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G20 no Brasil: Veja as propostas da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, que será lançada na semana que vem
19/07/2024
Fonte: O Globo - https://oglobo.globo.com/
G20 no Brasil: Veja as propostas da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, que será lançada na semana que vem
Incentivo à agricultura familiar é uma das propostas para incluir os pequenos produtores no mercado nacional e global de alimentos
Alice Cravo
19/07/2024
O combate à fome vai além da distribuição de alimentos. As políticas e estratégias que vêm sendo desenhadas pela presidência brasileira no G20 (grupo de 19 grandes economias globais, mais a União Europeia e a União Africana) também visam à integração social e econômica dos mais pobres e de pequenos produtores, de modo a incluí-los no mercado nacional e global de alimentos.
A principal iniciativa é a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, que será lançada em 24 de julho. O programa terá uma cesta de propostas com eficácia comprovada e será aberto para a adesão de qualquer país.
O lançamento será durante a reunião ministerial do G20, no Rio, na sede nacional da Ação da Cidadania, organização não governamental (ONG) voltada para o combate à insegurança alimentar.
Durante as discussões para a criação da aliança, o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que determina que 30% dos produtos adquiridos sejam de produtores locais, foi apontado como um dos que têm maior impacto, com retorno significativo de investimento.
Apoio a famílias no campo
A estimativa do G20 é de que a cada US$ 1 investido o retorno é de nove vezes o valor com redução de danos em outras áreas sociais. O PNAE é um dos maiores programas de acesso à alimentação do Brasil e virou vitrine mundial.
Saulo Ceolin, coordenador da Força-Tarefa do G20 para o estabelecimento da Aliança Global, aponta que a maior parte das 730 milhões de pessoas que passam fome no mundo estão concentradas no campo e, por isso, há uma conexão essencial do fortalecimento da agricultura familiar com o esforço de combate à fome:
- Vamos prever políticas de incentivo à produção da agricultura familiar, como a alimentação escolar no modelo brasileiro. Há ainda políticas no sistema do Cadastro Único (CadÚnico) e do Bolsa Família, instrumentos eficientes, mas que não são voltados especificamente para isso.
O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) é tido como uma "clássica política" que une combate à fome com inclusão social. Seu modelo também estará na cesta da Aliança Global Contra a Fome e à Pobreza.
O PAA realiza compra direta de alimentos da agricultura familiar para pessoas em situações de insegurança alimentar e nutricional e para restaurantes comunitários e cozinhas solidárias.
Lilian Rahal, secretária nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do Ministério do Desenvolvimento Social, Família e Combate à Fome (MDS) destaca que o programa promoveu a inclusão de um público diverso, como indígenas e quilombolas, e fez com que agricultores familiares passassem a ter acesso aos mercados de consumo.
Hoje, mais de 60% dos agricultores familiares são mulheres e 70% estão na base do CadÚnico:
- Se há pessoas que não acessam o alimento, nunca haverá uma nação desenvolvida, porque não existirá uma população que consiga se inserir produtivamente em atividades geradoras de renda.
Rahal diz que, atualmente, os agricultores familiares são o coração da produção alimentar de qualquer país e chave para o combate à fome. No Brasil, são eles os responsáveis pela produção de alimentos perecíveis. Também são os mais pobres e com menos recursos para sobreviver e superar problemas como mudanças climáticas.
No Brasil, cerca de 6 milhões de famílias são registradas como agricultores familiares, o que significa, em um cálculo aproximado, 30 milhões de pessoas beneficiadas. Políticas de incentivo à agricultura familiar também evitam o êxodo para grandes cidades e o aumento da pobreza urbana.
Há, no entanto, dificuldades para a plena inclusão desses agricultores nos mercados globais, que variam de acordo com a realidade de cada país.
A avaliação é que o Brasil já tem um quadro maior de incentivo, com criação de mercado, como o PAA, e de apoio direto ao setor, como o Plano Safra da Agricultura Familiar.
Já na África, por exemplo, onde há muitos países em situação de pobreza extrema e fome, há uma dificuldade de acesso a insumos, como sementes e adubos. Há, ainda, problemas de infraestrutura, um empecilho para que a produção local chegue aos centros consumidores. Esse é um dos problemas ressaltados pela União Africana durante sua participação inédita no G20.
No Brasil, para aumentar o acesso dos produtores familiares ao mercado consumidor, o Ministério do Desenvolvimento Social, comandado pelo ministro Wellington Dias, assinou um acordo com o Programa Mundial de Alimentos (WFP, na sigla em inglês), a agência de assistência alimentar das Nações Unidas, para tornar os produtores brasileiros fornecedores do programa.
A iniciativa alimenta 150 milhões de pessoas por dia em regiões de maiores necessidades, como zona de conflitos. A ideia é que através de cooperativas os agricultores brasileiros possam participar do leilão de aquisição da WFP.
Daniel Balaban, diretor do Centro de Excelência contra a Fome da WFP, também avalia que um dos caminhos para acelerar a diminuição da fome no mundo é fazer investimentos em agricultura familiar, onde está a "raiz do problema".
