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Funai é incluída em coalização da Unesco para representar o Brasil nas questões sobre diversidade linguística em inteligência artificial
07/07/2025
Fonte: Funai - https://www.gov.br
A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) passou a integrar a Coalizão para a Diversidade Linguística em Inteligência Artificial, como representante governamental do Brasil, para a promoção de tecnologias alinhadas aos direitos dos povos indígenas e à preservação da diversidade cultural e linguística. A iniciativa foi lançada durante o 3o Fórum Global da Ética da Inteligência Artificial (3o GFEAI 2025), realizado entre os dias 24 e 27 de junho, em Bangkok, na Tailândia.
Promovido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o 3o GFEAI 2025 reuniu representantes de governos, academia, setor privado e sociedade civil de mais de 80 países para discutir diretrizes éticas e políticas públicas para o desenvolvimento e uso responsável da inteligência artificial (IA), com ênfase na inclusão, equidade e respeito aos direitos humanos.
A Coalizão para a Diversidade Linguística em Inteligência Artificial é uma iniciativa liderada pela Unesco em parceria com o Governo da Islândia. A iniciativa responde à crescente urgência de garantir que o desenvolvimento da inteligência artificial respeite e promova a diversidade linguística e cultural, especialmente no caso de línguas indígenas e em risco de extinção, muitas vezes ausentes nos modelos de IA.
Promoção da diversidade linguística
Como membro da coalizão e uma das poucas representantes da América Latina, a Funai contribuirá tecnicamente para o desenvolvimento de diretrizes, repositórios de dados e benchmarks multilíngues, voltados à promoção da diversidade linguística em sistemas de IA, especialmente no que diz respeito às línguas indígenas e sub-representadas.
A participação da Funai nesse tipo de debate contribui para promover a inclusão linguística, combater o colonialismo digital e para a construção de políticas públicas que reforcem a soberania digital dos povos indígenas. Com a participação na coalizão, a Funai reforça o compromisso do Brasil com a proteção dos territórios indígenas também na esfera digital e contribui para a construção de uma agenda internacional que promova a equidade linguística, o respeito às culturas originárias e o uso ético das tecnologias emergentes.
O Fórum Global de Ética da Inteligência Artificial é parte dos esforços da Unesco para apoiar a implementação da Recomendação sobre a Ética da Inteligência Artificial, aprovada por consenso por seus Estados-membros em 2021. É com base nessa recomendação que o grupo buscará mobilizar governos, academia, setor privado e sociedade civil para a promoção de boas práticas para a salvaguarda digital das línguas e culturais.
Preservação das línguas indígenas
A participação da Funai no 3o Fórum Global da Ética da Inteligência Artificial foi motivada pelo interesse que uma pesquisa acadêmica desenvolvida por servidores da autarquia vem despertando em espaços de debate sobre os desafios éticos do uso de tecnologias digitais voltadas aos povos indígenas, com ênfase no papel da inteligência artificial na preservação das línguas indígenas.
O trabalho é desenvolvido por Thiago Santos e Cleuber Amaro, da Coordenação-Geral de Tecnologia, Informação e Comunicações (CGTIC), da Diretoria de Administração e Gestão (Dages), e vem sendo acolhido e apoiado institucionalmente. Em 2024, a pesquisa foi apresentada no Simpósio sobre Línguas Ameríndias (SAIL), em Tucson, nos Estados Unidos, e no Fórum da Internet no Brasil (FIB), em Curitiba (PR).
Como desdobramento das discussões e da visibilidade geradas por essas iniciativas, a Unesco convidou Cleuber Amaro para integrar, como representante da Funai e do Brasil, a Coalizão para a Diversidade Linguística em Inteligência Artificial.
Os resultados da pesquisa, assim como as contribuições derivadas da participação nos fóruns e articulações internacionais, têm colaborado com a proposição e o aperfeiçoamento de políticas públicas voltadas à soberania digital e à valorização da diversidade cultural - considerando que o território indígena também se projeta para além do espaço físico, alcançando o ambiente digital.
Cleuber participou como palestrante convidado do painel "Superando a Divisão Linguística na IA: Salvaguardando a Diversidade Linguística". Na ocasião, ele compartilhou os resultados de uma pesquisa de revisão sistemática sobre os desafios e possibilidades do uso de inteligência artificial na preservação de línguas indígenas ameaçadas de desaparecimento, além de reflexões sobre o papel das tecnologias digitais na construção da soberania dos territórios indígenas.
