From Indigenous Peoples in Brazil

News

Palco de fotos de Lula e Macron, Ilha do Combu sofre sem água potável e com turismo em massa

08/12/2024

Fonte: OESP - https://www.estadao.com.br/



Palco de fotos de Lula e Macron, Ilha do Combu sofre sem água potável e com turismo em massa
Local é cartão-postal da bioeconomia, mas ainda depende de iniciativas isoladas para preservação. Estado diz que busca recursos para implantar rede de abastecimento; instituto finaliza plano de manejo

Paula Ferreira

08/12/2024

"A árvore não é nem minha nem do Lula, é da floresta", diz Dona Nena aos pés de uma sumaúma centenária. Moradora da Ilha do Combu, em Belém, ela recebeu em março uma visita ilustre. Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Emmanuel Macron, da França, estiveram em sua casa ao passarem pela capital paraense, sede da Cúpula do Clima (COP-30) em 2025. Na mesma sumaúma, os chefes de Estado foram fotografados em uma paisagem que mostrou ao mundo as riquezas da Amazônia.

O "casamento" de Lula e Macron, como ficou conhecido, deixou de fora dos holofotes, no entanto, outros aspectos da realidade local: a falta de sistema de água potável e esgoto e negócios que exploram o turismo de forma predatória. O Estado diz buscar recursos para implementar uma rede de água e esgoto na região (leia mais abaixo). Os problemas deste cartão-postal da bioeconomia foram relatados a Lula em carta entregue por Dona Nena.

"Quero que façam as coisas para a vida da gente, não para a COP-30. Não adianta fazer coisas só para gringo ver. Depois eles vão embora e o que fica pra gente?", afirma ela, fundadora da fábrica de chocolate "Filha do Combu", um dos empreendimentos mais bem-sucedidos do local.

Vivem no Combu 480 famílias. Em 1997, a Ilha de 15 km² se tornou uma Área de Proteção Ambiental (APA), mas até hoje não tem plano de manejo, que define as zonas da ilha e as regras para cada uma.

(Ideflor-Bio) diz, em nota, que o plano de gestão para a área está em fase final de elaboração. É previsto para março o documento para detalhar o zoneamento, normas e ações planejadas pelo Estado para a ilha.

Em 2006, Dona Nena passou a utilizar o cacau cultivado em seu quintal para produzir chocolates rústicos. Com o tempo, a produção se diversificou, ganhou escala e hoje o chocolate é entregue para todo o Brasil. A empresa tem como pilar a sustentabilidade e manutenção da cultura ribeirinha.

A empreendedora criou um tanque de evapotranspiração para destinar o próprio esgoto. O modelo permite que fezes virem adubo para terra, sem contaminar solo ou o lençol freático. O sistema foi desenhado por professoras da Universidade Federal Rural da Amazônia.

"A Ilha do Combu é uma APA, que só tem o nome de APA. É um perigo até de saúde para as pessoas, por não termos esgoto legal e nosso rio estar morrendo", afirma Dona Nena.

Sem água potável na ilha, à beira do Rio Guamá, moradores compram água mineral e os estabelecimentos turísticos contratam barcos-pipa. Quem não tem condição usa água da ilha, ainda que imprópria para consumo.

O Ministério Público do Pará (MP-PA) tem acompanhado a elaboração de um projeto pelo município de Belém e pela Companhia de Saneamento do Pará (Cosanpa) para fornecer água para o Combu. Procurada, a prefeitura disse que esgoto e água encanada são competência da Cosanpa. Já a companhia sugeriu dirigir os questionamentos ao município.

Em agosto, a Secretaria de Estado de Obras Públicas chegou a informar ao MP plano de licitação para fornecimento de água potável, "em virtude da proximidade da COP", visto "o apelo turístico" da ilha para o evento. No último dia 2, porém, a pasta disse ao MP que não há recursos para implementar o serviço. O Estado informou buscar verba para financiar a instalação da rede de água e esgoto na ilha.

Outros empreendimentos locais buscam relação harmônica com a natureza. No restaurante Saldosa Maloca, um dos mais tradicionais do Combu, a dona e chef Prazeres Quaresma recicla o lixo em biodigestores instalados no quintal. O gás gerado pelo processo é utilizado na cozinha.

O Saldosa Maloca também aboliu garrafas plásticas e serve água em copos, sem que os clientes precisem pagar por isso. Outros tipos de bebida são vendidos só em formato de garrafa de vidro e lata. "Em um ano, deixamos de colocar no ambiente mais de 5 mil garrafas", conta ela. "O objetivo é chegar ao lixo zero."

Hoje, apenas o lixo do banheiro e papéis que saem engordurados da cozinha não têm tratamento no restaurante. Os demais vão para biodigestores, compostagem ou reciclagem.

"Se ficar um mês sem coletar, levo para cooperativa e tudo certo. E quem não tem esse trabalho, como vai fazer com esse lixo fétido?", questionou, em referência aos problemas de coleta enfrentados no local. Em nota, a prefeitura informou que o prestador de serviços contratado para recolher o lixo tinha pendências que já foram regularizadas.

"Vivemos em um ecossistema extremamente frágil e que precisa ser cuidado. A Ilha do Combu não é para ser alvo do turismo de massa que está acontecendo", defende Prazeres.

Moradores se queixam que o turismo tem sido explorado de modo predatório, com fluxo intenso de lanchas, causando riscos aos visitantes. Segundo relatos, há estabelecimentos que poluem o rio com cloro do tratamento feito em piscinas dos bares e restaurantes, e com outros rejeitos, além de festas com som alto. Mesmo no meio da vegetação, caminhando sob árvores enormes, é possível ouvir o som alto de alguns restaurantes.

https://www.estadao.com.br/sustentabilidade/palco-de-fotos-de-lula-e-macron-ilha-do-combu-sofre-sem-agua-potavel-e-com-turismo-em-massa/
 

The news items published by the Indigenous Peoples in Brazil site are researched daily from a variety of media outlets and transcribed as presented by their original source. ISA is not responsible for the opinios expressed or errors contained in these texts. Please report any errors in the news items directly to the source