From Indigenous Peoples in Brazil
News
Prêmio Nobel para um índio que protege a Amazônia
24/08/2019
Autor: KAZ, Leonel
Fonte: O Globo, Opinião, p. 3
Prêmio Nobel para um índio que protege a Amazônia
Não só os indígenas estão caindo em desgraça, nós também
Leonel Kaz
Raoni é um cacique caiapó. Um brasileiro autêntico. Brasileiro é o único gentílico de nome que se assemelha a uma profissão: aquele que carrega o pau-brasil às costas. Hoje, não há mais pau-brasil. Amanhã, pode não haver mais Amazônia.
Uma proposta está sendo avivada, com apoio da Fundação Darcy Ribeiro, para que o Brasil, finalmente, consiga um Nobel. O Nobel da Paz para Raoni, 89 anos, que fez da luta pela Amazônia a razão de ser de sua vida (os saberes da cultura indígena são tão dignos de premiação quanto quaisquer outros!). Em tempos em que o poder público, encarregado de pacificar, busca, ao contrário, a contenda enfurecida, nada mais pertinente.
Venho de uma geração, na década de 1950, em que na escola primária se ensinava que os animais eram divididos em "úteis e nocivos". Eram tempos do presidente JK em que conviviam a celebração das liberdades e a sanha do "progresso a qualquer preço". Ao derrubar uma árvore gigante no trajeto da rodovia Belém-Brasília, que então se iniciava, escreveu Juscelino: "Ainda não apareceu um Euclides da Cunha para fixar, em páginas que seriam imortais, a epopeia dessa luta contra a floresta (...) Quando um cedro ou uma maçaranduba gigante parecia irremovível, encaixavam-se bananas de dinamite em fendas, abertas nas raízes, e estrondava-se o tronco. A queda de um desses reis da floresta era um espetáculo inesquecível."
Pouco mudou. Aliás, muito pouco mudou desde a chegada dos primeiros predadores, em 1500, que dizimaram milhões pela escravidão ou pelas doenças com que os infestaram. Somos um povo feito de gente desfeita, dizia Darcy. Continuamos sendo: à ocupação de terras indígenas com garimpos ilegais, segue-se o desmatamento desenfreado. Isso significa que não apenas os indígenas estão caindo em desgraça, mas nós também - urbanoides leitores de jornais... E por quê?
Os rios voadores resultantes da evapotranspiração de bilhões de árvores da Amazônia é que permitem que a Região Sudeste deste país sobreviva em umidade e chuva. Sem a Amazônia, estaremos liquidados.
Leonel Kaz é jornalista
O Globo, 24/08/2019, Opinião, p. 3
https://oglobo.globo.com/opiniao/artigo-premio-nobel-para-um-indio-que-protege-amazonia-23899162
Não só os indígenas estão caindo em desgraça, nós também
Leonel Kaz
Raoni é um cacique caiapó. Um brasileiro autêntico. Brasileiro é o único gentílico de nome que se assemelha a uma profissão: aquele que carrega o pau-brasil às costas. Hoje, não há mais pau-brasil. Amanhã, pode não haver mais Amazônia.
Uma proposta está sendo avivada, com apoio da Fundação Darcy Ribeiro, para que o Brasil, finalmente, consiga um Nobel. O Nobel da Paz para Raoni, 89 anos, que fez da luta pela Amazônia a razão de ser de sua vida (os saberes da cultura indígena são tão dignos de premiação quanto quaisquer outros!). Em tempos em que o poder público, encarregado de pacificar, busca, ao contrário, a contenda enfurecida, nada mais pertinente.
Venho de uma geração, na década de 1950, em que na escola primária se ensinava que os animais eram divididos em "úteis e nocivos". Eram tempos do presidente JK em que conviviam a celebração das liberdades e a sanha do "progresso a qualquer preço". Ao derrubar uma árvore gigante no trajeto da rodovia Belém-Brasília, que então se iniciava, escreveu Juscelino: "Ainda não apareceu um Euclides da Cunha para fixar, em páginas que seriam imortais, a epopeia dessa luta contra a floresta (...) Quando um cedro ou uma maçaranduba gigante parecia irremovível, encaixavam-se bananas de dinamite em fendas, abertas nas raízes, e estrondava-se o tronco. A queda de um desses reis da floresta era um espetáculo inesquecível."
Pouco mudou. Aliás, muito pouco mudou desde a chegada dos primeiros predadores, em 1500, que dizimaram milhões pela escravidão ou pelas doenças com que os infestaram. Somos um povo feito de gente desfeita, dizia Darcy. Continuamos sendo: à ocupação de terras indígenas com garimpos ilegais, segue-se o desmatamento desenfreado. Isso significa que não apenas os indígenas estão caindo em desgraça, mas nós também - urbanoides leitores de jornais... E por quê?
Os rios voadores resultantes da evapotranspiração de bilhões de árvores da Amazônia é que permitem que a Região Sudeste deste país sobreviva em umidade e chuva. Sem a Amazônia, estaremos liquidados.
Leonel Kaz é jornalista
O Globo, 24/08/2019, Opinião, p. 3
https://oglobo.globo.com/opiniao/artigo-premio-nobel-para-um-indio-que-protege-amazonia-23899162
The news items published by the Indigenous Peoples in Brazil site are researched daily from a variety of media outlets and transcribed as presented by their original source. ISA is not responsible for the opinios expressed or errors contained in these texts. Please report any errors in the news items directly to the source