From Indigenous Peoples in Brazil
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'Ouro é sangue Yanomami': Dário Kopenawa denuncia destruição causada pelo garimpo
05/09/2025
Autor: Adele Robichez e Rodrigo Chagas
Fonte: Brasil de Fato - https://www.brasildefato.com.br/
'Ouro é sangue Yanomami': Dário Kopenawa denuncia destruição causada pelo garimpo
Líder indígena defende que COP30 ouça povos da floresta e não apenas autoridades políticas e econômicas
A Terra Indígena Yanomami, que viveu uma explosão de mortes e doenças durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), segue enfrentando ameaças ligadas ao garimpo ilegal. Ao BdF Entrevista, da Rádio Brasil de Fato, o líder indígena Dário Kopenawa afirmou que os avanços da atual gestão não foram suficientes para resolver o problema.
Em julho deste ano, a Casa Civil divulgou que o índice de áreas de garimpo ilegal na TI caiu 98%. De acordo com Kopenawa, no entanto, os indígenas têm observado uma realidade diferente. "Lula fez bom trabalho, o que ele prometeu, como tirar os garimpeiros ilegais. Metade, ele expulsou, sim. Mas, em outros locais, os garimpeiros estão escondidos ainda", denuncia.
Segundo ele, a atividade minerária passou a ser controlada também por facções do crime organizado, o que agravou os impactos sobre as comunidades. "O garimpo ilegal trouxe vários vetores na terra Yanomami, de violência. E depois o que? A malária, doenças, gripes. Os garimpeiros entram doentes, e transmitem as doenças para os Yanomami, como a Covid-19", relata.
Por causa do garimpo, os casos de malária na terra Yanomami subiram de 404 em 2012 para mais de 14 mil em 2020. Logo que assumiu seu terceiro mandato, em 2023, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) instaurou uma força-tarefa para garantir acesso à saúde e desintrusão do território. Kopenawa reconhece que "Lula queria resolver isso", mas avalia que "não está resolvendo, porque ele pegou muito a situação muito grave, muita violência, muita morte".
O líder lembra que a invasão do garimpo ilegal durante o governo anterior resultou na morte de centenas de crianças. "Fizemos um levantamento, quase 570 crianças morreram", revela. A partir de 2019, estima-se que mais de 20 mil garimpeiros ocuparam a terra, levando violência armada, alcoolismo, drogas e doenças. "É outro garimpo, diferente, mais industrializado, com tecnologia e energia nas terras indígenas, como a Starlink [rede de internet do bilionário Elon Musk], que acabou com os rádios", ressalta.
Vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami, ele ressalta que a luta contra o garimpo é também uma denúncia internacional. "O ouro é sangue dos Yanomami, é sangue das crianças, o sangue dos nossos parentes, dos nossos irmãos, meus primos, meus tios", declara. Ele conta que cobrou representantes europeus sobre a compra de minério extraído de forma ilegal no Brasil. "Estão comprando ouro e estão comprando o sangue dos Yanomami, o sangue dos Kayapó, o sangue dos Muduruku", cita.
COP 30 e 'projetos sujos'
O líder falou ainda sobre a expectativa para a 30 ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30), que acontecerá em novembro, em Belém (PA). Para ele, os encontros climáticos têm falhado em apresentar soluções concretas. "COP 30, COE Clima [Centro de Excelência para Resiliência Climática e Desastres], essas coisas não têm nenhum resultado, se você olhar bem. [Vivemos a] maior destruição do planeta Terra e outros países, continentes estão todos destruídos. Isso significa que não tem resultado", avalia.
Kopenawa defende que a conferência priorize a escuta de lideranças indígenas e não de autoridades políticas. "A COP 30 tem que ouvir os indígenas, os moradores da nossa terra. Nós conhecemos os indígenas, as lideranças, como Raoni [Metuktire, líder do Povo Kaypó], meu pai [Davi Kopenawa], Ailton Krenak... Eles são os grandes mestres que as autoridades têm que ouvir", defende.
Ele critica propostas que devem ganhar espaço no evento, como o mercado de crédito de carbono. "Um crédito de carbono, vai matar mais a Amazônia. Estou falando projetos sujos. Esse dinheiro que [o projeto] está querendo captar não vai diminuir [a crise climática]. Dinheiro não cura a terra", diz.
