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Saber ancestral como caminho para compreender a floresta e enfrentar a crise climática

13/09/2025

Fonte: Amazônia Vox - https://www.amazoniavox.com/noticias/view/485/saber_ancestral_como_caminho_para_compr



Saber ancestral como caminho para compreender a floresta e enfrentar a crise climática
Texto de Laura Guido. Edição Carla Fischer. Revisão Samantha Mendes. Foto de capa: Laura Guido. Fotos matéria: Andreza

13/11/2025 21:46

A floresta tem falado, e povos indígenas do Rio Negro têm registrado sua transformação dia após dia, ano após ano, por duas décadas. Durante a tarde de hoje (13), no Rainforest Pavilion da COP30, indígenas da região apresentaram uma pesquisa realizada ao longo de 20 anos sobre os efeitos das mudanças climáticas no território e na produção de alimentos.
A iniciativa integra a "Pesquisa Intercultural para o Monitoramento das Mudanças Climáticas por Povos Indígenas", apoiada pelo Instituto Socioambiental (ISA), e conduzida pelos Agentes Indígenas de Manejo Ambiental (AIMAs). O estudo reúne mais de 420 diários produzidos desde 2005 por 89 pesquisadores indígenas e não indígenas dos Agentes Indígenas de Manejo Ambiental (AIMAs), em português, tukano, tuyuka e baniwa.
Os registros mostram alterações nos ciclos naturais - peixes fora de época, árvores com ritmos modificados, aves mudando comportamentos, além de secas e enchentes extremas entre 2015 e 2024. As anotações revelam ainda impactos diretos no cotidiano das comunidades, como calor intenso, perda de safras, morte de peixes e isolamento devido às condições climáticas extremas.
A pesquisa começou com o objetivo de relacionar constelações e manejo de peixes, mas ganhou amplitude ao longo dos anos conforme os próprios pesquisadores, indígenas da região, perceberam a queda na produção e a integração entre diferentes ecossistemas do território. Com isso, o monitoramento passou a incluir também o setor agrícola.
Um dos depoimentos apresentados durante o lançamento destacou o impacto das secas recentes. "Em 2022 e 2023 o verão foi muito grande, e a pimenteira secou toda. É uma grande tristeza porque agora temos que comprar pimenta. Nós não somos acostumados a comprar. O sistema da roça vem do suor das mulheres, somos nós que plantamos, e perder a produção é triste", relatou uma integrante dos AIMAs.
O estudo confirma que a seca recente foi a mais grave e extensa registrada no território, com efeitos como queda na biomassa, redução da absorção de carbono e aumento na mortalidade de peixes e outros animais, fatores que afetam a biodiversidade e a estabilidade do ecossistema.
Durante o painel, os AIMAs reforçaram a importância do conhecimento transmitido entre gerações no acompanhamento dessas mudanças. "Tudo mudou, o calendário das plantas, das colheitas, o tempo do açaí. Hoje não se sabe mais quando vai colher ao certo", relataram.
"A floresta fala", Davi Kopenawa compartilha saberes Yanomami
No mesmo dia, pela manhã, sob as árvores do Museu Emílio Goeldi, em Belém, o xamã e líder Yanomami Davi Kopenawa compartilhou sua visão sobre a relação entre os povos indígenas e a floresta.
Localizada no Norte da Amazônia, na divisa com a Venezuela, a Terra Indígena Yanomami enfrentou desafios intensos nos últimos anos, mas segue marcada por um profundo conhecimento ancestral. Para Kopenawa, esse saber começa na infância, no contato direto com a natureza. "Quando eu era criança e até hoje, o gosto das frutas me fazia querer defender a floresta", disse.
Segundo ele, a floresta alimenta e protege seu povo, e por isso precisa ser defendida. "Nós, Yanomami, aprendemos desde pequenos que a floresta é importante. Às vezes derrubamos uma árvore para colher os frutos, mas logo ela brota novamente. As árvores nos alimentam, e por isso as defendemos. A floresta nos protege e nós protegemos a floresta", explica.
O xamã explicou que a floresta é sustentada por forças espirituais, como Neropa, a força da fertilidade, elementos que garantem a vida e o bem-estar do povo Yanomami. Ele destacou que a comunidade não pratica desmatamento em larga escala. "Se tirarmos muitas árvores, passamos fome. Nós somos amigos da floresta, porque ela nos abriga."

Ao comparar o modo de vida indígena com o dos não indígenas, chamados de Napa, Kopenawa afirmou que a floresta ocupa para os Yanomami o mesmo lugar de cuidado e atenção que a família tem na sociedade não indígena. "Da mesma forma como vocês cuidam uns dos outros em um casamento, a floresta cuida de nós, e nós cuidamos dela", disse.
Durante a roda de conversa, ele também comentou a presença indígena na COP30. Para Kopenawa, o encontro é um espaço político no qual os povos indígenas têm sido convidados a aprender, mas sobretudo a ensinar. Para ele, as crianças são fundamentais para transformar o modo como a sociedade se relaciona com a natureza.
A antropóloga Ana Maria Machado, tradutora de Kopenawa há 18 anos, acompanhou a fala e destacou que sua tradução "não é apenas de palavras, mas de mundos", já que a cosmologia Yanomami expressa uma forma própria de compreender a natureza e a vida na floresta.
Kopenawa lembrou que aprendeu a ouvir a floresta observando o som da terra, das águas e das árvores. "A floresta se comunica comigo, e eu respondo para ela", afirmou, criticando a relação predatória dos não indígenas com o território. Ele reforçou que os povos originários habitavam o Brasil muito antes da colonização e conhecem profundamente seus ciclos.
O líder Yanomami encerrou com um apelo."Nós, povos indígenas, protegemos a terra e a floresta. Mas todos vocês também podem proteger. A floresta fala. É preciso aprender a escutá-la."

A cobertura especial do Amazônia Vox na COP30 tem o apoio da Fundação Itaú, Roche e Tereos.


https://www.amazoniavox.com/noticias/view/485/saber_ancestral_como_caminho_para_compreender_a_floresta_e_enfrentar_a_crise_climatica
 

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