From Indigenous Peoples in Brazil
Notícias
Questão indígena ganha destaque em eventos psicodélicos
02/10/2025
Fonte: FSP - https://www1.folha.uol.com.br/
Questão indígena ganha destaque em eventos psicodélicos
São Paulo, São Francisco, Orocó e Girona terão debates sobre ciência ancestral
02/10/2025
Nesta terça-feira (30) a Semana de Inovação da Escola Nacional de Administração Pública (Enap) teve a mesa-redonda "Inovação com Base Ancestral: Medicinas Indígenas no SUS". Em pauta estava a perspectiva -talvez utópica- de a saúde mental no Brasil beneficiar-se de substâncias psicodélicas presentes em bebidas tradicionais como a ayahuasca e o vinho da jurema-preta, em especial a depressão.
Não que a perspectiva esteja próxima, longe disso. O psicodélico dimetiltriptamina (DMT) contido nesses preparados segue proibido, embora pesquisas clínicas indiquem seu potencial antidepressivo e baixo risco para dependência química. E existe também a barreira representada pela resistência de povos originários ao que consideram apropriação cultural e tecnológica de algo sagrado.
O debate se seguiu ao lançamento em Brasília do livro "A Ciência Encantada de Jurema" e contou com a antropóloga Elisa Pankararu, o neurocientista Dráulio de Araújo e o psicólogo Edinaldo Xucuru (atuei como moderador). Foi natural a conversa orbitar o uso da jurema-preta (Mimosa tenuiflora), cuja raiz é usada há séculos por povos do sertão nordestino, como os Pankararu e os Xucuru.
Estima-se que existam no Brasil pelo menos 11 milhões de pessoas deprimidas, mais de 4 milhões delas com a forma resistente a tratamento do transtorno, ou seja, que não respondem aos antidepressivos disponíveis. Eis aí um problema de saúde pública a clamar por soluções inovadoras. Por que não poderiam elas vir do conhecimento acumulado por séculos ou milênios no uso dessas substâncias?
Das falas de Elisa, Dráulio e Edinaldo ficou evidente: não há resposta simples para a pergunta, nem caminhos óbvios para chegar a ela. Quaisquer que sejam, não há dúvida de que precisarão envolver esclarecimento do público e de autoridades sobre terapias psicodélicas, de modo a abater preconceitos injustificados.
Mas, antes de tudo, há que promover reconhecimento, respeito, diálogo e repartição de eventuais benefícios com povos indígenas. É o primeiro passo para a ciência psicodélica acadêmica, movida pela busca de terapias inovadoras, chegar a algum lugar. Pelas discussões, parece que alguma coisa está em movimento.
Não que a questão seja nova. Entidades indígenas e grupos como o Instituto Chacruna, dirigido pela antropóloga Bia Labate, levantam o tema da reciprocidade há anos. Subsistem diferentes visões sobre como lograr esse objetivo, o que pode alimentar controvérsias e mais calor que luz, mas ninguém questiona a necessidade de retomar e aprofundar esse diálogo entre ciência indígena e ciência acadêmica.
Isso ficou evidente em dois eventos cruciais deste ano, a 5ª Conferência Indígena da Ayahuasca, realizada em janeiro no Acre, e o 1o Seminário de Medicinas Ancestrais: Jurema, em maio em Pernambuco. Cada uma a seu modo, ambas as reuniões atacaram de frente as difíceis relações entre as duas formas de conhecimento.
Os debates terão continuidade em abril de 2026 na conferência Cultura Psicodélica, do Chacruna, em abril em São Francisco (EUA); no 2o Seminário de Medicinas Ancestrais: Jurema, em maio, de novo em Orocó (Pernambuco); e no Fórum Mundial da Ayahuasca, em setembro de 2026 em Girona (Espanha).
Antes disso, o tema volta à baila em 11 e 12 de outubro no Festival Híbrido em São Paulo. A terceira edição do evento sobre empreendedorismo canábico terá este ano uma seção dedicada à cultura psicodélica.
Haverá discussões sobre legalização, uso terapêutico de psicodélicos, integração entre espiritualidade e ciência, saberes indígenas e políticas públicas de saúde. Várias mesas tratarão da questão indígena, sob curadoria do jornalista Carlos Minuano.
