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Iniciativas aliam economia, sustentabilidade e inclusão social na Amazônia
17/07/2025
Fonte: Valor Econômico - https://valor.globo.com/
Iniciativas aliam economia, sustentabilidade e inclusão social na Amazônia
'Produzir recursos compatíveis com a natureza e com a floresta é hoje a fronteira que precisamos romper para o desenvolvimento sustentável', diz especialista
17/07/2025
Alex Jorge Braga
A integração de saberes tradicionais e científicos pode criar soluções inovadoras que atendem aos desafios da economia e da sustentabilidade ambiental. Prova disso é o projeto Ochroma, que propõe o uso de bioextrato de pau-de-balsa como alternativa ao mercúrio na mineração artesanal na Amazônia.
Desenvolvida ao longo de gerações de afrodescendentes e indígenas em Chocó, na Colômbia, o método com o bioextrato da planta nativa amazônica está tendo seu uso consolidado na região do Médio Madeira, no Amazonas, pela sustentabilidade e pela segurança, pois não libera mercúrio no ambiente.
Estudos apontam que, ao entrar em contato com humanos, o mercúrio pode acarretar danos neurológicos, déficit cognitivo, distúrbios motores e comprometimento fetal.
"O empreendimento está se tornando referência para uma transição econômica e ambiental mais ampla, pois promove a subsistência das comunidades, a diversificação econômica e práticas regenerativas nessa parte do país", diz Melina Risso, diretora de pesquisa do Instituto Igarapé.
Fruto da parceria acadêmica com a comunidade local, o projeto Ochroma é uma das seis iniciativas levantadas pela pesquisa Como transformar a economia na Amazônia: Aprendizados de iniciativas com envolvimento comunitário, promovida pelo Instituto Igarapé.
O objetivo do estudo é evidenciar o vasto potencial da bioeconomia e das soluções baseadas na natureza, segundo Risso.
"O levantamento evidencia que já é realidade uma nova economia que concilia conservação ambiental e desenvolvimento inclusivo", diz. "Todas as iniciativas têm em comum a gestão sustentável dos recursos biológicos, a restauração de ecossistemas e o fortalecimento de cadeias produtivas éticas."
Risso lembra que o contexto social da Amazônia é marcado pelo isolamento geográfico, escassez de empregos formais e falta de apoio à agricultura familiar. Diante disso, diz ela, há muitos desafios que necessitam de políticas de comando e controle, "mas não conseguiremos resolver os graves problemas da região somente com essa dimensão".
A diretora de pesquisa alerta que o mundo vive um momento de crise climática e de perda de biodiversidade. Dessa forma, em sua visão, pensar a economia na Amazônia, necessariamente, passa pela reflexão de quais são as economias compatíveis com a floresta, "essa é hoje a fronteira que precisamos romper para o desenvolvimento sustentável".
O segundo caso levantado pela pesquisa é a Associação dos Produtores Rurais de Carauari (Asproc), que por meio de práticas de cogestão e comercialização solidária garantem renda sustentável para comunidades ribeirinhas e promovem a conservação de estoques pesqueiros.
Localizada no Médio Juruá, também no Amazonas, região que sofreu com o declínio comercial da borracha, a Asproc, a partir do reconhecimento do território como um espaço comum, incentivou o cultivo de produtos como óleos vegetais, açaí, pirarucu e farinha de mandioca. Esses itens tornaram-se pilares da economia local, o que simboliza uma transição de um modelo exploratório para outro mais sustentável e solidário.
Em 2022, a iniciativa envolveu diretamente 251 famílias, com uma receita anual de R$ 2,5 milhões. Esses recursos têm contribuído para melhorar a qualidade de vida das comunidades ribeirinhas e fortalecer sua resiliência diante dos desafios ambientais e econômicos.
A Kallari, cooperativa comunitária formada por 850 famílias Kichwa distribuídas em 21 comunidades e cinco distritos da região de Napo, no Equador, cultiva cacau e realiza todas as etapas de produção do chocolate, garantindo que o valor agregado permaneça na comunidade.
Embora o Equador esteja entre os maiores produtores mundiais de cacau fino, grande parte da produção ainda segue a lógica tradicional da exportação de matéria-prima, segundo a pesquisa.
