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A voz de Surucucu

04/11/2025

Autor: Felipe Medeiros

Fonte: Amazonia Real - https://amazoniareal.com.br



Um futuro onde crianças brincam e roças voltam a ser fartas. Depois de anos de crise humanitária causada pelo garimpo ilegal, a Terra Indígena Yanomami dá sinais de renascimento. Único veículo de comunicação a testemunhar o 6o Fórum de Lideranças Yanomami e Ye'kwana, em Roraima, a Amazônia Real encontrou os efeitos positivos que a desintrusão já gerou. Mas enquanto o povo celebra a vida, simbolizada pelo simples ato de beber água limpa, a ameaça do garimpo persiste. Mais de 550 líderes e parentes firmaram a Carta de Surucucu, cobrando a retirada imediata e definitiva dos invasores.

Terra Indígena Yanomami (RR) - A reportagem da Amazônia Real visitou a roça da pajé Simone Yanomami, cerca de 5 quilômetros de mata adentro da comunidade Kori Yauopë, região de Surucucu. Com orgulho, ela exibia a plantação de macaxeira, banana, taioba e ainda pediu para seu cunhado colher cana-de-açúcar para os repórteres antes de retornarem para "o Fórum". Era preciso um reforço de energia para encarar a caminhada de volta ao malocão que recebeu mais de 550 indígenas de diversas regiões, além de representantes da Venezuela, reunidos para discutir o futuro do povo Yanomami.

O 6o Fórum de Lideranças Yanomami e Ye'kwana, realizado entre 20 e 24 de outubro de 2025, renovou as esperanças de um povo castigado por décadas de exploração de ouro ilegal no território. A situação ficou ainda mais grave no auge da crise sanitária da pandemia da Covid-19. Simone e os parentes passaram anos sem uma roça farta e viviam preocupados com a segurança. A pajé afirma que ainda há áreas da Terra Indígena Yanomami (TIY) que os indígenas não podem fazer como ela. "Só longe, Parima, Xitei, Parafuli, Romoxi", citou as regiões.

Em um debate final do fórum, Waihiri Hekurari esbanjava otimismo. Comparou o passado com o presente. "Não tinha como ter roça daquele tipo [referiu-se à de Simone]. Porque os homens estavam com malária. Como é que o homem com malária, com febre, que não consegue andar, não tem força, como é que vai construir a roça?" No território Yanomami, localizado em Roraima e na parte norte do Amazonas, os homens caçam e fazem a roça, mas são mulheres como Simone que cuidam dela.

"Hoje vejo muitas crianças falando de novo, subindo [em árvores], caçando, brincando com as flechas. Fico muito contente quando vejo a criança correndo, jogando bola. Antes não conseguia nada", lembrou Waihiri, antes conhecido como Júnior Hekurari Yanomami, presidente da Urihi Associação Yanomami, e ex-presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi) Yanomami.

"Eu andava muito nas comunidades e levava muitos corpos das crianças. E muitas morreram, eu carregando, de Xitei de helicóptero pra cá, porque não tinha profissionais de saúde. Tinha dois profissionais cuidando aqui para cuidar de 100 crianças ruins", lamentou Hekurari. Na época mais crítica da crise, elas não eram vistas como hoje, saudáveis e brincando nas comunidades.

A Amazônia Real foi o único veículo de mídia presente no 6o Fórum de Lideranças Yanomami e Ye'kwana. Foi contrastante e gratificante poder observar a nova realidade. Nos cinco dias desse encontro, depois de um café da manhã reforçado para toda a comunidade, parte das crianças - coradas e fortes - brincava em volta do malocão com suas mães atentas a elas e ao futuro. As mulheres de bebês de colo visivelmente conseguem agora amamentar. O choro que se ouvia ali era de birra e não por desnutrição ou outras doenças, como a agência constatou em 2023, durante o início da desintrusão da TIY.

Aquela preocupação excessiva agora até abre brechas para o futebol que ocorre todos os dias, e reúne adolescentes e crianças, a poucos metros do xapono [moradia e ambiente onde os indígenas vivem e circulam] do Fórum. A bola só para quando escurece e nos horários das refeições. Além da reabertura das roças, nota-se a recuperação das águas. Os Yanomami estão voltando a tomar água limpa (não contaminada), pescar e se divertir nas cachoeiras e igarapés.

Na chegada para o 6o Fórum, a reportagem sobrevoou paredões de mata verde que se estendiam como braços abertos em proteção à TIY. Mas, vista do alto, a floresta ainda revela suas cicatrizes: crateras de água parada barrenta, abertas e deixadas pelo garimpo nas margens do rio Uraricoera.