Em sua apresentação, o servidor incluiu no debate internacional a realidade dos mais de 300 povos indígenas do Brasil, falantes de mais de 270 línguas. E ressaltou que a confiança nas tecnologias depende da escuta ativa, do respeito à autonomia e da participação das comunidades desde o início dos projetos. "Não se trata apenas de ampliar a presença de línguas em sistemas automáticos, mas de reconhecer que essa inclusão precisa ser avaliada caso a caso, de modo informado e autônomo pelas próprias comunidades. Sem isso, corremos o risco de repetir lógicas extrativistas sob nova roupagem", alertou.
Durante o painel, Cleuber também destacou a importância de se construir soluções tecnológicas junto às comunidades, mencionando como exemplo o Nheeengatu App - primeiro aplicativo de ensino do Nheengatu, língua do tronco tupi, desenvolvido de forma colaborativa com as comunidades da região, sob liderança da pesquisadora Suellen Tobler.
"Para além de tecnologias digitais que promovam a documentação linguística, também seria importante destinar esforços para a proteção das terras indígenas. Ter uma língua documentada não vale muita coisa se os falantes já não estiverem mais vivos", adverte a pesquisadora. O projeto já está sendo replicado em outras localidades, consolidando-se como uma referência em participação comunitária na tecnologia educacional indígena.
Como a tecnologia pode contribuir para a promoção das línguas indígenas
A co-presidente do Grupo de Trabalho (GT) Global para a Década Internacional das Línguas Indígenas (Unesco 2022-2032) e coordenadora-geral de Articulação e Políticas Educacionais Indígenas do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), Altaci Kokama, conversou com a Funai sobre como as tecnologias podem contribuir para a promoção das línguas indígenas e os cuidados que se deve ter por quem deseja contribuir com esse tipo de projeto.
Ela destacou quatro pontos positivos sobre o uso da tecnologia para promover as línguas indígenas: 1) registro e documentação dos saberes; 2) ensino e aprendizagem à distância; 3) intercâmbio entre povos e redes de colaboração; e 4) autoria indígena na produção de conteúdo.
Sobre o primeiro ponto, Altaci mencionou o uso de celulares, gravadores e computadores que permitem registrar cantos, histórias, poemas e narrativas orais, como instrumentos que contribuem para a preservação do patrimônio linguístico de cada povo. É o caso de podcasts e vídeos em línguas indígenas e aplicativos com vocabulário e gramática indígena já existentes.
Em relação ao ensino e aprendizagem à distância, ferramentas como o aplicativo de mensagens instantâneas WhatsApp, o YouTube e o Google Meet são usadas para ministrar cursos de fortalecimento das línguas nas comunidades, o que também promove a valorização social das línguas por meio dessas mídias.
"Quando as línguas indígenas ganham visibilidade digital, elas passam a ser percebidas por falantes jovens e por não indígenas e isso acaba mudando o status da língua diante do seu próprio povo, como nas produções musicais, nas séries audiovisuais, nas animações, nas redes sociais e em conteúdos bilíngues que geram orgulho identitário", realçou Altaci, mencionando os influencers, artistas e cantores indígenas que já fazem isso.
Outro benefício do uso das tecnologias para a promoção das línguas indígenas é o intercâmbio entre povos e redes de colaboração. As ferramentas tecnológicas têm favorecido os encontros virtuais. Além disso, a maioria das articulações do movimento indígena se dá por meio virtual, principalmente em terras indígenas de grande extensão territorial. E, ainda, tem a possibilidade de conexão com povos de outras regiões do Brasil e de outros países, como é o caso dos Kokama, do Brasil, e dos Māori, da Nova Zelândia. "Temos um intercâmbio, via Google Meet, do encontro dessas experiências de ensino-aprendizagem de línguas", conta Altaci.
A autoria indígena na produção de conteúdo também é um aspecto positivo na promoção das línguas nativas. As mídias digitais sociais permitem, por exemplo, que os povos indígenas produzam, editem e publiquem materiais didáticos, cartilhas, glossários e dicionários promovendo a sabedoria linguística e a narrativa dos povos indígenas no meio digital. Por essa razão, segundo observou Altaci Kokama, a demanda pela formação de comunicadores indígenas tem crescido nas organizações indígenas.