A produção tem início no cultivo sustentável do cacau, realizado por meio do sistema agroflorestal chakra: as árvores de cacau são cultivadas em consórcio com outras plantas nativas, como guayusa e baunilha, o que melhora a resiliência ecológica.
"Ao preservar o sistema agroflorestal chakra a cooperativa mantém viva a conexão ancestral dos Kichwa com a biodiversidade amazônica, promovendo uma integração harmoniosa entre cultura, economia e natureza", diz Risso. "O modelo fortalece a coletividade e assegura que o bem-estar da comunidade prevaleça sobre interesses individuais."
Outra ação é o Belterra Agroflorestas, modelo de negócios que aposta na implementação de sistemas agroflorestais a fim de promover equilíbrio entre produção e restauração florestal. A empresa atua com produtores interessados em transformar suas propriedades em territórios produtivos e sustentáveis, estabelecendo contratos que variam entre arrendamento, integração comercial e parcerias rurais.
"A Belterra promove a valorização do trabalho rural e a melhoria da qualidade de vida, estimulando a permanência das novas gerações no campo e estreitando seus vínculos com a terra e a comunidade", afirma.
Desde sua fundação, a inciativa recuperou mais de 5 mil hectares de terras degradadas em sete Estados e plantou mais de 1,6 milhão de mudas de espécies florestais e agrícolas.
Há ainda a Rede Origens Brasil, que é uma resposta à necessidade de conectar comunidades indígenas, quilombolas, extrativistas e ribeirinhas da Amazônia à mercados éticos. O objetivo do empreendimento é valorizar os modos de vida tradicionais, promover o uso sustentável dos recursos naturais e garantir a remuneração justa às cadeias produtivas locais.
A Rede movimentou mais de R$ 23 milhões desde 2016, beneficiando diretamente 4.053 produtores cadastrados e impactando de forma indireta 16.212 pessoas. No campo ambiental, tem desempenhado papel relevante na conservação de 61 milhões de hectares de floresta, contribuindo para a manutenção da biodiversidade e a valorização de territórios protegidos.
Por fim, a Amaz, que está se consolidado como catalisadora de transformações estruturais na Amazônia, promove a restauração e o uso sustentável da floresta por meio de estratégias inovadoras e colaborativas. Ao combinar instrumentos financeiros flexíveis, programas de aceleração especializada e parcerias estratégicas, a Amaz conecta diversos atores do ecossistema para gerar impactos socioambientais significativos e duradouros.
Em seus quatro anos de existência a Amaz já avaliou mais de 500 negócios, pré-acelerou 28 e acelerou com investimento direto 13 iniciativas atuantes em setores como alimentos, cosméticos, sistemas agroflorestais e créditos de carbono.
Desde a fundação a Amaz já contribuiu para a conservação de 433.399 hectares de floresta e beneficiou de maneira direta mais de 750 famílias. Entre 2021 e 2023, seus investimentos diretos de R$ 3,95 milhões alavancaram outros R$ 19,8 milhões em outras rodadas de captação, o que a consolida como um trampolim para negócios de impacto.
Essa estratégia visa construir uma rede diversificada de negócios de médio porte em estágio inicial, que funcione como referência para novas gerações de empreendedores, demonstrando que é possível aliar sucesso econômico à conservação ambiental e inclusão social.
Para Risso, todas essas experiências apontam que a transição para uma bioeconomia robusta e regenerativa na Amazônia precisa de condições estruturais a fim de garantir a viabilidade e a expansão desses modelos. Em comum, as iniciativas buscam gerar valor para as comunidades, e sua continuidade pode ser ampliada por mecanismos de financiamento acessíveis e compatíveis com os ciclos produtivos da floresta, reduzindo, assim, a necessidade de práticas predatórias.