Estarei com ele, Nathan Fernandes e Maria Clara Rossini, ainda que só por vídeo, num debate sobre "Jornalismo Psicodélico: Ética, Linguagem e Liberdade", no domingo (12).
https://www1.folha.uol.com.br/blogs/virada-psicodelica/2025/10/questao-indigena-ganha-destaque-em-eventos-psicodelicos.shtml
São Paulo, São Francisco, Orocó e Girona terão debates sobre ciência ancestral
02/10/2025
Nesta terça-feira (30) a Semana de Inovação da Escola Nacional de Administração Pública (Enap) teve a mesa-redonda "Inovação com Base Ancestral: Medicinas Indígenas no SUS". Em pauta estava a perspectiva -talvez utópica- de a saúde mental no Brasil beneficiar-se de substâncias psicodélicas presentes em bebidas tradicionais como a ayahuasca e o vinho da jurema-preta, em especial a depressão.
Não que a perspectiva esteja próxima, longe disso. O psicodélico dimetiltriptamina (DMT) contido nesses preparados segue proibido, embora pesquisas clínicas indiquem seu potencial antidepressivo e baixo risco para dependência química. E existe também a barreira representada pela resistência de povos originários ao que consideram apropriação cultural e tecnológica de algo sagrado.
O debate se seguiu ao lançamento em Brasília do livro "A Ciência Encantada de Jurema" e contou com a antropóloga Elisa Pankararu, o neurocientista Dráulio de Araújo e o psicólogo Edinaldo Xucuru (atuei como moderador). Foi natural a conversa orbitar o uso da jurema-preta (Mimosa tenuiflora), cuja raiz é usada há séculos por povos do sertão nordestino, como os Pankararu e os Xucuru.
Estima-se que existam no Brasil pelo menos 11 milhões de pessoas deprimidas, mais de 4 milhões delas com a forma resistente a tratamento do transtorno, ou seja, que não respondem aos antidepressivos disponíveis. Eis aí um problema de saúde pública a clamar por soluções inovadoras. Por que não poderiam elas vir do conhecimento acumulado por séculos ou milênios no uso dessas substâncias?
Das falas de Elisa, Dráulio e Edinaldo ficou evidente: não há resposta simples para a pergunta, nem caminhos óbvios para chegar a ela. Quaisquer que sejam, não há dúvida de que precisarão envolver esclarecimento do público e de autoridades sobre terapias psicodélicas, de modo a abater preconceitos injustificados.
Mas, antes de tudo, há que promover reconhecimento, respeito, diálogo e repartição de eventuais benefícios com povos indígenas. É o primeiro passo para a ciência psicodélica acadêmica, movida pela busca de terapias inovadoras, chegar a algum lugar. Pelas discussões, parece que alguma coisa está em movimento.
Não que a questão seja nova. Entidades indígenas e grupos como o Instituto Chacruna, dirigido pela antropóloga Bia Labate, levantam o tema da reciprocidade há anos. Subsistem diferentes visões sobre como lograr esse objetivo, o que pode alimentar controvérsias e mais calor que luz, mas ninguém questiona a necessidade de retomar e aprofundar esse diálogo entre ciência indígena e ciência acadêmica.
Isso ficou evidente em dois eventos cruciais deste ano, a 5ª Conferência Indígena da Ayahuasca, realizada em janeiro no Acre, e o 1o Seminário de Medicinas Ancestrais: Jurema, em maio em Pernambuco. Cada uma a seu modo, ambas as reuniões atacaram de frente as difíceis relações entre as duas formas de conhecimento.
Os debates terão continuidade em abril de 2026 na conferência Cultura Psicodélica, do Chacruna, em abril em São Francisco (EUA); no 2o Seminário de Medicinas Ancestrais: Jurema, em maio, de novo em Orocó (Pernambuco); e no Fórum Mundial da Ayahuasca, em setembro de 2026 em Girona (Espanha).
Antes disso, o tema volta à baila em 11 e 12 de outubro no Festival Híbrido em São Paulo. A terceira edição do evento sobre empreendedorismo canábico terá este ano uma seção dedicada à cultura psicodélica.
Haverá discussões sobre legalização, uso terapêutico de psicodélicos, integração entre espiritualidade e ciência, saberes indígenas e políticas públicas de saúde. Várias mesas tratarão da questão indígena, sob curadoria do jornalista Carlos Minuano.
Estarei com ele, Nathan Fernandes e Maria Clara Rossini, ainda que só por vídeo, num debate sobre "Jornalismo Psicodélico: Ética, Linguagem e Liberdade", no domingo (12).
https://www1.folha.uol.com.br/blogs/virada-psicodelica/2025/10/questao-indigena-ganha-destaque-em-eventos-psicodelicos.shtml
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