Na avaliação dele, ao invés de alimentar a estrutura capitalista, o orçamento público deveria ser investido em educação, saúde e segurança dos povos indígenas. "Não tem investimento para a população indígena. A população está vivendo [em situação] de pobreza e as crianças estão morrendo, dormindo na rua, [sendo levadas à] prostituição porque não tem comida e estão passando fome", denuncia.
https://www.brasildefato.com.br/podcast/brasil-de-fato-entrevista/2025/09/05/ouro-e-sangue-yanomami-lider-indigena-denuncia-destruicao-causada-pelo-garimpo/
Líder indígena defende que COP30 ouça povos da floresta e não apenas autoridades políticas e econômicas
A Terra Indígena Yanomami, que viveu uma explosão de mortes e doenças durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), segue enfrentando ameaças ligadas ao garimpo ilegal. Ao BdF Entrevista, da Rádio Brasil de Fato, o líder indígena Dário Kopenawa afirmou que os avanços da atual gestão não foram suficientes para resolver o problema.
Em julho deste ano, a Casa Civil divulgou que o índice de áreas de garimpo ilegal na TI caiu 98%. De acordo com Kopenawa, no entanto, os indígenas têm observado uma realidade diferente. "Lula fez bom trabalho, o que ele prometeu, como tirar os garimpeiros ilegais. Metade, ele expulsou, sim. Mas, em outros locais, os garimpeiros estão escondidos ainda", denuncia.
Segundo ele, a atividade minerária passou a ser controlada também por facções do crime organizado, o que agravou os impactos sobre as comunidades. "O garimpo ilegal trouxe vários vetores na terra Yanomami, de violência. E depois o que? A malária, doenças, gripes. Os garimpeiros entram doentes, e transmitem as doenças para os Yanomami, como a Covid-19", relata.
Por causa do garimpo, os casos de malária na terra Yanomami subiram de 404 em 2012 para mais de 14 mil em 2020. Logo que assumiu seu terceiro mandato, em 2023, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) instaurou uma força-tarefa para garantir acesso à saúde e desintrusão do território. Kopenawa reconhece que "Lula queria resolver isso", mas avalia que "não está resolvendo, porque ele pegou muito a situação muito grave, muita violência, muita morte".
O líder lembra que a invasão do garimpo ilegal durante o governo anterior resultou na morte de centenas de crianças. "Fizemos um levantamento, quase 570 crianças morreram", revela. A partir de 2019, estima-se que mais de 20 mil garimpeiros ocuparam a terra, levando violência armada, alcoolismo, drogas e doenças. "É outro garimpo, diferente, mais industrializado, com tecnologia e energia nas terras indígenas, como a Starlink [rede de internet do bilionário Elon Musk], que acabou com os rádios", ressalta.
Vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami, ele ressalta que a luta contra o garimpo é também uma denúncia internacional. "O ouro é sangue dos Yanomami, é sangue das crianças, o sangue dos nossos parentes, dos nossos irmãos, meus primos, meus tios", declara. Ele conta que cobrou representantes europeus sobre a compra de minério extraído de forma ilegal no Brasil. "Estão comprando ouro e estão comprando o sangue dos Yanomami, o sangue dos Kayapó, o sangue dos Muduruku", cita.
COP 30 e 'projetos sujos'
O líder falou ainda sobre a expectativa para a 30 ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30), que acontecerá em novembro, em Belém (PA). Para ele, os encontros climáticos têm falhado em apresentar soluções concretas. "COP 30, COE Clima [Centro de Excelência para Resiliência Climática e Desastres], essas coisas não têm nenhum resultado, se você olhar bem. [Vivemos a] maior destruição do planeta Terra e outros países, continentes estão todos destruídos. Isso significa que não tem resultado", avalia.
Kopenawa defende que a conferência priorize a escuta de lideranças indígenas e não de autoridades políticas. "A COP 30 tem que ouvir os indígenas, os moradores da nossa terra. Nós conhecemos os indígenas, as lideranças, como Raoni [Metuktire, líder do Povo Kaypó], meu pai [Davi Kopenawa], Ailton Krenak... Eles são os grandes mestres que as autoridades têm que ouvir", defende.
Ele critica propostas que devem ganhar espaço no evento, como o mercado de crédito de carbono. "Um crédito de carbono, vai matar mais a Amazônia. Estou falando projetos sujos. Esse dinheiro que [o projeto] está querendo captar não vai diminuir [a crise climática]. Dinheiro não cura a terra", diz.
Na avaliação dele, ao invés de alimentar a estrutura capitalista, o orçamento público deveria ser investido em educação, saúde e segurança dos povos indígenas. "Não tem investimento para a população indígena. A população está vivendo [em situação] de pobreza e as crianças estão morrendo, dormindo na rua, [sendo levadas à] prostituição porque não tem comida e estão passando fome", denuncia.
https://www.brasildefato.com.br/podcast/brasil-de-fato-entrevista/2025/09/05/ouro-e-sangue-yanomami-lider-indigena-denuncia-destruicao-causada-pelo-garimpo/
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