"Por já serem uma realidade e não utopia, as iniciativas nos dão esperança, sem dúvida. Porém, com muita responsabilidade, entendemos que as ações precisam de bastante apoio para se tornarem 'mainstream'", diz. "A proposta aqui é olhar para a Amazônia como a produtora das soluções de seus próprios problemas. Muitas vezes, há a ideia de que a solução está fora da região."
https://valor.globo.com/brasil/noticia/2025/07/17/iniciativas-aliam-economia-sustentabilidade-e-inclusao-social-na-amazonia.ghtml
'Produzir recursos compatíveis com a natureza e com a floresta é hoje a fronteira que precisamos romper para o desenvolvimento sustentável', diz especialista
17/07/2025
Alex Jorge Braga
A integração de saberes tradicionais e científicos pode criar soluções inovadoras que atendem aos desafios da economia e da sustentabilidade ambiental. Prova disso é o projeto Ochroma, que propõe o uso de bioextrato de pau-de-balsa como alternativa ao mercúrio na mineração artesanal na Amazônia.
Desenvolvida ao longo de gerações de afrodescendentes e indígenas em Chocó, na Colômbia, o método com o bioextrato da planta nativa amazônica está tendo seu uso consolidado na região do Médio Madeira, no Amazonas, pela sustentabilidade e pela segurança, pois não libera mercúrio no ambiente.
Estudos apontam que, ao entrar em contato com humanos, o mercúrio pode acarretar danos neurológicos, déficit cognitivo, distúrbios motores e comprometimento fetal.
"O empreendimento está se tornando referência para uma transição econômica e ambiental mais ampla, pois promove a subsistência das comunidades, a diversificação econômica e práticas regenerativas nessa parte do país", diz Melina Risso, diretora de pesquisa do Instituto Igarapé.
Fruto da parceria acadêmica com a comunidade local, o projeto Ochroma é uma das seis iniciativas levantadas pela pesquisa Como transformar a economia na Amazônia: Aprendizados de iniciativas com envolvimento comunitário, promovida pelo Instituto Igarapé.
O objetivo do estudo é evidenciar o vasto potencial da bioeconomia e das soluções baseadas na natureza, segundo Risso.
"O levantamento evidencia que já é realidade uma nova economia que concilia conservação ambiental e desenvolvimento inclusivo", diz. "Todas as iniciativas têm em comum a gestão sustentável dos recursos biológicos, a restauração de ecossistemas e o fortalecimento de cadeias produtivas éticas."
Risso lembra que o contexto social da Amazônia é marcado pelo isolamento geográfico, escassez de empregos formais e falta de apoio à agricultura familiar. Diante disso, diz ela, há muitos desafios que necessitam de políticas de comando e controle, "mas não conseguiremos resolver os graves problemas da região somente com essa dimensão".
A diretora de pesquisa alerta que o mundo vive um momento de crise climática e de perda de biodiversidade. Dessa forma, em sua visão, pensar a economia na Amazônia, necessariamente, passa pela reflexão de quais são as economias compatíveis com a floresta, "essa é hoje a fronteira que precisamos romper para o desenvolvimento sustentável".
O segundo caso levantado pela pesquisa é a Associação dos Produtores Rurais de Carauari (Asproc), que por meio de práticas de cogestão e comercialização solidária garantem renda sustentável para comunidades ribeirinhas e promovem a conservação de estoques pesqueiros.
Localizada no Médio Juruá, também no Amazonas, região que sofreu com o declínio comercial da borracha, a Asproc, a partir do reconhecimento do território como um espaço comum, incentivou o cultivo de produtos como óleos vegetais, açaí, pirarucu e farinha de mandioca. Esses itens tornaram-se pilares da economia local, o que simboliza uma transição de um modelo exploratório para outro mais sustentável e solidário.
Em 2022, a iniciativa envolveu diretamente 251 famílias, com uma receita anual de R$ 2,5 milhões. Esses recursos têm contribuído para melhorar a qualidade de vida das comunidades ribeirinhas e fortalecer sua resiliência diante dos desafios ambientais e econômicos.
A Kallari, cooperativa comunitária formada por 850 famílias Kichwa distribuídas em 21 comunidades e cinco distritos da região de Napo, no Equador, cultiva cacau e realiza todas as etapas de produção do chocolate, garantindo que o valor agregado permaneça na comunidade.
Embora o Equador esteja entre os maiores produtores mundiais de cacau fino, grande parte da produção ainda segue a lógica tradicional da exportação de matéria-prima, segundo a pesquisa.
