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Pesquisa desenvolve iniciativa para valorização e fortalecimento da herança intergeracional dos povos indígenas

22/07/2025

Fonte: Portal Amazonia - https://portalamazonia.com



A história do povo Krepym Kartejé é marcada por uma resistência contínua diante das adversidades impostas ao longo do tempo, sobretudo, no que diz respeito à preservação de seu idioma originário. A língua sofreu um processo de perda progressiva, resultado de uma série de violências históricas, como invasões territoriais, deslocamentos forçados, ocultamento cultural e a imposição do português em contextos institucionais, impactando na transmissão da língua entre as gerações.

Para reverter esse cenário, pesquisadores da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) desenvolvem o "Projeto Conexões Amazônicas: centros avançados para documentação, fortalecimento e revitalização de línguas e culturas indígenas na Amazônia". O trabalho é realizado em parceria com o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e Universidade Federal do Amapá (UNIFAP).

Contextualizando o cenário da população indígena na sociedade brasileira, Ana Vilacy Galucio detalha a trajetória e os desafios que os povos originários enfrentam. "Há uma estimativa de que cerca de 75% a 80% das línguas dos povos indígenas faladas aqui no Brasil, no século XVI, deixaram de existir nesse período, desde o início da colonização.

Então, hoje, todas as línguas praticamente no Brasil são consideradas línguas ameaçadas, porque elas têm um número reduzido de falantes, porque as gerações novas não estão aprendendo a língua, tem ruptura na transmissão intergeracional.

A língua majoritária no Brasil, que é a língua portuguesa, avançou em todos esses espaços, e, cada vez mais, as línguas indígenas estão reduzidas, com pouco uso, com poucos falantes. Essa situação preocupa a sociedade, preocupa a comunidade acadêmica, porque, cada vez que uma língua deixa de ser falada, isso afeta não só a vida da comunidade do povo específico, como a gente deixa de ter informação, deixa de ter conhecimento sobre as línguas para o avanço do conhecimento sobre a linguagem humana. A ciência também perde muitas informações", ressalta. 

Alice Van Deursen acompanha as demandas do povo Krepym há algum tempo. Ela desenvolve sua pesquisa de doutorado no território, com orientação da professora Ana Caroline Amorim. Segundo a doutoranda, a iniciativa em realizar o trabalho na Terra Indígena Geralda Toco Preto surgiu por meio de um pedido de uma liderança do local.

"A iniciativa nasce de um pedido da Rhewaa, uma liderança do povo Krepym Kartejé. Ela me procurou muito preocupada com o processo de apagamento da língua do seu povo e me pediu auxílio para fazer algo que ajudasse a preservar esse conhecimento. A partir disso, conversei com minha orientadora, Ana Caroline (PGCULT), e começamos a montar uma rede com pesquisadores que atuam na área, como a linguista Maisa Ramos, que nos apresentou a Ana Vilacy, pesquisadora titular do Museu Goeldi, contou a pesquisadora.

Segundo Ana Vilacy Galucio, o projeto busca documentar as línguas e culturas dos povos indígenas e fomentar a infraestrutura da pesquisa nas instituições envolvidas. "Nós temos dois grandes objetivos nesse projeto. Um é realizar a documentação de línguas e culturas de 23 povos indígenas distribuídos na Amazônia, e realizar atividades também de fortalecimento e atividades voltadas para a revitalização das línguas onde houver necessidade e onde houver interesse da comunidade e dos povos indígenas envolvidos.

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Atividades no território indígena e os benefícios sociais
O Projeto Conexões Amazônicas busca a revitalização da língua Krepym Kartejé, o fortalecimento da cultura e da identidade da aldeia, por meio da documentação da língua, da escuta aos mais experientes e do incentivo na formação da juventude das comunidades. Com a metodologia participativa e colaborativa, a equipe observa e registra o que a aldeia precisa, promovendo o planejamento de ações educativas para o benefício do povo indígena.

O território é formado pelas aldeias: Esperança, Geralda Toco Preto, Sibirino e Bonita. "O projeto teve início no começo do ano, e sua primeira ida a campo para apresentação para toda a comunidade ocorreu no início deste mês. Os desafios enfrentados para a execução do projeto é a própria urgência em documentar e registar a língua bem como revitalizar na comunidade indígena", ressalta  Ana Caroline Amorim.

O trabalho em campo possibilita o contato direto com a realidade, reforça e amplia o conhecimento e promove a coleta de dados primários. Seguindo essa perspectiva, Alice Van Deursen fala sobre a vivência em campo. "Fomos muito bem recebidos pelas comunidades, que demonstraram grande interesse em revitalizar a língua. Realizamos reuniões com as lideranças, escutamos os anciãos, registramos falas em Krepym Kartejé e começamos a mapear os saberes linguísticos e culturais. Está sendo tudo feito com muito diálogo, respeito e participação ativa dos indígenas".

Para Ana Caroline Amorim, os benefícios da ação desenvolvida se estendem para além da população indígena. "A contribuição para a sociedade indígena é imensurável, pois é sua língua sendo mantida viva e para a sociedade brasileira é o reconhecimento do multilinguismo indígena em território nacional. Para a comunidade acadêmica, o projeto tem importância e relevância devido à formação de pesquisadores de iniciação científica ao doutorado, bem como a criação de parcerias interinstitucionais com a Região Norte fortalecendo as pesquisas interdisciplinares na UFMA", declara.

A equipe planeja organizar e implementar acervos digitais para salvar e guardar permanentemente e seguro os dados das línguas e da cultura indígena em cada uma das instituições, para que possam ter centros regionalizados com foco na língua da região.

Enriquecendo a pesquisa do doutorado, o estudo com os povos originários promove um conjunto de benefícios para a vida acadêmica de Alice Van Deursen. "Estou desenvolvendo minha pesquisa de doutorado diretamente no território do povo Krepym Kartejé, um povo sobre o qual ainda existe pouquíssima literatura e visibilidade acadêmica. Isso torna o trabalho ainda mais desafiador e, ao mesmo tempo, mais necessário.

Aprendo com as pessoas, com suas histórias, com os saberes compartilhados e com a força da resistência cultural presente em cada gesto, fala e memória. Mais do que uma coleta de dados, trata-se de construir conhecimento em conjunto, respeitando os tempos, as prioridades e a perspectiva da comunidade. Poder desenvolver uma pesquisa que tem impacto direto e dialoga com as necessidades reais do território amplia muito a minha visão sobre o papel da universidade e da ciência", expressa.

O Projeto Conexões Amazônicas é uma iniciativa que busca a preservação das línguas originárias, auxilia na correção do processo de silenciamento, proporciona o trabalho entre especialistas de variadas áreas de linguística, educação, saúde e antropologia, e diferentes instituições de ensino. A problemática que a equipe se esforça para resolver é uma realidade que afeta a sociedade em geral, e a atuação do ambiente universitário fortalece o compromisso social e com os povos indígenas.

Como a pesquisadora Alice Van Deursen menciona sobre o ambiente científico: "Pesquisar não é apenas produzir conhecimento para a academia, mas também contribuir para processos de justiça histórica, valorização cultural e fortalecimento de identidades".

*Com informações da Universidade Federal do Maranhão (UFMA)

https://portalamazonia.com/educacao/heranca-intergeracional-indigenas/
 

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