From Indigenous Peoples in Brazil
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Indígenas de recente contato no sul do Amazonas vivem surto de malária e atendimento falho no parto
02/10/2025
Fonte: FSP - https://www1.folha.uol.com.br/
Indígenas de recente contato no sul do Amazonas vivem surto de malária e atendimento falho no parto
Força Nacional do SUS foi acionada para apoio em testes rápidos, numa porção do território com 398 casos no ano
Pirahãs protestam contra assistência ruim a mulheres na hora do parto, e Ministério da Saúde diz que atendimento foi normalizado
02/10/2025
Vinicius Sassine
Diante de um surto de malária, a Força Nacional do SUS foi acionada para atuar na Terra Indígena Pirahã, um território cuja porção sul margeia a BR-230 -a Transamazônica-, no sul do Amazonas.
Os pirahãs são indígenas de recente contato, com alta mobilidade -para além dos limites do território demarcado, devido a hábitos nômades-, que não falam a língua portuguesa e que vivem de roça, pesca, caça e coleta na floresta amazônica, além de cestas básicas distribuídas pela Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas).
Integrantes da Funai detectaram a persistência da alta incidência de malária, uma doença que drena a energia, compromete a força de trabalho e provoca danos no fígado, quando reincidente -o que é bem comum entre populações amazônicas que vivem em áreas com grandes focos do mosquito transmissor e com circulação de hospedeiros.
Segundo esses integrantes da Funai, o que ocorre na terra Pirahã é uma epidemia, com a persistência de incidência de malária em níveis elevados, durante um grande período. Mulheres e crianças estão entre os principais infectados.
Dados fornecidos pelo Ministério da Saúde confirmam essa realidade. Nos primeiros nove meses do ano, houve a notificação de 398 casos de malária em aldeias habitadas pelos pirahãs, segundo nota da pasta enviada à reportagem.
Esses dados se referem a registros de um DSEI (Distrito Sanitário Especial Indígena), vinculado ao ministério; o território, pela extensão, é atendido por dois DSEIs. Cerca de mil pirahãs vivem na terra indígena.
Não houve mortes por malária entre os pirahãs desde 2023, segundo o ministério.
Relatórios da Funai registram ainda situações de desnutrição e insegurança alimentar entre os pirahãs no ano de 2024. Segundo técnicos, houve melhora da situação em 2025.
A Força Nacional do SUS, que é convocada para atuar em situações de urgência e de epidemia, por exemplo, atuou no território dos pirahãs de 18 a 26 de setembro, em apoio à realização de 332 testes rápidos para malária, conforme o ministério.
"O ministério intensificou a vigilância com a busca ativa de casos, diagnóstico com testes rápidos, microscopia e acompanhamento clínico", disse a pasta. "Também estão em andamento ações de controle vetorial como borrifação, distribuição de mosquiteiros e, se necessário, nebulização especial."
A Funai detectou ainda uma insatisfação dos pirahãs com o atendimento em saúde dado às mulheres grávidas, o que resultou num protesto e ataque com pedras, no começo de setembro, a uma casa de apoio da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) no território. Um bebê morreu após o parto; a mulher não teve a devida assistência médica, conforme relatos de pirahãs.
Segundo o Ministério da Saúde, em 2024, mais de 85% das gestantes da região foram atendidas com seis ou mais consultas de pré-natal. Houve dois óbitos de crianças com menos de um ano em 2024 e, em 2025, três óbitos, conforme os registros oficiais.
"Sobre o protesto, o atendimento de saúde na região do alto rio Maici já está normalizado", disse a pasta. "O ministério, por meio da Sesai, reorganizou e reforçou as equipes de saúde e de endemias. Situações de conflito são de competência da Funai."
Segundo o MPF (Ministério Público Federal) no Amazonas, a situação da malária é preocupante tanto no baixo rio Maici -região a que se referem os dados existentes sobre a doença- quanto no alto Maici.
A Procuradoria disse que o atendimento em saúde foi suspenso após o ataque com pedras, o que agravaria a realidade de expansão da malária. O MPF recomendou, no dia 24, a adoção de medidas para contenção do surto de malária e o retorno de equipes de saúde ao território de forma integral e contínua.
Técnicos da Funai investigam se pode existir alguma relação entre a contrariedade com a falta de assistência no parto e o conflito com não indígenas -moradores do entorno do território- que resultou na morte de um agricultor, no último dia 15. Outro homem foi ferido a flechadas, segundo os relatos feitos.
Conforme o boletim de ocorrência registrado na polícia, a casa do agricultor José Ailton Teodoro dos Santos foi invadida por indígenas, que teriam roubado roupas e comida. Depois, ele e mais três homens teriam perseguido o grupo para recuperação dos pertences, quando teria havido o ataque com flechas. O corpo de José Ailton foi encontrado no rio Maici Mirim, afluente do rio Madeira.
A Funai diz que existe um longo histórico de "assédio territorial" por parte de moradores que vivem no entorno da terra Pirahã. A mobilidade dos indígenas, para além dos limites demarcados, acompanha a sazonalidade de recursos nos períodos de seca e de cheia, além da cosmologia pirahã e lugares sagrados, segundo a Funai.