Contudo, a co-presidente do GT Global para a Década Internacional das Línguas Indígenas, chama a atenção para os cuidados que se deve ter com qualquer projeto de promoção das línguas indígenas. Para ela, é preciso respeitar o protagonismo indígena. "Isso é uma luta dos povos indígenas. Todo projeto deve ser produzido ou cocriado com os povos indígenas, respeitando suas decisões, seus tempos e suas formas próprias de ensinar e aprender. Não se trata apenas de ajudar os indígenas, mas de caminhar junto com eles", orienta.
Segundo Altaci, uma vez que a língua indígena entra em contato com as tecnologias, dependendo da forma como ela é tratada, pode ganhar uma dimensão que o próprio produtor do conteúdo não esperava, ensejando na perda do controle da narrativa. "Por isso que o povo indígena precisa estar ciente do que está sendo feito com a sua língua, com a sua cultura e com os seus saberes. É preciso ter o consentimento livre, prévio e informado e ter o cuidado com a apropriação cultural. É fundamental evitar a extração ou a divulgação de conhecimentos tradicionais sem autorização dos povos indígenas, principalmente que incluam medicina, espiritualidade e conhecimentos sagrados", alertou.
Outro cuidado que se deve ter está relacionado à privacidade e segurança digital, como proteger os dados, a identidade e o direito das pessoas envolvidas especialmente em plataformas públicas. Todos esses passos precisam ser discutidos pontualmente com os povos indígenas envolvidos na produção do conteúdo, como ele será utilizado e se há autorização das comunidades para a sua disseminação.
Formar e capacitar jovens das comunidades para manejar tecnologias como a edição de vídeo e criação de aplicativos também é fundamental. Isso porque, ter o domínio tecnológico instrumentaliza as comunidades para que sejam protagonistas das suas próprias demandas tecnológicas, assim como a adaptação cultural das ferramentas já que nem toda tecnologia pode servir para determinado povo.
"As ferramentas precisam dialogar com a cosmologia, com os modos de vida e com o cotidiano das comunidades e elas decidem de que forma essas ferramentas podem ajudá-las ou não", orientou Altaci, citando como exemplo a possível criação de determinado aplicativo que dá muita visibilidade ao território indígena, podendo cair nas mãos de pessoas mal intencionadas que poderão ficar sabendo a localização de abundantes recursos naturais, favorecendo a invasão para explorá-los. "Em tempo real, saber a localização disso, é uma ameaça ao próprio povo. Conhecendo as ferramentas, a comunidade decide qual é a melhor opção para utilizar", indicou.
https://www.gov.br/funai/pt-br/assuntos/noticias/2025/funai-e-incluida-em-coalizacao-da-unesco-para-representar-o-brasil-nas-questoes-sobre-diversidade-linguistica-em-inteligencia-artificial
Promovido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o 3o GFEAI 2025 reuniu representantes de governos, academia, setor privado e sociedade civil de mais de 80 países para discutir diretrizes éticas e políticas públicas para o desenvolvimento e uso responsável da inteligência artificial (IA), com ênfase na inclusão, equidade e respeito aos direitos humanos.
A Coalizão para a Diversidade Linguística em Inteligência Artificial é uma iniciativa liderada pela Unesco em parceria com o Governo da Islândia. A iniciativa responde à crescente urgência de garantir que o desenvolvimento da inteligência artificial respeite e promova a diversidade linguística e cultural, especialmente no caso de línguas indígenas e em risco de extinção, muitas vezes ausentes nos modelos de IA.
Promoção da diversidade linguística
Como membro da coalizão e uma das poucas representantes da América Latina, a Funai contribuirá tecnicamente para o desenvolvimento de diretrizes, repositórios de dados e benchmarks multilíngues, voltados à promoção da diversidade linguística em sistemas de IA, especialmente no que diz respeito às línguas indígenas e sub-representadas.
A participação da Funai nesse tipo de debate contribui para promover a inclusão linguística, combater o colonialismo digital e para a construção de políticas públicas que reforcem a soberania digital dos povos indígenas. Com a participação na coalizão, a Funai reforça o compromisso do Brasil com a proteção dos territórios indígenas também na esfera digital e contribui para a construção de uma agenda internacional que promova a equidade linguística, o respeito às culturas originárias e o uso ético das tecnologias emergentes.
O Fórum Global de Ética da Inteligência Artificial é parte dos esforços da Unesco para apoiar a implementação da Recomendação sobre a Ética da Inteligência Artificial, aprovada por consenso por seus Estados-membros em 2021. É com base nessa recomendação que o grupo buscará mobilizar governos, academia, setor privado e sociedade civil para a promoção de boas práticas para a salvaguarda digital das línguas e culturais.