O garimpo, o maior inimigo

É por esse motivo que o garimpo continua sendo o maior inimigo da floresta e da vida Yanomami. As lideranças reconhecem os esforços do governo federal, mas alertam que a desintrusão está longe de ser completa. "A maioria dos garimpeiros já foi retirada da nossa floresta, o que nos traz alívio e renova a esperança em um futuro melhor", afirma a Carta de Surucucu, um documento oficial extraído do fórum. "Mas não podemos parar agora: a retirada precisa ser total, até que o último foco de garimpo desapareça."

A prova de que o governo federal não pode baixar a guarda apareceu durante a semana do Fórum. Enquanto as lideranças Yanomami e Ye'kwana estavam reunidas, o grupo Jaguar (formado por jovens Yanomami para o monitoramento das regiões na calha do rio Uraricoera) apreendeu garimpeiros na região de Palimiú. O episódio causou revolta entre as lideranças, que chegaram a cogitar levar os invasores para uma exposição pública durante o encontro, em protesto contra a continuidade das invasões.

A reportagem da Amazônia Real conversou com Josimar Palimitheli, de 28 anos, integrante do grupo Jaguar. Segundo ele, a captura ocorreu por volta das três horas da madrugada. Josimar estava acompanhado de mais dois jovens Yanomami quando ouviu um barulho suspeito vindo do rio. "Os garimpeiros passaram por cima do cabo de aço", relatou.

Ao perceber a embarcação parada com quatro homens dormindo, Josimar decidiu agir. "Peguei o barco e bati no barco deles", relatou. A ação deu início a uma perseguição: os garimpeiros tentaram fugir e atiraram contra os jovens Yanomami, que conhecem melhor as corredeiras do território. Os jovens do Jaguar derrubaram os homens na água de forte correnteza e o barco ficou sobre as pedras. Após isso eles acionaram a Força Nacional e a Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), que mantêm uma barreira de fiscalização na região.

"Eu não tenho medo dos garimpeiros, porque fiquei muito bravo com eles. Não sou fraco, eu sou forte, somos fortes. Eu estava protegendo meu rio. Não quero poluir meu rio. Ano passado tinha água muito suja. Eu não tenho medo, eu sou acostumado a prender os garimpeiros", comentou Josimar. Na embarcação dos invasores, o jovem relatou ter encontrado pistolas, cassiterita, um equipamento de internet Starlink e bebidas alcoólicas.

No sábado de 1o de novembro, com a equipe da Amazônia Real já de volta a Boa Vista, Josimar enviou imagens, registradas no dia anterior, de uma embarcação e um acampamento. "Encontramos um barco pequeno, motor 15 Yamaha, dentro do barco tinham muitos materiais", escreveu. Em uma das fotos aparece uma estrutura de madeira e uma possível draga.

A reportagem acompanhou também a conversa em um grupo de WhatsApp, intitulado "Garimpeiros de Roraima", com 35 membros. Na semana seguinte ao Fórum, um homem ofereceu mercúrio para os integrantes. "Ainda tem azougue interessado chama no PV", disse. "Azougue" é uma das formas que eles denominam o metal pesado.

Moradores da região do Apiaú, na cidade de Mucajaí, também em Roraima, que pediram anonimato por segurança, relataram à Amazônia Real em 1o de novembro, que a vicinal 21, no fim de setembro, ficou parcialmente interditada, sem a presença de forças policiais. Segundo um dos áudios obtidos pela reportagem, "até os postes tinham sido retirados do lugar para favorecer o pouso de aviões". Essa fala reforça as suspeitas de que o trecho foi usado como pista de pouso clandestina a serviço do garimpo havia poucos dias.

O relato dá mais substância ao alerta das lideranças Yanomami durante o 6o Fórum, que cobraram do governo federal a continuidade das operações de desintrusão e o fortalecimento da Casa de Governo, em Roraima. Para eles, baixar a guarda agora seria abrir caminho para o retorno da destruição.

Em julho passado, o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) divulgou redução de 98% das áreas de garimpo na TIY. Os Yanomami têm a sua própria contagem, a partir de sua metodologia, para lidar com dados quantitativos. Para as lideranças, mais que números, é preciso provas visuais e respostas do território e da floresta.

