From Indigenous Peoples in Brazil
News
Teatro negro e presença indígena na cidade abriram ciclo de palestras do Festival de Verão
06/02/2018
Fonte: UFMG https://ufmg.br/
A cidade de Belo Horizonte tem testemunhado, especialmente nos últimos anos, a emergência de projetos artísticos que promovem a reflexão, fundamentada em um recorte racial, sobre as inquietações e preocupações sociopolíticas e econômicas das populações negras.
Esse tema foi explorado na manhã de hoje pelo professor Marcos Alexandre, da Faculdade de Letras (Fale) e do Teatro Universitário (TU) da UFMG, durante a conferência Olhares expandidos a partir da perspectiva do teatro negro, que abriu o ciclo de palestras do Festival de Verão 2018, no Conservatório UFMG.
"O teatro negro não apenas retrata as especificidades dos sujeitos negros, mas também se retroalimenta dos elementos que compõem a cultura da África em suas distintas manifestações artísticas, como danças, músicas, ritos e religiões", destacou Marcos Alexandre, que é autor do livro O teatro negro em perspectiva: dramaturgia e cena negra no Brasil e em Cuba.
Como exemplos emblemáticos de peças produzidas recentemente em Belo Horizonte, o professor destacou Madame Satã (2015), do Grupo dos Dez; Memórias de Bitita - o coração que não silenciou (2015), do Grupo Circo Olho da Rua; e O negro, a flor e o rosário (2008), da Companhia Burlantins, estrelada pelo ator e músico belo-horizontino Maurício Tizumba.
Alexandre sugeriu que há uma especial comoção inerente à atuação dos artistas negros. "Um conjunto de memórias coletivas africanas é evocado quando o corpo do ator negro está em performance. Ele leva um corpo pulsante para a cena, resgatando uma matriz ancestral", analisou.
Ainda segundo Marcos Alexandre, o indivíduo que foi vítima do racismo tem incutidas no corpo as marcas dessa experiência. "Quando leva esses registros para a cena, o artista aciona elementos que provocam o questionamento sobre a discriminação", aprofunda.
O conferencista ressaltou ainda que eventos de afirmação dos negros, como o Festival de Arte Negra (FAN), já estão legitimados na cidade e, ao contrário do que ocorria em outras épocas, extrapolam, atualmente, o tema das religiões de matriz africana.
Folclorização nociva
A outra palestrante do dia, a socióloga Avelin Buniacá, indígena da etnia Kambiwá, que é especialista em gênero, raça e ensinos religiosos, criticou o viés folclórico que caracteriza a visão do senso comum sobre a cultura indígena. Ela lembrou que recentemente recebeu convite para participar de uma oficina de fabricação de cocar, que seria realizada em um evento de pré-carnaval em Belo Horizonte.
"Expliquei que eles estavam brincando e fazendo fantasia sobre uma coisa que é real, é ancestral, e que eles desconhecem. O cocar é um traje sagrado, que representa nossas lideranças, vivas e mortas. A cultura ocidental e a mídia têm esse infeliz costume de massificar e folclorizar as culturas", argumentou Avelin.
A socióloga também falou sobre a opressão sofrida pela população de sete mil índios atualmente espalhados pela Região Metropolitana de Belo Horizonte. "A estrutura daqui não se dobra para escutar a gente. Batizam ruas e bairros com nomes indígenas, como se isso fosse reconhecimento suficiente. Mas a cidade é um ambiente agressivo, onde não podemos sair de casa usando nossos trajes típicos", queixou-se.
Segundo Avelin, a vida dos índios nas aldeias é inviável por causa da precariedade que teve origem na expansão de atividades como a mineração e o agronegócio. "A mãe-terra não é sagrada na mentalidade deles. Devastam a terra por uma causa tão ignorante, que é a ganância", pontuou.