Preservação das línguas indígenas
A participação da Funai no 3o Fórum Global da Ética da Inteligência Artificial foi motivada pelo interesse que uma pesquisa acadêmica desenvolvida por servidores da autarquia vem despertando em espaços de debate sobre os desafios éticos do uso de tecnologias digitais voltadas aos povos indígenas, com ênfase no papel da inteligência artificial na preservação das línguas indígenas.
O trabalho é desenvolvido por Thiago Santos e Cleuber Amaro, da Coordenação-Geral de Tecnologia, Informação e Comunicações (CGTIC), da Diretoria de Administração e Gestão (Dages), e vem sendo acolhido e apoiado institucionalmente. Em 2024, a pesquisa foi apresentada no Simpósio sobre Línguas Ameríndias (SAIL), em Tucson, nos Estados Unidos, e no Fórum da Internet no Brasil (FIB), em Curitiba (PR).
Como desdobramento das discussões e da visibilidade geradas por essas iniciativas, a Unesco convidou Cleuber Amaro para integrar, como representante da Funai e do Brasil, a Coalizão para a Diversidade Linguística em Inteligência Artificial.
Os resultados da pesquisa, assim como as contribuições derivadas da participação nos fóruns e articulações internacionais, têm colaborado com a proposição e o aperfeiçoamento de políticas públicas voltadas à soberania digital e à valorização da diversidade cultural - considerando que o território indígena também se projeta para além do espaço físico, alcançando o ambiente digital.
Cleuber participou como palestrante convidado do painel "Superando a Divisão Linguística na IA: Salvaguardando a Diversidade Linguística". Na ocasião, ele compartilhou os resultados de uma pesquisa de revisão sistemática sobre os desafios e possibilidades do uso de inteligência artificial na preservação de línguas indígenas ameaçadas de desaparecimento, além de reflexões sobre o papel das tecnologias digitais na construção da soberania dos territórios indígenas.
Em sua apresentação, o servidor incluiu no debate internacional a realidade dos mais de 300 povos indígenas do Brasil, falantes de mais de 270 línguas. E ressaltou que a confiança nas tecnologias depende da escuta ativa, do respeito à autonomia e da participação das comunidades desde o início dos projetos. "Não se trata apenas de ampliar a presença de línguas em sistemas automáticos, mas de reconhecer que essa inclusão precisa ser avaliada caso a caso, de modo informado e autônomo pelas próprias comunidades. Sem isso, corremos o risco de repetir lógicas extrativistas sob nova roupagem", alertou.
Durante o painel, Cleuber também destacou a importância de se construir soluções tecnológicas junto às comunidades, mencionando como exemplo o Nheeengatu App - primeiro aplicativo de ensino do Nheengatu, língua do tronco tupi, desenvolvido de forma colaborativa com as comunidades da região, sob liderança da pesquisadora Suellen Tobler.
"Para além de tecnologias digitais que promovam a documentação linguística, também seria importante destinar esforços para a proteção das terras indígenas. Ter uma língua documentada não vale muita coisa se os falantes já não estiverem mais vivos", adverte a pesquisadora. O projeto já está sendo replicado em outras localidades, consolidando-se como uma referência em participação comunitária na tecnologia educacional indígena.
Como a tecnologia pode contribuir para a promoção das línguas indígenas
A co-presidente do Grupo de Trabalho (GT) Global para a Década Internacional das Línguas Indígenas (Unesco 2022-2032) e coordenadora-geral de Articulação e Políticas Educacionais Indígenas do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), Altaci Kokama, conversou com a Funai sobre como as tecnologias podem contribuir para a promoção das línguas indígenas e os cuidados que se deve ter por quem deseja contribuir com esse tipo de projeto.
Ela destacou quatro pontos positivos sobre o uso da tecnologia para promover as línguas indígenas: 1) registro e documentação dos saberes; 2) ensino e aprendizagem à distância; 3) intercâmbio entre povos e redes de colaboração; e 4) autoria indígena na produção de conteúdo.
Sobre o primeiro ponto, Altaci mencionou o uso de celulares, gravadores e computadores que permitem registrar cantos, histórias, poemas e narrativas orais, como instrumentos que contribuem para a preservação do patrimônio linguístico de cada povo. É o caso de podcasts e vídeos em línguas indígenas e aplicativos com vocabulário e gramática indígena já existentes.