Dário Yanomami, líder de seu povo e filho de Davi Kopenawa, principal liderança de seu povo, alerta que o garimpo não cessou suas atividades. "Aos nossos olhos, [está] aumentando de novo, essa matemática de porcentagem a gente não fala publicamente, mas a gente está olhando o garimpo continua na terra", ressaltou.

A Carta de Surucucu

Na Carta de Surucucu, os povos Yanomami e Ye'kwana pedem medidas mais duras contra os financiadores do garimpo e a aprovação, no Senado, do Projeto de Lei 3.776/2024, que amplia as penas para crimes de mineração ilegal. Ainda segundo o texto, a Funai deve "avançar na implementação das Bases de Proteção Etnoambiental" e apoiar o Plano de Vigilância Indígena da Terra Yanomami.

O documento é assinado por Davi Kopenawa, presidente da Hutukara, por Waihiri Hekurari, da Urihi, e por lideranças da Ayrca (Associação Yanonami do Rio Cauaburis e Afluentes), Amyk (Associação de Mulheres Yanomami Kumirayoma), AKY (Associação Kurikama Yanomami), Parawami (Associação Parawami Yanomami) e Seduume (Associação Ye'kwana Wanasseduume) que representam a TIY, as mulheres e a juventude do maior povo indígena da Amazônia brasileira.

"Esse Fórum é universal, no Brasil e fora. Muita gente está sabendo o que estamos lutando. Watoriki [local do primeiro encontro, em 2019] é reconhecido no Brasil e fora. Saiu nossa pintura, nossa fala contra o garimpo ilegal. Criamos nosso modelo para fortalecimento e também juntar Yanomami de Roraima e do Amazonas", ressaltou Davi Kopenawa, em conversa com a Amazônia Real, na última noite, após o encerramento e a votação para escolher a região que sediará o próximo encontro - Watoriki (Serra do Vento) - a casa dele.

A cada ano, uma associação fica responsável pela organização do Fórum. Em 2025, ficou sob a responsabilidade da Urihi. Dentro do malocão foi montado, em 60 dias, um auditório de madeira. Em volta desse espaço de discussão, as lideranças colocaram suas redes e tinham estrutura elétrica alimentada com painéis solares, baterias e internet. Do lado de fora, o grafismo indígena de vermelho e preto diferenciava o xapono do Fórum.

Marina Vieira, não indígena, doutoranda em ciência política, ex-assessora do Instituto Socioambiental, trabalha com os Yanomami desde 2015, e participou da primeira edição do Fórum, em 2019. Este ano, ela foi convidada para auxiliar na logística do evento, que ela avaliou como "impressionante", e contou com apoio do MPI e da Funai.

Ao término do encontro, dia 25, as lideranças elaboraram um ofício de encaminhamento da Carta de Surucucu endereçado aos presidentes da República e do Senado, Luiz Inácio Lula da Silva e Davi Alcolumbre; ao ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, e à ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara. Também receberam cópia o procurador-geral da República, Paulo Gonet, o ministro da Educação, Camilo Santana, e a presidenta da Funai, Joenia Wapichana.

Malária ainda ameaça Yanomami

Na visita à Surucucu, a reportagem entrou em uma unidade de saúde da TIY e percebeu uma mudança marcante em relação à estrutura anterior. O antigo polo base, em madeira, com uma parte do piso de cimento grosso e outra de chão de barro batido, funcionava precariamente e com inúmeros pacientes para o tamanho do local. Antes de ser o que é hoje, o Centro de Referência funcionou com a estrutura semelhante à de um hospital de campanha, com lonas e ferros. Atualmente, o novo prédio erguido em alvenaria e com leitos adaptados em redes representa um avanço na atenção à saúde Yanomami, segundo os profissionais da unidade.

Mas agora os desafios são outros. Segundo a coordenadora, a enfermeira Flávia Silva, "tem o suporte, mas não tem medicação para hemorragias, intubação". Ela explica que a limitação se deve ao fato de o polo ainda ser classificado como atenção primária, o que restringe a entrega de medicamentos fora da lista do Rename (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais).

"Às vezes a gente não segura [pacientes] por conta da falta dessas medicações", disse. Entre os poucos medicamentos disponíveis está a ceftriaxona, antibiótico que, segundo ela, tem sido essencial para tratar casos de pneumonia e diarreias agudas, permitindo evitar transferências aéreas para Boa Vista. "Se entrassem os medicamentos fora do Rename, conseguiríamos tratar aqui muitos pacientes que hoje precisam ser removidos", completou.

Durante a visita da reportagem, 36 pessoas estavam internadas na enfermaria, em leitos adaptados com redes. Os casos mais comuns eram de síndromes respiratórias, pneumonia, malária, queimaduras e acidentes.

