kayapó no dia 15 de fevereiro, quando serão discutidas com as comunidades as medidas a serem tomadas.

Na semana passada, lideranças das etnias kayapós divulgaram um manifesto pedindo a saída de Mercio Pereira Gomes. A carta, um protesto contra declarações recentes do presidente da Funai, faz também uma dura crítica à lentidão para a solução dessas invasões.

De ambos os lados?

Ainda que haja um consenso entre os índios para aguardar uma solução mediada, o mesmo não se pode dizer dos posseiros. A própria Sandra admite que há uma tentativa de provocação de conflito: "Todos os dias nós recebemos ligações de pessoas não identificadas dizendo que vão matar os índios. Mas eles não vão até as aldeias e até agora não há nada que comprometa a integridade das populações."

Essa semana a ONG Conservação Internacional recebeu de funcionários de uma associação indígena local a denúncia de que cerca de trinta homens armados teriam atirado nas placas de demarcação, nos limites da TI Kayapó, nitidamente contestando a legitimidade desse território.

Os motivos

Causam estranheza os motivos que levariam à invasão de terra, com vistas à posse, de uma reserva indígena já homologada. Nenhuma tentativa de negociação com os invasores foi feita até o momento e as atividades por eles realizadas na área permanecem desconhecidas. "Imagino que deve ter alguém na região espalhando que é possível eles conseguirem direto à posse destas terras", teoriza Adriano Jerozolimski, coordenador do Projeto kayapó, da ONG Conservação Internacional. "Ou talvez eles tenham sido estimulados pelo ocorrido em 2003 na TI Baú", relembra ele, referindo-se à Terra Indígena Baú que em 2003 foi reduzida em cerca de 300 mil hectares, após uma série de conflitos entre os índios, mineradores e madeireiros. A área invadida, entretanto, já está homologada desde 1991, o que impossibilitaria a apropriação da terra.
 

The news items published by the Indigenous Peoples in Brazil site are researched daily from a variety of media outlets and transcribed as presented by their original source. ISA is not responsible for the opinios expressed or errors contained in these texts. Please report any errors in the news items directly to the source