- Trabalhamos muito com os países menos desenvolvidos, e hoje eles estão convencidos de que devem trabalhar na agricultura familiar. Metade das pessoas no planeta vive de terra, ou é ligada à terra. Se você quer realmente inserir as pessoas do planeta, tem que trabalhar com os agricultores.
Balaban destaca ainda a face econômica do problema e a importância da construção de políticas econômicas, além das sociais, para reduzir as desigualdades do país:
- Se o Brasil quiser acabar com a fome, não será só dando comida e cesta básica. Precisa continuar, mas só isso não resolve. Você deu comida agora, de noite a pessoa está com fome de novo. Se você não mexer na raiz do problema, que é econômica, não vai distribuir renda nunca. Talvez seja esse o trabalho mais importante que o país precisa pensar. Se você não incluir as pessoas na cidadania, o país jamais será considerado um país desenvolvido.
Fabrícia Miranda, roteirista e pesquisadora, de 45 anos, é um exemplo de como o combate à fome pode ser uma ferramenta de inclusão. Em 23 de dezembro de 1995, Fabrícia, sua mãe e seus dois irmãos acessaram, pela primeira vez, o Natal sem Fome, da Ação Cidadania, e conseguiram uma cesta básica para escapar de um Natal sem comida.
Anos depois, em 2016, ela conseguiu acessar um projeto de audiovisual na ONG, onde teve acesso ao curso que abriu as portas para a sua carreira profissional:
- Aquele Natal mudou a nossa vida. Não passamos a festa sem ter o que comer. Eu gravei o nome do Betinho (fundador da Ação da Cidadania) dentro do meu coração. No curso, tive a minha primeira oportunidade. Hoje eu sou roteirista. A cesta básica me apresentou a um projeto que mudou a minha vida.
Uso de geolocalização
Junto com o Ministério do Desenvolvimento Social, a Ação Cidadania lançou em abril uma parceria para uma busca ativa de pessoas em situação de fome, através de uma ferramenta de geolocalização que encontra pessoas elegíveis aos programas, com encaminhamento ao Centro de Referência em Assistência Social.
A iniciativa tem ações voltadas para as cozinhas solidárias, com a distribuição de mil quentinhas por dia, programa de hortas, banco de alimentos para evitar o desperdício, e outras atividades.
- A gente entende que dar a comida é o momento. O que queremos é que as pessoas possam comprar seu próprio alimento - diz Daniel Souza, presidente do Conselho da ONG e filho do sociólogo Betinho, fundador da Ação da Cidadania.
https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2024/07/19/g20-no-brasil-veja-as-propostas-da-alianca-global-contra-a-fome-e-a-pobreza-que-sera-lancada-na-semana-que-vem.ghtml
Incentivo à agricultura familiar é uma das propostas para incluir os pequenos produtores no mercado nacional e global de alimentos
Alice Cravo
19/07/2024
O combate à fome vai além da distribuição de alimentos. As políticas e estratégias que vêm sendo desenhadas pela presidência brasileira no G20 (grupo de 19 grandes economias globais, mais a União Europeia e a União Africana) também visam à integração social e econômica dos mais pobres e de pequenos produtores, de modo a incluí-los no mercado nacional e global de alimentos.
A principal iniciativa é a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, que será lançada em 24 de julho. O programa terá uma cesta de propostas com eficácia comprovada e será aberto para a adesão de qualquer país.
O lançamento será durante a reunião ministerial do G20, no Rio, na sede nacional da Ação da Cidadania, organização não governamental (ONG) voltada para o combate à insegurança alimentar.
Durante as discussões para a criação da aliança, o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que determina que 30% dos produtos adquiridos sejam de produtores locais, foi apontado como um dos que têm maior impacto, com retorno significativo de investimento.
Apoio a famílias no campo
A estimativa do G20 é de que a cada US$ 1 investido o retorno é de nove vezes o valor com redução de danos em outras áreas sociais. O PNAE é um dos maiores programas de acesso à alimentação do Brasil e virou vitrine mundial.
Saulo Ceolin, coordenador da Força-Tarefa do G20 para o estabelecimento da Aliança Global, aponta que a maior parte das 730 milhões de pessoas que passam fome no mundo estão concentradas no campo e, por isso, há uma conexão essencial do fortalecimento da agricultura familiar com o esforço de combate à fome:
- Vamos prever políticas de incentivo à produção da agricultura familiar, como a alimentação escolar no modelo brasileiro. Há ainda políticas no sistema do Cadastro Único (CadÚnico) e do Bolsa Família, instrumentos eficientes, mas que não são voltados especificamente para isso.
O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) é tido como uma "clássica política" que une combate à fome com inclusão social. Seu modelo também estará na cesta da Aliança Global Contra a Fome e à Pobreza.
O PAA realiza compra direta de alimentos da agricultura familiar para pessoas em situações de insegurança alimentar e nutricional e para restaurantes comunitários e cozinhas solidárias.
Lilian Rahal, secretária nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do Ministério do Desenvolvimento Social, Família e Combate à Fome (MDS) destaca que o programa promoveu a inclusão de um público diverso, como indígenas e quilombolas, e fez com que agricultores familiares passassem a ter acesso aos mercados de consumo.