Segundo ela, os casos graves diminuíram, e a unidade já consegue reter e tratar mais de 90% dos pacientes. "Menos de 5% das pessoas atendidas aqui precisam ser removidas para Boa Vista", contou. "A desnutrição reduziu muito, e a malária também já diminuiu bastante. Não chegam mais pacientes em estado grave como antes."

A demanda por um atendimento contínuo nas aldeias é antiga entre os Yanomami e voltou a ser central na Carta de Surucucu. O Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA) reforça essa prioridade ao propor ações preventivas, visitas domiciliares e controle de doenças como malária e pneumonia nas comunidades, evitando remoções desnecessárias. O PGTA, ao qual a reportagem teve acesso, também defende atenção específica à saúde das mulheres e encontros comunitários. As remoções para Boa Vista seguem como alvo de críticas por favorecer interesses externos e enfraquecer o atendimento local.

Flávia contou que o Ministério da Saúde e a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) estão cientes das demandas e tentam adaptar a estrutura local para atender à nova realidade. "Já está em discussão a mudança do status da unidade, para que possamos receber medicamentos de atenção secundária e salvar mais vidas", disse. Mesmo assim, ela reconhece que a distância, a logística e a escassez de pessoal especializado ainda dificultam o funcionamento pleno do serviço.

"É preciso que as equipes do Dsei-YY (Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami e Yekuana), junto com nossos agentes de saúde indígena, estejam presentes nas nossas comunidades, fazendo busca ativa e oferecendo tratamentos imediatos para romper o ciclo da malária", detalha a Carta de Surucucu.

"Estamos renascendo para construir e cuidar do povo Yanomami. Porque na época do governo (de Jair) Bolsonaro, o povo Yanomami morreu. E assim, só nós sabemos esse sofrimento, só nós sabemos esse choro que a gente leva. Perder um membro da família, aqui o povo Yanomami sofre bastante", disse Hekurari se referindo a Surucucu por ser o ponto central de atendimento de indígenas de diversas regiões da TIY.

De acordo com um dossiê elaborado por associações indígenas, e entregue para a imprensa de Roraima, em 2025 foram registrados quase 14 mil casos de malária na Terra Yanomami de janeiro a agosto. Em resposta a um pedido de informação da Amazônia Real, em julho, o Ministério da Saúde indicou "redução de 42% dos óbitos", devido à doença entre 2023 e 2024. Mas confirmou aumento de "9,7% nas notificações (31.207 para 34.231 casos)", que segundo a nota ocorre "em decorrência da ampliação das equipes de saúde, do fortalecimento das ações de vigilância e da intensificação do diagnóstico, inclusive com busca ativa".

A flecha mais poderosa

A educação aparece na Carta de Surucucu como um dos caminhos para o fortalecimento da autonomia dos povos. Os Yanomami e Ye'kwana pedem a criação de escolas bilíngues e interculturais que respeitem seus saberes e modos de vida, além de um diálogo direto com o Ministério da Educação sobre a implementação dos Territórios Etnoeducacionais.

"Hoje em dia, os jovens estão voltando para as escolas. Isso é nossa esperança mesmo, porque isso sempre foi nosso sonho", disse Júlio Ye'kwana, anfitrião da edição de 2024. Uma das maiores lideranças do povo Ye'kwana afirma que a insegurança ameaça a educação. "Agora quem está lá são as facções criminosas que ficaram. É perigoso pra gente, risco de vida pra nós", relatou o indígena de Auaris.

Segundo o documento, ainda há dúvidas sobre o funcionamento dessas estruturas, e o debate precisa ocorrer com tempo e respeito dentro da própria terra indígena. "A educação escolar diferenciada é crucial para nós. Não queremos ser forçados a viver no mundo dos não indígenas, mas sabemos que aprender sobre ele é uma flecha poderosa."

Um encontro inspirador

As manhãs e tardes do 6o Fórum foram levadas muito a sério, sem perda de foco. Das lideranças, evitavam-se atrasos, e as discussões iniciavam sempre depois de uma apresentação de canto e dança das mulheres de diferentes comunidades que se uniam para o momento. Havia intérpretes para outras línguas - o que fazia com que a audiência se estendesse.

Dário Kopenawa todos os dias se juntava a Wairihi Hekurari para conduzir os trabalhos. O vice-presidente da Hutukara, filho do xamã Davi, criticou inicialmente a edição do ano anterior. "Foi a primeira vez que o povo Yanomami participou, sem governo [em comitiva - em grande número de autoridades de Estado], mas tinham os nossos apoiadores."