A produção tem início no cultivo sustentável do cacau, realizado por meio do sistema agroflorestal chakra: as árvores de cacau são cultivadas em consórcio com outras plantas nativas, como guayusa e baunilha, o que melhora a resiliência ecológica.
"Ao preservar o sistema agroflorestal chakra a cooperativa mantém viva a conexão ancestral dos Kichwa com a biodiversidade amazônica, promovendo uma integração harmoniosa entre cultura, economia e natureza", diz Risso. "O modelo fortalece a coletividade e assegura que o bem-estar da comunidade prevaleça sobre interesses individuais."
Outra ação é o Belterra Agroflorestas, modelo de negócios que aposta na implementação de sistemas agroflorestais a fim de promover equilíbrio entre produção e restauração florestal. A empresa atua com produtores interessados em transformar suas propriedades em territórios produtivos e sustentáveis, estabelecendo contratos que variam entre arrendamento, integração comercial e parcerias rurais.
"A Belterra promove a valorização do trabalho rural e a melhoria da qualidade de vida, estimulando a permanência das novas gerações no campo e estreitando seus vínculos com a terra e a comunidade", afirma.
Desde sua fundação, a inciativa recuperou mais de 5 mil hectares de terras degradadas em sete Estados e plantou mais de 1,6 milhão de mudas de espécies florestais e agrícolas.
Há ainda a Rede Origens Brasil, que é uma resposta à necessidade de conectar comunidades indígenas, quilombolas, extrativistas e ribeirinhas da Amazônia à mercados éticos. O objetivo do empreendimento é valorizar os modos de vida tradicionais, promover o uso sustentável dos recursos naturais e garantir a remuneração justa às cadeias produtivas locais.
A Rede movimentou mais de R$ 23 milhões desde 2016, beneficiando diretamente 4.053 produtores cadastrados e impactando de forma indireta 16.212 pessoas. No campo ambiental, tem desempenhado papel relevante na conservação de 61 milhões de hectares de floresta, contribuindo para a manutenção da biodiversidade e a valorização de territórios protegidos.
Por fim, a Amaz, que está se consolidado como catalisadora de transformações estruturais na Amazônia, promove a restauração e o uso sustentável da floresta por meio de estratégias inovadoras e colaborativas. Ao combinar instrumentos financeiros flexíveis, programas de aceleração especializada e parcerias estratégicas, a Amaz conecta diversos atores do ecossistema para gerar impactos socioambientais significativos e duradouros.
Em seus quatro anos de existência a Amaz já avaliou mais de 500 negócios, pré-acelerou 28 e acelerou com investimento direto 13 iniciativas atuantes em setores como alimentos, cosméticos, sistemas agroflorestais e créditos de carbono.
Desde a fundação a Amaz já contribuiu para a conservação de 433.399 hectares de floresta e beneficiou de maneira direta mais de 750 famílias. Entre 2021 e 2023, seus investimentos diretos de R$ 3,95 milhões alavancaram outros R$ 19,8 milhões em outras rodadas de captação, o que a consolida como um trampolim para negócios de impacto.
Essa estratégia visa construir uma rede diversificada de negócios de médio porte em estágio inicial, que funcione como referência para novas gerações de empreendedores, demonstrando que é possível aliar sucesso econômico à conservação ambiental e inclusão social.
Para Risso, todas essas experiências apontam que a transição para uma bioeconomia robusta e regenerativa na Amazônia precisa de condições estruturais a fim de garantir a viabilidade e a expansão desses modelos. Em comum, as iniciativas buscam gerar valor para as comunidades, e sua continuidade pode ser ampliada por mecanismos de financiamento acessíveis e compatíveis com os ciclos produtivos da floresta, reduzindo, assim, a necessidade de práticas predatórias.
"Por já serem uma realidade e não utopia, as iniciativas nos dão esperança, sem dúvida. Porém, com muita responsabilidade, entendemos que as ações precisam de bastante apoio para se tornarem 'mainstream'", diz. "A proposta aqui é olhar para a Amazônia como a produtora das soluções de seus próprios problemas. Muitas vezes, há a ideia de que a solução está fora da região."
https://valor.globo.com/brasil/noticia/2025/07/17/iniciativas-aliam-economia-sustentabilidade-e-inclusao-social-na-amazonia.ghtml
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