De Pueblos Indígenas en Brasil
The printable version is no longer supported and may have rendering errors. Please update your browser bookmarks and please use the default browser print function instead.

Noticias

Projetos no Congresso legalizam devastação em terras indígenas

16/08/2025

Autor: Antônio Paulo

Fonte: BNC Amazonas - https://bncamazonas.com.br



Após a "boiada" passar e aprovar o "PL da devastação", que flexibiliza o licenciamento ambiental, mais duas propostas, em tramitação no Congresso Nacional representam uma ameaça direta e grave aos direitos fundamentais dos povos indígenas brasileiros.

Esses projetos, 1331/2022 e 6050/2023, preveem a abertura dos territórios indígenas a atividades econômicas como mineração, produção de energia, agricultura comercial e turismo.

Por conta disso, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) está pedindo o arquivamento das propostas para respeitar o Estado Democrático de Direito e os compromissos internacionais do Brasil.

Em nota técnica, em que detalha todos os pontos dos projetos, a entidade afirma que ambos violam direitos essenciais e intensificam as violências contra as comunidades.

"Essas proposições se inserem em um contexto de tentativas sistemáticas de enfraquecer a proteção constitucional garantida aos povos originários, reatualizando trechos do projeto de lei 191/2020, que já havia sido amplamente contestado e arquivado por inconstitucionalidade a pedido da Apib e do próprio presidente da República", diz o documento.

Mineração
De autoria do senador Mecias de Jesus (Republicanos-RR), o projeto 1331/2022, busca regulamentar a pesquisa e a lavra de recursos minerais em terras indígenas homologadas ou em processo de demarcação.

Contudo, a Apib destaca sérias inconstitucionalidades, como violação do direito ao usufruto exclusivo, pois, ao autorizar o garimpo por terceiros em terras indígenas, o projeto afronta diretamente o Art. 231, §2o da Constituição.

Esse direito abrange a totalidade dos bens que compõem o território, incluindo recursos minerais, águas, e a dimensão cultural e espiritual.

Do mesmo modo, permite que terceiros, como empresas privadas, explorem garimpo mediante autorização estatal, submetendo os direitos originários a uma lógica de concessão administrativa ou licenciamento ambiental, o que descaracteriza o regime especial de proteção.

Impactos profundos
"O projeto carece de critérios claros para a consulta, mecanismos de compensação adequados, garantias de proteção ambiental e previsão de veto comunitário. Além disso, ao prever a possibilidade de mineração por terceiros e livre iniciativa indígena, o projeto desconsidera os profundos impactos profundos sobre modos de vida, saúde e segurança alimentar das comunidades", diz a nota técnica da Apib.

Além disso, há flagrante inconstitucionalidade formal, segundo a entidade. O artigo. 231, §3o, da Constituição, exige uma lei complementar específica para a exploração de recursos minerais em terras indígenas, mas o projeto 1331/2022 é uma lei ordinária, portanto, viola a hierarquia normativa e o procedimento constitucional obrigatório.

Atividades econômicas
Na mesma linha de "devastação", tramita o projeto 6050/2023. De autoria da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das ongs, esse projeto regulamenta diversas atividades econômicas em terras indígenas, incluindo mineração, garimpo, exploração de hidrocarbonetos e geração de energia hidrelétrica.

Nesse sentido, a Apib avalia que o projeto de lei converte o garimpo, uma prática historicamente associada à ilegalidade e violência, em atividade econômica legítima, afrontando preceitos constitucionais fundamentais e esvaziando a exigência de consulta prévia.

"Ao permitir a instalação de infraestrutura (estradas, ferrovias, sistemas elétricos) e a realização de atividades econômicas comerciais e industriais, o projeto cria brechas para a ocupação e exploração por interesses externos, promovendo a mercantilização das terras indígenas", afirma

Consulta prévia
Por fim, a Apib alega flagrante inconstitucionalidade no projeto 6050, isso porque ele teria sido elaborado e apresentado sem qualquer consulta prévia, livre e informada às comunidades indígenas ou a participação de suas entidades representativas.

Essa ausência de consulta às comunidades afetadas, viola diretamente os princípios da participação e da autodeterminação indígena, comprometendo a legitimidade democrática do processo legislativo já reconhecidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Efeitos devastadores
"A mineração ilegal, que esses projetos podem inadvertidamente legalizar e expandir, já causa impactos socioambientais devastadores em terras indígenas, afetando as dimensões ambiental, social, sanitária e cultural. Os casos dos povos ianomâmis e mundurucus são exemplos contundentes" argumenta a Apib.

O documento informa que o povo ianomâmi, entre os estados do Amazonas e Roraima, enfrenta uma das crises humanitárias mais graves do Brasil, com um colapso sanitário que inclui desnutrição infantil, malária e violência sexual. E a presença de cerca de 20 mil garimpeiros ilegais no território impedia a locomoção e o cultivo dos próprios alimentos.

Já o povo mundurucu, no sudoeste do Pará, teve seu território invadido por operações articuladas de garimpeiros ilegais, muitas vezes protegidos por milícias e facções criminosas.

Foto: arquivo/Agência Brasil

https://bncamazonas.com.br/municipios/projetos-no-congresso-legalizam-devastacao-em-terras-indigenas/
 

Las noticias publicadas en el sitio Povos Indígenas do Brasil (Pueblos Indígenas del Brasil) son investigadas en forma diaria a partir de fuentes diferentes y transcriptas tal cual se presentan en su canal de origen. El Instituto Socioambiental no se responsabiliza por las opiniones o errores publicados en esos textos. En el caso en el que Usted encuentre alguna inconsistencia en las noticias, por favor, póngase en contacto en forma directa con la fuente mencionada.