Em relação ao ensino e aprendizagem à distância, ferramentas como o aplicativo de mensagens instantâneas WhatsApp, o YouTube e o Google Meet são usadas para ministrar cursos de fortalecimento das línguas nas comunidades, o que também promove a valorização social das línguas por meio dessas mídias.
"Quando as línguas indígenas ganham visibilidade digital, elas passam a ser percebidas por falantes jovens e por não indígenas e isso acaba mudando o status da língua diante do seu próprio povo, como nas produções musicais, nas séries audiovisuais, nas animações, nas redes sociais e em conteúdos bilíngues que geram orgulho identitário", realçou Altaci, mencionando os influencers, artistas e cantores indígenas que já fazem isso.
Outro benefício do uso das tecnologias para a promoção das línguas indígenas é o intercâmbio entre povos e redes de colaboração. As ferramentas tecnológicas têm favorecido os encontros virtuais. Além disso, a maioria das articulações do movimento indígena se dá por meio virtual, principalmente em terras indígenas de grande extensão territorial. E, ainda, tem a possibilidade de conexão com povos de outras regiões do Brasil e de outros países, como é o caso dos Kokama, do Brasil, e dos Māori, da Nova Zelândia. "Temos um intercâmbio, via Google Meet, do encontro dessas experiências de ensino-aprendizagem de línguas", conta Altaci.
A autoria indígena na produção de conteúdo também é um aspecto positivo na promoção das línguas nativas. As mídias digitais sociais permitem, por exemplo, que os povos indígenas produzam, editem e publiquem materiais didáticos, cartilhas, glossários e dicionários promovendo a sabedoria linguística e a narrativa dos povos indígenas no meio digital. Por essa razão, segundo observou Altaci Kokama, a demanda pela formação de comunicadores indígenas tem crescido nas organizações indígenas.
Contudo, a co-presidente do GT Global para a Década Internacional das Línguas Indígenas, chama a atenção para os cuidados que se deve ter com qualquer projeto de promoção das línguas indígenas. Para ela, é preciso respeitar o protagonismo indígena. "Isso é uma luta dos povos indígenas. Todo projeto deve ser produzido ou cocriado com os povos indígenas, respeitando suas decisões, seus tempos e suas formas próprias de ensinar e aprender. Não se trata apenas de ajudar os indígenas, mas de caminhar junto com eles", orienta.
Segundo Altaci, uma vez que a língua indígena entra em contato com as tecnologias, dependendo da forma como ela é tratada, pode ganhar uma dimensão que o próprio produtor do conteúdo não esperava, ensejando na perda do controle da narrativa. "Por isso que o povo indígena precisa estar ciente do que está sendo feito com a sua língua, com a sua cultura e com os seus saberes. É preciso ter o consentimento livre, prévio e informado e ter o cuidado com a apropriação cultural. É fundamental evitar a extração ou a divulgação de conhecimentos tradicionais sem autorização dos povos indígenas, principalmente que incluam medicina, espiritualidade e conhecimentos sagrados", alertou.
Outro cuidado que se deve ter está relacionado à privacidade e segurança digital, como proteger os dados, a identidade e o direito das pessoas envolvidas especialmente em plataformas públicas. Todos esses passos precisam ser discutidos pontualmente com os povos indígenas envolvidos na produção do conteúdo, como ele será utilizado e se há autorização das comunidades para a sua disseminação.
Formar e capacitar jovens das comunidades para manejar tecnologias como a edição de vídeo e criação de aplicativos também é fundamental. Isso porque, ter o domínio tecnológico instrumentaliza as comunidades para que sejam protagonistas das suas próprias demandas tecnológicas, assim como a adaptação cultural das ferramentas já que nem toda tecnologia pode servir para determinado povo.
"As ferramentas precisam dialogar com a cosmologia, com os modos de vida e com o cotidiano das comunidades e elas decidem de que forma essas ferramentas podem ajudá-las ou não", orientou Altaci, citando como exemplo a possível criação de determinado aplicativo que dá muita visibilidade ao território indígena, podendo cair nas mãos de pessoas mal intencionadas que poderão ficar sabendo a localização de abundantes recursos naturais, favorecendo a invasão para explorá-los. "Em tempo real, saber a localização disso, é uma ameaça ao próprio povo. Conhecendo as ferramentas, a comunidade decide qual é a melhor opção para utilizar", indicou.
https://www.gov.br/funai/pt-br/assuntos/noticias/2025/funai-e-incluida-em-coalizacao-da-unesco-para-representar-o-brasil-nas-questoes-sobre-diversidade-linguistica-em-inteligencia-artificial
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