Hoje, mais de 60% dos agricultores familiares são mulheres e 70% estão na base do CadÚnico:
- Se há pessoas que não acessam o alimento, nunca haverá uma nação desenvolvida, porque não existirá uma população que consiga se inserir produtivamente em atividades geradoras de renda.
Rahal diz que, atualmente, os agricultores familiares são o coração da produção alimentar de qualquer país e chave para o combate à fome. No Brasil, são eles os responsáveis pela produção de alimentos perecíveis. Também são os mais pobres e com menos recursos para sobreviver e superar problemas como mudanças climáticas.
No Brasil, cerca de 6 milhões de famílias são registradas como agricultores familiares, o que significa, em um cálculo aproximado, 30 milhões de pessoas beneficiadas. Políticas de incentivo à agricultura familiar também evitam o êxodo para grandes cidades e o aumento da pobreza urbana.
Há, no entanto, dificuldades para a plena inclusão desses agricultores nos mercados globais, que variam de acordo com a realidade de cada país.
A avaliação é que o Brasil já tem um quadro maior de incentivo, com criação de mercado, como o PAA, e de apoio direto ao setor, como o Plano Safra da Agricultura Familiar.
Já na África, por exemplo, onde há muitos países em situação de pobreza extrema e fome, há uma dificuldade de acesso a insumos, como sementes e adubos. Há, ainda, problemas de infraestrutura, um empecilho para que a produção local chegue aos centros consumidores. Esse é um dos problemas ressaltados pela União Africana durante sua participação inédita no G20.
No Brasil, para aumentar o acesso dos produtores familiares ao mercado consumidor, o Ministério do Desenvolvimento Social, comandado pelo ministro Wellington Dias, assinou um acordo com o Programa Mundial de Alimentos (WFP, na sigla em inglês), a agência de assistência alimentar das Nações Unidas, para tornar os produtores brasileiros fornecedores do programa.
A iniciativa alimenta 150 milhões de pessoas por dia em regiões de maiores necessidades, como zona de conflitos. A ideia é que através de cooperativas os agricultores brasileiros possam participar do leilão de aquisição da WFP.
Daniel Balaban, diretor do Centro de Excelência contra a Fome da WFP, também avalia que um dos caminhos para acelerar a diminuição da fome no mundo é fazer investimentos em agricultura familiar, onde está a "raiz do problema".
- Trabalhamos muito com os países menos desenvolvidos, e hoje eles estão convencidos de que devem trabalhar na agricultura familiar. Metade das pessoas no planeta vive de terra, ou é ligada à terra. Se você quer realmente inserir as pessoas do planeta, tem que trabalhar com os agricultores.
Balaban destaca ainda a face econômica do problema e a importância da construção de políticas econômicas, além das sociais, para reduzir as desigualdades do país:
- Se o Brasil quiser acabar com a fome, não será só dando comida e cesta básica. Precisa continuar, mas só isso não resolve. Você deu comida agora, de noite a pessoa está com fome de novo. Se você não mexer na raiz do problema, que é econômica, não vai distribuir renda nunca. Talvez seja esse o trabalho mais importante que o país precisa pensar. Se você não incluir as pessoas na cidadania, o país jamais será considerado um país desenvolvido.
Fabrícia Miranda, roteirista e pesquisadora, de 45 anos, é um exemplo de como o combate à fome pode ser uma ferramenta de inclusão. Em 23 de dezembro de 1995, Fabrícia, sua mãe e seus dois irmãos acessaram, pela primeira vez, o Natal sem Fome, da Ação Cidadania, e conseguiram uma cesta básica para escapar de um Natal sem comida.
Anos depois, em 2016, ela conseguiu acessar um projeto de audiovisual na ONG, onde teve acesso ao curso que abriu as portas para a sua carreira profissional:
- Aquele Natal mudou a nossa vida. Não passamos a festa sem ter o que comer. Eu gravei o nome do Betinho (fundador da Ação da Cidadania) dentro do meu coração. No curso, tive a minha primeira oportunidade. Hoje eu sou roteirista. A cesta básica me apresentou a um projeto que mudou a minha vida.
Uso de geolocalização
Junto com o Ministério do Desenvolvimento Social, a Ação Cidadania lançou em abril uma parceria para uma busca ativa de pessoas em situação de fome, através de uma ferramenta de geolocalização que encontra pessoas elegíveis aos programas, com encaminhamento ao Centro de Referência em Assistência Social.
A iniciativa tem ações voltadas para as cozinhas solidárias, com a distribuição de mil quentinhas por dia, programa de hortas, banco de alimentos para evitar o desperdício, e outras atividades.
- A gente entende que dar a comida é o momento. O que queremos é que as pessoas possam comprar seu próprio alimento - diz Daniel Souza, presidente do Conselho da ONG e filho do sociólogo Betinho, fundador da Ação da Cidadania.
https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2024/07/19/g20-no-brasil-veja-as-propostas-da-alianca-global-contra-a-fome-e-a-pobreza-que-sera-lancada-na-semana-que-vem.ghtml
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