Desde a morte do agricultor, houve protestos contra os indígenas, presencial e virtualmente, o que inclui ataques racistas contra os pirahãs, numa região onde são recorrentes conflitos, enfrentamentos e invasões de territórios tradicionais. O sul do Amazonas é uma das fronteiras do desmatamento da amazônia, com avanço da grilagem de terras.
https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2025/10/indigenas-de-recente-contato-no-sul-do-amazonas-vivem-surto-de-malaria-e-atendimento-falho-no-parto.shtml
Força Nacional do SUS foi acionada para apoio em testes rápidos, numa porção do território com 398 casos no ano
Pirahãs protestam contra assistência ruim a mulheres na hora do parto, e Ministério da Saúde diz que atendimento foi normalizado
02/10/2025
Vinicius Sassine
Diante de um surto de malária, a Força Nacional do SUS foi acionada para atuar na Terra Indígena Pirahã, um território cuja porção sul margeia a BR-230 -a Transamazônica-, no sul do Amazonas.
Os pirahãs são indígenas de recente contato, com alta mobilidade -para além dos limites do território demarcado, devido a hábitos nômades-, que não falam a língua portuguesa e que vivem de roça, pesca, caça e coleta na floresta amazônica, além de cestas básicas distribuídas pela Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas).
Integrantes da Funai detectaram a persistência da alta incidência de malária, uma doença que drena a energia, compromete a força de trabalho e provoca danos no fígado, quando reincidente -o que é bem comum entre populações amazônicas que vivem em áreas com grandes focos do mosquito transmissor e com circulação de hospedeiros.
Segundo esses integrantes da Funai, o que ocorre na terra Pirahã é uma epidemia, com a persistência de incidência de malária em níveis elevados, durante um grande período. Mulheres e crianças estão entre os principais infectados.
Dados fornecidos pelo Ministério da Saúde confirmam essa realidade. Nos primeiros nove meses do ano, houve a notificação de 398 casos de malária em aldeias habitadas pelos pirahãs, segundo nota da pasta enviada à reportagem.
Esses dados se referem a registros de um DSEI (Distrito Sanitário Especial Indígena), vinculado ao ministério; o território, pela extensão, é atendido por dois DSEIs. Cerca de mil pirahãs vivem na terra indígena.
Não houve mortes por malária entre os pirahãs desde 2023, segundo o ministério.
Relatórios da Funai registram ainda situações de desnutrição e insegurança alimentar entre os pirahãs no ano de 2024. Segundo técnicos, houve melhora da situação em 2025.
A Força Nacional do SUS, que é convocada para atuar em situações de urgência e de epidemia, por exemplo, atuou no território dos pirahãs de 18 a 26 de setembro, em apoio à realização de 332 testes rápidos para malária, conforme o ministério.
"O ministério intensificou a vigilância com a busca ativa de casos, diagnóstico com testes rápidos, microscopia e acompanhamento clínico", disse a pasta. "Também estão em andamento ações de controle vetorial como borrifação, distribuição de mosquiteiros e, se necessário, nebulização especial."
A Funai detectou ainda uma insatisfação dos pirahãs com o atendimento em saúde dado às mulheres grávidas, o que resultou num protesto e ataque com pedras, no começo de setembro, a uma casa de apoio da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) no território. Um bebê morreu após o parto; a mulher não teve a devida assistência médica, conforme relatos de pirahãs.
Segundo o Ministério da Saúde, em 2024, mais de 85% das gestantes da região foram atendidas com seis ou mais consultas de pré-natal. Houve dois óbitos de crianças com menos de um ano em 2024 e, em 2025, três óbitos, conforme os registros oficiais.
"Sobre o protesto, o atendimento de saúde na região do alto rio Maici já está normalizado", disse a pasta. "O ministério, por meio da Sesai, reorganizou e reforçou as equipes de saúde e de endemias. Situações de conflito são de competência da Funai."
Segundo o MPF (Ministério Público Federal) no Amazonas, a situação da malária é preocupante tanto no baixo rio Maici -região a que se referem os dados existentes sobre a doença- quanto no alto Maici.
A Procuradoria disse que o atendimento em saúde foi suspenso após o ataque com pedras, o que agravaria a realidade de expansão da malária. O MPF recomendou, no dia 24, a adoção de medidas para contenção do surto de malária e o retorno de equipes de saúde ao território de forma integral e contínua.
Técnicos da Funai investigam se pode existir alguma relação entre a contrariedade com a falta de assistência no parto e o conflito com não indígenas -moradores do entorno do território- que resultou na morte de um agricultor, no último dia 15. Outro homem foi ferido a flechadas, segundo os relatos feitos.
Conforme o boletim de ocorrência registrado na polícia, a casa do agricultor José Ailton Teodoro dos Santos foi invadida por indígenas, que teriam roubado roupas e comida. Depois, ele e mais três homens teriam perseguido o grupo para recuperação dos pertences, quando teria havido o ataque com flechas. O corpo de José Ailton foi encontrado no rio Maici Mirim, afluente do rio Madeira.
A Funai diz que existe um longo histórico de "assédio territorial" por parte de moradores que vivem no entorno da terra Pirahã. A mobilidade dos indígenas, para além dos limites demarcados, acompanha a sazonalidade de recursos nos períodos de seca e de cheia, além da cosmologia pirahã e lugares sagrados, segundo a Funai.
Desde a morte do agricultor, houve protestos contra os indígenas, presencial e virtualmente, o que inclui ataques racistas contra os pirahãs, numa região onde são recorrentes conflitos, enfrentamentos e invasões de territórios tradicionais. O sul do Amazonas é uma das fronteiras do desmatamento da amazônia, com avanço da grilagem de terras.
https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2025/10/indigenas-de-recente-contato-no-sul-do-amazonas-vivem-surto-de-malaria-e-atendimento-falho-no-parto.shtml
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