From Indigenous Peoples in Brazil
News
Ameaça de morte é o principal tipo de violência contra quilombolas no Brasil, aponta CPT
23/07/2025
Autor: Rodrigo Chagas
Fonte: Brasil de Fato - https://www.brasildefato.com.br/
Ameaça de morte é o principal tipo de violência contra quilombolas no Brasil, aponta CPT
Estudo inédito revela mais de 3 mil conflitos envolvendo quilombolas entre 2000 e 2023
Ameaça de morte é a forma de violência que mais atinge comunidades quilombolas no Brasil. Entre 2000 e 2023, foram registrados 430 casos desse tipo pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), segundo o Atlas dos Conflitos no Campo Brasileiro, publicação inédita lançada nesta segunda-feira (21). Os dados revelam um padrão persistente de violações de direitos, com escalada de conflitos nos últimos anos e forte pressão do agro sobre os territórios ocupados tradicionalmente por povos quilombolas.
Ao longo de 24 anos, a CPT identificou 3.017 ocorrências de conflitos envolvendo comunidades quilombolas em todo o país. A maior parte está relacionada a disputas por terra (2.466 casos), seguida por conflitos por água (259). De acordo com o levantamento, além das ameaças de morte, outras formas recorrentes de violência contra quilombolas incluem prisões (69), tentativas de assassinato (50) e assassinatos (48).
A partir de 2016, o número de conflitos aumentou de forma significativa, com o pico registrado em 2020. Desde então, os conflitos por terra têm mantido uma média de 247 casos por ano. "Trata-se de uma luta ao direito de ser, ao direito territorial e como movimento de resistências às tentativas de homogeneização do campo brasileiro", diz um trecho do Atlas.
O reconhecimento dos quilombolas como sujeitos específicos nos registros da CPT só ocorre a partir dos anos 2000. Até então, essas comunidades apareciam diluídas em outras categorias, como a de posseiros. O avanço da luta do movimento negro e a consolidação de direitos constitucionais impulsionaram a visibilidade das violações sofridas por essas populações, o que também se refletiu nos registros de conflitos da CPT.
Hoje, a população quilombola é estimada em 1,3 milhão de pessoas, segundo o Censo de 2022, mas apenas 4,3% delas vivem em territórios titulados. A ausência de regularização fundiária amplia a vulnerabilidade e expõe essas comunidades à violência cotidiana nos territórios.
De acordo com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). há atualmente 600 processos de reconhecimento de terras quilombolas com algum tipo de andamento no órgão. Desde 2023, apenas 59 territórios foram titulados, sendo 38 parcialmente e 25 totalmente.
Conflitos por terra disparam e atingem maioria da população sem título
Embora o Nordeste concentre a maior parte da população quilombola (68%), a Amazônia Legal é a região com mais conflitos registrados: 65% dos casos ocorreram na região, segundo o Atlas. O Nordeste aparece em segundo lugar, com 19% das ocorrências, seguido pelo Centro-Sul (21%).
A maior parte dos assassinatos também está concentrada na Amazônia, com 54% das ocorrências. A região de São Luís (MA) reúne 63% dos casos no estado. No Nordeste, a região de Feira de Santana (BA) concentra quase metade dos assassinatos. Já no Centro-Sul, os conflitos mais graves ocorrem no Vale do Ribeira (SP) e na região metropolitana de Porto Alegre (RS).
Entre os estados, o Maranhão lidera tanto em número de comunidades identificadas (2.025) quanto em ocorrências de conflito (977). Em seguida vêm Bahia, com 1.814 localidades e 339 casos de violência, e Minas Gerais, com 979 comunidades e 212 ocorrências.
Os dados demonstram que o avanço do agronegócio, da mineração, das hidrelétricas e de outros megaprojetos - definidos pelo Atlas como "agro-hidro-minero-carbono-negócio" - são os principais vetores da violência: esse setor é responsável por 60% das ocorrências envolvendo quilombolas. O Estado brasileiro responde por 28% dos casos, por meio de ações diretas ou pela omissão diante das violações. "O Agro é violento, mata e ameaça", resume um trecho do relatório.
Resistência e luta pelo direito de existir
Apesar da violência, os quilombolas seguem se organizando para defender seus territórios. Entre 2000 e 2023, a CPT registrou 74 ocupações e 216 manifestações realizadas por comunidades quilombolas, além de dois acampamentos. Essas ações fazem parte de uma estratégia de resistência que combina mobilização política e pressão por políticas públicas.
Como destaca o Atlas dos Conflitos no Campo Brasileiro, "os territórios quilombolas constituem-se como formas específicas de uso, ocupação e cuidado com a terra e a água, e expressam modos de vida que se organizam em torno da coletividade, da ancestralidade, da reprodução do bem viver e da natureza".
O Atlas alerta que a escalada da violência contra quilombolas está diretamente ligada à ausência de titulação dos territórios, à expansão de grandes empreendimentos e à conivência do Estado com os interesses econômicos dominantes. Para os autores do estudo, garantir os direitos territoriais quilombolas não é apenas uma medida de justiça histórica, mas uma condição necessária para a proteção ambiental e a preservação da diversidade cultural do país.