Quando Dário se referia a apoiadores, ele falava de servidores que fazem parte do governo, mas que foram escolhidos e convidados pela proximidade com o povo da TIY, especificamente, Elayne Rodrigues Maciel, coordenadora da Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami e Ye'kwana da Funai; Clarisse Jabur, coordenadora-geral de Povos Indígenas de Recente Contato do MPI, e Maurício Tomé Rocha, do povo Ye'kwana, atual coordenador do Dsei Yanomami, ex-diretor da HAY.

Entre os outros convidados não indígenas e não governamentais estavam o assessor sênior do ISA, Marcos Wesley de Oliveira; o ativista brasileiro-suíço Silvio Cavuscens, da Secoya (Serviço e Cooperação com o Povo Yanomami - uma organização); padre Corrado Dalmonego, do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), representantes de organizações venezuelanas acompanhando lideranças da TIY no país vizinho, funcionários da Hutukara, uma equipe produtora audiovisual e um documentarista independente, além da Amazônia Real.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a primeira-dama Janja receberam convites para o evento, mas informaram que não poderiam participar devido a compromissos em agenda internacional, segundo a assessoria da HAY. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, também foi convidado, mas não participou.

As mulheres Yanomami tiveram participação ativa nesta edição do Fórum. Entre as novas vozes está a de Carlinha Lins Santos, Yanomami de Maturacá (AM) e presidenta da AMYK. Com o rosto pintado com urucum, a liderança simbolizava com sua presença o poder da ancestralidade feminina.

"A juventude hoje está se inspirando em mim, uma liderança firme, potente, com a pintura tradicional. Eu me sinto muito empoderada com a minha pintura", disse. Para ela, o gesto de pintar o rosto é também uma forma de resistência e resgatar o desejo para que os jovens façam o mesmo e percam a cultura.

Mas sua fala também veio carregada de dor e denúncia. "Hoje defendo o fim da violência contra as mulheres. Tem muita violência contra as mulheres. Eu defendo que a violência não seja dita que é uma cultura. Criança gerando outra criança, não posso ver mais como cultura", afirmou Carlinha.

Com tom triste, a liderança da TIY no Amazonas falou sobre o alcoolismo e a permanência do garimpo ilegal, que ainda arrasta jovens para o trabalho forçado. "Alguns Yanomami são escravos de garimpeiros. Carregam gasolina, diesel, motores para montar... e eles [garimpeiros] dão drogas, cigarros. Assim tá acontecendo ainda", alertou a liderança.

O que dizem as autoridades

Elayne Maciel, coordenadora da Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami e Ye'kwana (FPE-YY), ligada à Funai, respondeu à reportagem que o governo "já vem realizando a instalação das Bapes [Bases de Proteção Etnoambiental]". No e-mail, assinado por ela, Elayne informou que este ano a Bape de Pakilapi, no rio Uraricoera, foi concluída. "Uma base interagência com capacidade para 40 pessoas."

Segundo a resposta da servidora, que também participou do Fórum, foi iniciada a "construção da Bape de Apiaú, que deve ficar pronta já no início do próximo ano". Ainda conforme a nota enviada à Amazônia Real, "as demais localidades de outras bases estão sendo discutidas com as associações." A FPE-YY foi cobrada na carta sobre a implementação das BAPEs e para apoiar o Plano de Vigilância Indígena da TIY.

O governo federal confirmou o recebimento da Carta de Surucucu e informou que o documento foi encaminhado "para o devido tratamento e retorno". A nota destacou que as ações da Casa de Governo "seguem ininterruptas".

Sobre a malária, o Ministério da Saúde informou "queda de 65% dos óbitos" e que o aumento de notificações decorre da ampliação das equipes e da busca ativa de casos, "não de piora epidemiológica".

A Amazônia Real solicitou um posicionamento de todos os órgãos para quem a Hutukara enviou a Carta de Surucucu, conforme ofício encaminhado para 15 autoridades.

O Ministério da Justiça respondeu e-mail da reportagem recomendando que a demanda fosse encaminhada para a Casa Civil. O Ministério da Educação confirmou o recebimento do documento, e disse que "atenderá eventual convite de participação no Fórum de Lideranças". A Procuradoria-Geral da República, informou que "até o momento", não localizou "o documento no sistema".

https://amazoniareal.com.br/especiais/voz-de-surucucu/
 

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