De Pueblos Indígenas en Brasil
Noticias
As conquistas de um povo alegre
16/09/2002
Autor: ORLANDO MORAIS
Fonte: Diário de Cuiabá-Cuiabá-MT
Diante do crescente contato com o homem branco, nação indígena tenta sobreviver pela afirmação de sua identidade
Moradora da aldeia Pakeura, onde vivem 80 famílias que tentam manter a tradição, apesar da influência branca
Quando Deus (kwamóty) criou o mundo, soltou de suas mãos a pomba (pakuera). Ao voar, a pomba foi abrindo as águas de um rio verde e caudaloso. Em suas margens, nasceu um povo conquistador, hospitaleiro e alegre: a nação Bakairí.
(Esse povo nasceu do casamento da onça com as cinco mulheres. As cinco mulheres nasceram do sopro da madeira).
Com o passar do tempo, os Bakairí, ou Kurâ ("gente nossa"), realizaram conquistas. Do gavião, conquistaram a noite; do urubu-rei, o sol; da raposa, o fogo. E o arco e a flecha, que estavam na mão do macaco, os Kurâ também foram lá e conquistaram.
(Cada conquista teve a sua história, cada história teve as suas versões e cada versão os seus heróis).
No início do século XVIII, os Kurâ foram conquistados. Os bandeirantes, que os chamavam de "mansos", os colocaram para trabalhar à força na cata de ouro e diamante. No século XIX, os seringueiros os chamaram de "mandioqueiros", ou "bakairí", e os colocaram para extrair borracha.
Os colonizadores não paravam de chegar. Os Bakairí trabalhavam duro. No século XX, quase foram dizimados, sobretudo na luta pela terra. Por volta de 1965, contava-se apenas 261 índios Bakairí em Mato Grosso.
Muitas perdas e conquistas depois, são hoje mais de mil pessoas, moradoras das Terras Indígenas Bakairí (de 61,4 mil hectares) e Santana (35 mil ha). A primeira fica no município de Paranatinga (a 310 quilômetros de Cuiabá); a segunda em Nobres (a 140). Ambas em cerrado pleno.
Darlene Taukane, índia Bakairí e coordenadora de Educação Escolar da Funai, diz por que a cultura de seu povo sobrevive até hoje: "porque, mesmo depois de ter perdido tantas coisas, o índio Bakairí não ficou ressentido".
Acuado pelos não-índios, não se impôs: tentou conviver com eles. Diante da influência da cultura alheia, foi ressignificando a sua. Diante dos presentes, imaginou e criou o futuro.
Na maior aldeia Bakairí, a Pakuera, em Paranatinga, há energia elétrica, televisão, vôlei, futebol e capoeira. Todos usam roupas, bebem refrigerante, falam português e vão votar nestas eleições. Vivem ali 80 famílias, em casas de pau-a-pique dispostas como em um pequeno vilarejo.
Tudo, porém, é diferente de qualquer cidade. Há um "modo Bakairí" de fazer e lidar com as coisas. Darlene, por causa disso, quase nem teme muito as influências de fora. "O que o povo não pode perder é a identidade".
Um índio Bakairí, segundo ela, é fácil de reconhecer: está sempre de bom humor, tem sabedoria e paciência para ouvir, sabe cantar e contar histórias. Acrescente-se a isso uma língua vivíssima (da família Karíb), uma hospitalidade fora do normal, um respeito especial para com as crianças e um cuidado inigualável com o meio ambiente, que é seu orgulho forte.
Moradora da aldeia Pakeura, onde vivem 80 famílias que tentam manter a tradição, apesar da influência branca
Quando Deus (kwamóty) criou o mundo, soltou de suas mãos a pomba (pakuera). Ao voar, a pomba foi abrindo as águas de um rio verde e caudaloso. Em suas margens, nasceu um povo conquistador, hospitaleiro e alegre: a nação Bakairí.
(Esse povo nasceu do casamento da onça com as cinco mulheres. As cinco mulheres nasceram do sopro da madeira).
Com o passar do tempo, os Bakairí, ou Kurâ ("gente nossa"), realizaram conquistas. Do gavião, conquistaram a noite; do urubu-rei, o sol; da raposa, o fogo. E o arco e a flecha, que estavam na mão do macaco, os Kurâ também foram lá e conquistaram.
(Cada conquista teve a sua história, cada história teve as suas versões e cada versão os seus heróis).
No início do século XVIII, os Kurâ foram conquistados. Os bandeirantes, que os chamavam de "mansos", os colocaram para trabalhar à força na cata de ouro e diamante. No século XIX, os seringueiros os chamaram de "mandioqueiros", ou "bakairí", e os colocaram para extrair borracha.
Os colonizadores não paravam de chegar. Os Bakairí trabalhavam duro. No século XX, quase foram dizimados, sobretudo na luta pela terra. Por volta de 1965, contava-se apenas 261 índios Bakairí em Mato Grosso.
Muitas perdas e conquistas depois, são hoje mais de mil pessoas, moradoras das Terras Indígenas Bakairí (de 61,4 mil hectares) e Santana (35 mil ha). A primeira fica no município de Paranatinga (a 310 quilômetros de Cuiabá); a segunda em Nobres (a 140). Ambas em cerrado pleno.
Darlene Taukane, índia Bakairí e coordenadora de Educação Escolar da Funai, diz por que a cultura de seu povo sobrevive até hoje: "porque, mesmo depois de ter perdido tantas coisas, o índio Bakairí não ficou ressentido".
Acuado pelos não-índios, não se impôs: tentou conviver com eles. Diante da influência da cultura alheia, foi ressignificando a sua. Diante dos presentes, imaginou e criou o futuro.
Na maior aldeia Bakairí, a Pakuera, em Paranatinga, há energia elétrica, televisão, vôlei, futebol e capoeira. Todos usam roupas, bebem refrigerante, falam português e vão votar nestas eleições. Vivem ali 80 famílias, em casas de pau-a-pique dispostas como em um pequeno vilarejo.
Tudo, porém, é diferente de qualquer cidade. Há um "modo Bakairí" de fazer e lidar com as coisas. Darlene, por causa disso, quase nem teme muito as influências de fora. "O que o povo não pode perder é a identidade".
Um índio Bakairí, segundo ela, é fácil de reconhecer: está sempre de bom humor, tem sabedoria e paciência para ouvir, sabe cantar e contar histórias. Acrescente-se a isso uma língua vivíssima (da família Karíb), uma hospitalidade fora do normal, um respeito especial para com as crianças e um cuidado inigualável com o meio ambiente, que é seu orgulho forte.
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