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Ansiosos para que o Arapyau chegue

03/01/2025

Autor: SURUÍ, Txai

Fonte: FSP - https://www1.folha.uol.com.br/



Ansiosos para que o Arapyau chegue
Esperamos que cada visitante do Pico do Jaraguá consiga enxergar a cidade através do olhar de quem já estava aqui

Txai Suruí
Coordenadora da Associação de Defesa Etnoambiental - Kanindé

Em meio às festividades do Ano Novo, os ava guarani da Terra Indígena Tekoha Guasu Guavirá, entre Guaíra e Terra Roxa, no oeste do Paraná, sofreram um novo ataque covarde. A região sofre com conflitos há anos que remontam a construção da Usina de Itaipu Binacional que expulsou os ava guarani de suas terras e que vem se intensificando cada vez mais. Nem mesmo a presença da Força Nacional vem impedindo os ataques criminosos com armas de fogo, incêndios criminosos, destruição de bens pessoais, intimidações e ameaças contra a comunidade.

A luta pela sobrevivência é vivenciada por nós, povo originário, desde a chegada dos colonizadores, passando pela ditadura militar e se estendendo até este novo ano.

A preocupação das autoridades este ano deve ser a COP30 ou talvez as eleições, já que alguns mandatos estão se encerrando. No entanto, este é um ano que precisamos de mudanças necessárias e aldear a política, ao mesmo tempo em que sobrevivemos aos tiros disparados contra nossas comunidades.

As palavras são limitadas para denunciar tantas violações de nossos direitos, mas faremos o possível para levar informações sobre as lutas diárias que cada povo indígena enfrenta. Vencer o governo Bolsonaro foi realmente importante, assim como conquistar o MPI e ter uma presidenta indígena na Funai e indígenas nas coordenações da Sesai, DSEIs e coordenações regionais da Funai.

Entretanto, com um Congresso tão conservador e o bolsonarismo alimentado por ódio e ganância sobre nós, a realidade é que, em meio à cidade de São Paulo, considerada um centro do capitalismo, temos aldeias que não dispõem de água potável. Essa é a realidade vivida pelas famílias na Tekoa Itakupe, uma das sete aldeias da Terra Indígena Jaraguá, onde crianças e gestantes dependem de doações de caminhões-pipa para sobreviver.

Esse projeto de genocídio está em curso desde tempos passados, quando os colonizadores, ao avistar nossas praias, decidiram matar a esperança de toda vida que encontrassem.

Visando à resistência e ao fortalecimento da luta e a transformação de nossa realidade, a Tekoa Yvy Porã da TI Jaraguá ampliará o diálogo entre seu território ancestral e a urbanização que chegou depois, através de uma feira de arte e cultura apoiada pela organização Kanindé. Convidamos a cidade a conhecer nossa cultura e os trabalhos de preservação ambiental, onde a criação de abelhas nativas fortalece as roças tradicionais e agroflorestas, além do manejo de nossas nascentes e do combate às queimadas.

Esperamos que cada visitante do Pico do Jaraguá consiga enxergar a cidade através do olhar de quem já estava aqui. Provamos que é possível viver em harmonia com a natureza, e devemos nos preocupar com cada ser. Lutamos por nossas vidas e pela existência de muitas outras comunidades, e assim seguimos, ansiosos para que o Arapyau (Ano Novo guarani) chegue, permitindo-nos também iniciar um novo ciclo em nossas vidas. Sabemos que estamos semeando esperança no coração destas grandes cidades, que são habitadas por pessoas que as pisam no dia a dia. A política pode ser difícil de mudar, mas as pessoas evoluem a cada momento. Então, feliz 2025!

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/txai-surui/2025/01/ansiosos-para-que-o-arapyau-chegue.shtml
 

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