De Pueblos Indígenas en Brasil
The printable version is no longer supported and may have rendering errors. Please update your browser bookmarks and please use the default browser print function instead.

Noticias

Lula está soltando a nossa mão?

10/08/2024

Autor: METYKTIRE, Raoni; KAYAPÓ, Mydjere; MUNDURUKU, Alessandra

Fonte: FSP - https://www1.folha.uol.com.br/



Lula está soltando a nossa mão?
Ao apoiar Ferrogrão, presidente nos deixa sozinhos na luta em defesa da floresta e do clima

Raoni Metyktire, Mydjere Kayapó e Alessandra Munduruku

10/08/2024

Recentemente, a imprensa noticiou a nossa saída do Grupo de Trabalho (GT) da Ferrogrão como se as lideranças indígenas tivessem desistido de chegar a uma solução. O grupo reunia governo federal e sociedade civil para atualizar os estudos de viabilidade e impacto socioambiental da ferrovia de transporte de grãos, projeto que pretende ligar Sinop, no norte de Mato Grosso, a Miritituba, no sul do Pará.

Mas foi o governo que nos tirou do GT. Ele o fez quando anunciou para empresários, e não para nós, que os estudos (dos quais não participamos da produção, nem sequer vimos) estavam prontos e seriam entregues até 18 de agosto, como determinou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

Tentamos defender a integridade do bloco de terras indígenas Kayapó, dos territórios Munduruku (parte ainda não demarcados) e de todas as 16 terras indígenas que serão afetadas. Só que as propostas dos nossos técnicos, buscando salvaguardar nossos direitos e territórios, foram ignoradas. Soubemos pelos jornais que, enquanto conversávamos e discutíamos com uma ala do governo, outra recontratava a empresa que já havia feito os primeiros estudos na década passada e ignorou nossa existência.

Sempre estivemos aqui. Denunciamos que a multiplicação dos portos em Miritituba (PA) estava destruindo locais sagrados para os mundurukus e modificando o modo de vida de aldeias -uma delas fica a 3 km de um porto. Também cansamos de dar entrevistas dizendo que a especulação imobiliária no entorno do traçado ampliou as ameaças de invasão e que temos de aumentar a vigilância nos limites das terras indígenas.

Repetimos sem parar que a consulta prévia, livre e informada, direito de populações tradicionais reconhecido há mais de 20 anos pelo Brasil, também nunca aconteceu. A soja já chegou aos limites dos nossos territórios com a expectativa do projeto. Temos um documento de 2017 assinado, com a promessa do governo de nos consultar antes de enviar o projeto para o Tribunal de Contas da União. O projeto foi enviado em 2019 e a promessa, descumprida.

O julgamento do mérito da ação do PSOL no Supremo, que paralisou a Ferrogrão em 2021, estava marcado para junho de 2023. Ele foi suspenso porque a Advocacia-Geral da União propôs o GT de conciliação, coordenado pelo Ministério dos Transportes. A ação questiona a forma com que foi feita a desafetação de mais de 800 hectares do Parque Nacional do Jamanxim -onde há áreas sagradas dos kayapós.

Era para o GT ser um espaço de diálogo. Foi uma manobra. A Casa Civil, responsável por coordenar ações interministeriais, nunca enviou representante às reuniões. Mas o ministro Rui Costa vai tentar convencer Alexandre de Moraes de que o Brasil precisa trocar a floresta pelo frete de grãos para os portos do Norte.

A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) divulgou o cronograma de leilões para 2025 incluindo a Ferrogrão, contrariando a decisão do STF que brecou o projeto pelo risco de "prejuízos irreversíveis" ao meio ambiente.

Participar do GT não nos deu respostas sobre como vamos lidar com a chegada de 14 mil trabalhadores no entorno das nossas terras. Nossas mulheres já falam do medo de ir para a floresta buscar açaí e encontrar estranhos rondando. Lembremos de violências e invasões em outras grandes obras.

Na posse, o presidente Lula subiu a rampa de mãos dadas com um chefe Mebêngôkre (Kayapó) que representava todos os indígenas do Brasil. Lula esteve de novo comigo, Raoni, em março deste ano e pedi a ele para desistir do projeto. Ao apoiar o avanço da Ferrogrão, o presidente solta as nossas mãos e nos deixa novamente sozinhos para lutar pela conservação de nossas florestas e nossas culturas, e para lidar com todas as consequências desse projeto de morte.

Se o governo der a canetada para prosseguir, desobedecendo o STF, Lula chegará à COP30 de Belém com as mãos sujas de sangue e de soja. Mostrará para o mundo que sua equipe, assim como outras anteriores, não é capaz de planejar uma ferrovia sustentável com um traçado viável. Mais do que isso, mostrará que nossa luta em defesa da floresta e do clima não é nada perto da luta pelo desenvolvimento a qualquer preço.

https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2024/08/lula-esta-soltando-a-nossa-mao.shtml
 

Las noticias publicadas en el sitio Povos Indígenas do Brasil (Pueblos Indígenas del Brasil) son investigadas en forma diaria a partir de fuentes diferentes y transcriptas tal cual se presentan en su canal de origen. El Instituto Socioambiental no se responsabiliza por las opiniones o errores publicados en esos textos. En el caso en el que Usted encuentre alguna inconsistencia en las noticias, por favor, póngase en contacto en forma directa con la fuente mencionada.