A programação do Festival de Verão segue até a quinta-feira, dia 8. Atualizações sobre o evento estão disponíveis no Facebook, no Twitter e no Instagram.
https://ufmg.br/comunicacao/noticias/teatro-negro-e-pensamento-indigena-foram-abordados-em-ciclo-de-palestras-do-festival-de-verao
Esse tema foi explorado na manhã de hoje pelo professor Marcos Alexandre, da Faculdade de Letras (Fale) e do Teatro Universitário (TU) da UFMG, durante a conferência Olhares expandidos a partir da perspectiva do teatro negro, que abriu o ciclo de palestras do Festival de Verão 2018, no Conservatório UFMG.
"O teatro negro não apenas retrata as especificidades dos sujeitos negros, mas também se retroalimenta dos elementos que compõem a cultura da África em suas distintas manifestações artísticas, como danças, músicas, ritos e religiões", destacou Marcos Alexandre, que é autor do livro O teatro negro em perspectiva: dramaturgia e cena negra no Brasil e em Cuba.
Como exemplos emblemáticos de peças produzidas recentemente em Belo Horizonte, o professor destacou Madame Satã (2015), do Grupo dos Dez; Memórias de Bitita - o coração que não silenciou (2015), do Grupo Circo Olho da Rua; e O negro, a flor e o rosário (2008), da Companhia Burlantins, estrelada pelo ator e músico belo-horizontino Maurício Tizumba.
Alexandre sugeriu que há uma especial comoção inerente à atuação dos artistas negros. "Um conjunto de memórias coletivas africanas é evocado quando o corpo do ator negro está em performance. Ele leva um corpo pulsante para a cena, resgatando uma matriz ancestral", analisou.
Ainda segundo Marcos Alexandre, o indivíduo que foi vítima do racismo tem incutidas no corpo as marcas dessa experiência. "Quando leva esses registros para a cena, o artista aciona elementos que provocam o questionamento sobre a discriminação", aprofunda.
O conferencista ressaltou ainda que eventos de afirmação dos negros, como o Festival de Arte Negra (FAN), já estão legitimados na cidade e, ao contrário do que ocorria em outras épocas, extrapolam, atualmente, o tema das religiões de matriz africana.
Folclorização nociva
A outra palestrante do dia, a socióloga Avelin Buniacá, indígena da etnia Kambiwá, que é especialista em gênero, raça e ensinos religiosos, criticou o viés folclórico que caracteriza a visão do senso comum sobre a cultura indígena. Ela lembrou que recentemente recebeu convite para participar de uma oficina de fabricação de cocar, que seria realizada em um evento de pré-carnaval em Belo Horizonte.
"Expliquei que eles estavam brincando e fazendo fantasia sobre uma coisa que é real, é ancestral, e que eles desconhecem. O cocar é um traje sagrado, que representa nossas lideranças, vivas e mortas. A cultura ocidental e a mídia têm esse infeliz costume de massificar e folclorizar as culturas", argumentou Avelin.
A socióloga também falou sobre a opressão sofrida pela população de sete mil índios atualmente espalhados pela Região Metropolitana de Belo Horizonte. "A estrutura daqui não se dobra para escutar a gente. Batizam ruas e bairros com nomes indígenas, como se isso fosse reconhecimento suficiente. Mas a cidade é um ambiente agressivo, onde não podemos sair de casa usando nossos trajes típicos", queixou-se.
Segundo Avelin, a vida dos índios nas aldeias é inviável por causa da precariedade que teve origem na expansão de atividades como a mineração e o agronegócio. "A mãe-terra não é sagrada na mentalidade deles. Devastam a terra por uma causa tão ignorante, que é a ganância", pontuou.
A programação do Festival de Verão segue até a quinta-feira, dia 8. Atualizações sobre o evento estão disponíveis no Facebook, no Twitter e no Instagram.
https://ufmg.br/comunicacao/noticias/teatro-negro-e-pensamento-indigena-foram-abordados-em-ciclo-de-palestras-do-festival-de-verao
The news items published by the Indigenous Peoples in Brazil site are researched daily from a variety of media outlets and transcribed as presented by their original source. ISA is not responsible for the opinios expressed or errors contained in these texts. Please report any errors in the news items directly to the source