From Indigenous Peoples in Brazil
Notícias
Macuxi Esperto
19/05/2009
Autor: Jessé Souza
Fonte: Folha de Boa Vista - http://www.folhabv.com.br
Eu não me lembro exatamente o ano quando o vi pela primeira vez. Ele usava uma camiseta com a textual frase "Macuxi Esperto". Nessa época, a carga de preconceito era muito mais forte, porque não havia quem contestasse isso na mídia local.
Mas Janner Pinho, que era professor e já envolvido com apresentações de quadrilhas juninas, com aquela blusa passava uma mensagem forte para a construção e a identificação de uma identidade verdadeiramente roraimense. E aquilo me fortaleceu sobremaneira para que eu decidisse assumir minha identidade Macuxi.
Em um infarto que pega a condição humana de surpresa, o professor Janner partiu mais cedo. E eu não tive oportunidade de dizer-lhe pessoalmente que ele também foi importante por fixar nos roraimenses sua identidade Macuxi, de resgatar a cultura local com o forte enraizamento indígena.
Mas sua importância foi mais longe, principalmente na educação, onde sempre estava envolvido em alguma atividade extraclasse. Mas nem na sua partida a, escola - exatamente onde ele passou mal - teve o direito de se despedir direito.
Como bem lembrou uma professora, num e-mail cheio de verdade, na escola a comunidade sequer pôde ficar à vontade para consterna-se porque existe uma determinação em que, no caso de falecimento, a suspensão das aulas deverá ocorrer apenas para a turma do falecido. E, no caso do velório acontecer na escola, as atividades serão suspensas somente pelo período da duração da ocorrência.
"Me envergonho de transmitir isso à comunidade escolar", indignou-se a professora em seu e-mail. "Fico me perguntando que perfil de cidadão queremos formar. Seria de crianças frias e indiferentes à dor do próximo? Não. Isso é contrário do que ensinamos aos nossos alunos. Não queremos incentivar e educar alunos com postura solidária e humana? E a dor de perder uma pessoa querida do nosso meio não tem importância? Não poderemos prantear e nos solidarizar com sua família e amigos?".
Como o ser humano só consegue enaltecer as qualidades das pessoas na morte, quando até os que fizeram o mal têm seu lado bom enaltecido, então que pelo menos a Secretaria de Educação, que emitiu uma nota de pesar, saiba homenagear o professor Janner com seu merecido valor em vida.
E que também repense essa determinação que poda o sentimento que as pessoas devem ter, na escola, diante da morte de alunos e professores. Afinal, é na escola onde se deve aprender também a valorizar não somente conquistas, mas também a assimilar perdas como a do professor Janner. Na escola da vida, saber perder é essencial. E a escola formal precisa ensinar também isso.
* Articulista - Visite o blog do autor: http://pajuaru.blogspot.com/
Mas Janner Pinho, que era professor e já envolvido com apresentações de quadrilhas juninas, com aquela blusa passava uma mensagem forte para a construção e a identificação de uma identidade verdadeiramente roraimense. E aquilo me fortaleceu sobremaneira para que eu decidisse assumir minha identidade Macuxi.
Em um infarto que pega a condição humana de surpresa, o professor Janner partiu mais cedo. E eu não tive oportunidade de dizer-lhe pessoalmente que ele também foi importante por fixar nos roraimenses sua identidade Macuxi, de resgatar a cultura local com o forte enraizamento indígena.
Mas sua importância foi mais longe, principalmente na educação, onde sempre estava envolvido em alguma atividade extraclasse. Mas nem na sua partida a, escola - exatamente onde ele passou mal - teve o direito de se despedir direito.
Como bem lembrou uma professora, num e-mail cheio de verdade, na escola a comunidade sequer pôde ficar à vontade para consterna-se porque existe uma determinação em que, no caso de falecimento, a suspensão das aulas deverá ocorrer apenas para a turma do falecido. E, no caso do velório acontecer na escola, as atividades serão suspensas somente pelo período da duração da ocorrência.
"Me envergonho de transmitir isso à comunidade escolar", indignou-se a professora em seu e-mail. "Fico me perguntando que perfil de cidadão queremos formar. Seria de crianças frias e indiferentes à dor do próximo? Não. Isso é contrário do que ensinamos aos nossos alunos. Não queremos incentivar e educar alunos com postura solidária e humana? E a dor de perder uma pessoa querida do nosso meio não tem importância? Não poderemos prantear e nos solidarizar com sua família e amigos?".
Como o ser humano só consegue enaltecer as qualidades das pessoas na morte, quando até os que fizeram o mal têm seu lado bom enaltecido, então que pelo menos a Secretaria de Educação, que emitiu uma nota de pesar, saiba homenagear o professor Janner com seu merecido valor em vida.
E que também repense essa determinação que poda o sentimento que as pessoas devem ter, na escola, diante da morte de alunos e professores. Afinal, é na escola onde se deve aprender também a valorizar não somente conquistas, mas também a assimilar perdas como a do professor Janner. Na escola da vida, saber perder é essencial. E a escola formal precisa ensinar também isso.
* Articulista - Visite o blog do autor: http://pajuaru.blogspot.com/
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