Editado por: Nathallia Fonseca
https://www.brasildefato.com.br/2025/07/23/ameaca-de-morte-e-o-principal-tipo-de-violencia-contra-quilombolas-no-brasil-aponta-cpt/
Estudo inédito revela mais de 3 mil conflitos envolvendo quilombolas entre 2000 e 2023
Ameaça de morte é a forma de violência que mais atinge comunidades quilombolas no Brasil. Entre 2000 e 2023, foram registrados 430 casos desse tipo pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), segundo o Atlas dos Conflitos no Campo Brasileiro, publicação inédita lançada nesta segunda-feira (21). Os dados revelam um padrão persistente de violações de direitos, com escalada de conflitos nos últimos anos e forte pressão do agro sobre os territórios ocupados tradicionalmente por povos quilombolas.
Ao longo de 24 anos, a CPT identificou 3.017 ocorrências de conflitos envolvendo comunidades quilombolas em todo o país. A maior parte está relacionada a disputas por terra (2.466 casos), seguida por conflitos por água (259). De acordo com o levantamento, além das ameaças de morte, outras formas recorrentes de violência contra quilombolas incluem prisões (69), tentativas de assassinato (50) e assassinatos (48).
A partir de 2016, o número de conflitos aumentou de forma significativa, com o pico registrado em 2020. Desde então, os conflitos por terra têm mantido uma média de 247 casos por ano. "Trata-se de uma luta ao direito de ser, ao direito territorial e como movimento de resistências às tentativas de homogeneização do campo brasileiro", diz um trecho do Atlas.
O reconhecimento dos quilombolas como sujeitos específicos nos registros da CPT só ocorre a partir dos anos 2000. Até então, essas comunidades apareciam diluídas em outras categorias, como a de posseiros. O avanço da luta do movimento negro e a consolidação de direitos constitucionais impulsionaram a visibilidade das violações sofridas por essas populações, o que também se refletiu nos registros de conflitos da CPT.
Hoje, a população quilombola é estimada em 1,3 milhão de pessoas, segundo o Censo de 2022, mas apenas 4,3% delas vivem em territórios titulados. A ausência de regularização fundiária amplia a vulnerabilidade e expõe essas comunidades à violência cotidiana nos territórios.
De acordo com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). há atualmente 600 processos de reconhecimento de terras quilombolas com algum tipo de andamento no órgão. Desde 2023, apenas 59 territórios foram titulados, sendo 38 parcialmente e 25 totalmente.
Conflitos por terra disparam e atingem maioria da população sem título
Embora o Nordeste concentre a maior parte da população quilombola (68%), a Amazônia Legal é a região com mais conflitos registrados: 65% dos casos ocorreram na região, segundo o Atlas. O Nordeste aparece em segundo lugar, com 19% das ocorrências, seguido pelo Centro-Sul (21%).
A maior parte dos assassinatos também está concentrada na Amazônia, com 54% das ocorrências. A região de São Luís (MA) reúne 63% dos casos no estado. No Nordeste, a região de Feira de Santana (BA) concentra quase metade dos assassinatos. Já no Centro-Sul, os conflitos mais graves ocorrem no Vale do Ribeira (SP) e na região metropolitana de Porto Alegre (RS).
Entre os estados, o Maranhão lidera tanto em número de comunidades identificadas (2.025) quanto em ocorrências de conflito (977). Em seguida vêm Bahia, com 1.814 localidades e 339 casos de violência, e Minas Gerais, com 979 comunidades e 212 ocorrências.
Os dados demonstram que o avanço do agronegócio, da mineração, das hidrelétricas e de outros megaprojetos - definidos pelo Atlas como "agro-hidro-minero-carbono-negócio" - são os principais vetores da violência: esse setor é responsável por 60% das ocorrências envolvendo quilombolas. O Estado brasileiro responde por 28% dos casos, por meio de ações diretas ou pela omissão diante das violações. "O Agro é violento, mata e ameaça", resume um trecho do relatório.
Resistência e luta pelo direito de existir
Apesar da violência, os quilombolas seguem se organizando para defender seus territórios. Entre 2000 e 2023, a CPT registrou 74 ocupações e 216 manifestações realizadas por comunidades quilombolas, além de dois acampamentos. Essas ações fazem parte de uma estratégia de resistência que combina mobilização política e pressão por políticas públicas.
Como destaca o Atlas dos Conflitos no Campo Brasileiro, "os territórios quilombolas constituem-se como formas específicas de uso, ocupação e cuidado com a terra e a água, e expressam modos de vida que se organizam em torno da coletividade, da ancestralidade, da reprodução do bem viver e da natureza".
O Atlas alerta que a escalada da violência contra quilombolas está diretamente ligada à ausência de titulação dos territórios, à expansão de grandes empreendimentos e à conivência do Estado com os interesses econômicos dominantes. Para os autores do estudo, garantir os direitos territoriais quilombolas não é apenas uma medida de justiça histórica, mas uma condição necessária para a proteção ambiental e a preservação da diversidade cultural do país.
Editado por: Nathallia Fonseca
https://www.brasildefato.com.br/2025/07/23/ameaca-de-morte-e-o-principal-tipo-de-violencia-contra-quilombolas-no-brasil-aponta-cpt/
The news items published by the Indigenous Peoples in Brazil site are researched daily from a variety of media outlets and transcribed as presented by their original source. ISA is not responsible for the opinios expressed or errors contained in these texts. Please report any errors in the news items directly to the source