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BA: Povo Pataxó inicia retomada da TI Comexatiba e enfrenta paramilitares do latifúndio

16/08/2025

Autor: por Correspondente local - Salvador (BA)

Fonte: A Nova Democracia - https://anovademocracia.com.br



O povo indígena Pataxó realizou a retomada de uma área da Terra Indígena (TI) Comexatibá, situada no município de Prado, extremo-sul da Bahia, no domingo, dia 03¹08. A área, que é parte da aldeia Kaí, estava ocupada por duas propriedades latifundiárias.

Em sua "Carta Aberta da Terra Indígena Pataxó Comexatibá às Autoridades e à Sociedade Pradense, Baiana e Brasileira", os indígenas denunciaram a total omissão dos governos de turno federal e estadual, pontuando que estavam há uma década aguardando pela demarcação do território sem nenhum avanço e que, diante dos fustigamentos do latifúndio não recebiam proteção alguma, além dos conflitos territoriais decorrentes da demora da demarcação destas terras.

A TI Pataxó Comexatibá é palco de grande disputa, de um lado, entre povos indígenas, que reinvindicam o seu território histórico, e, de outro, o latifúndio e a especulação imobiliária. Em entrevista com Dario Pataxó, liderança da aldeia Kaí, foi informado ao AND que o território é o mais contestado do país, com mais de 150 pedidos. Segundo dados de abril de 2025 do Instituto Socioambiental, estas contestações já chegaram a 170 e tramitam paralelamente, na Justiça Federal de Teixeira de Freitas com dez reintegrações de posse impetradas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e outras.

A violência contra estes povos, não só no município, é presente em todo o estado, se tornando cada vez mais comum. As ações mais frequentes cometidas pelo latifúndio são o assassinato e a perseguição institucional dos povos indígenas, além da criminalização da sua autodefesa. Por trás desses massacres, estão normalmente o bando paramilitar "Invasão Zero'' e a Polícia Militar (PM) do estado, comandada pelo governador de turno, o oportunista Jerônimo Rodrigues (PT).

Ao AND, a liderança da retomada afirmou que os latifundiários tentaram fazer os indígenas desocuparem a área através de uma "oferta milionária", mas como os Pataxós não aceitaram a "negociação" o grupo paramilitar do 'Invasão Zero' passou a atacar a retomada. Nos dias 4, 6 e 9 de agosto, estes bandos e a PMBA rondaram e invadiram as áreas retomadas, realizando todo tipo de ameaças contra as lideranças indígenas e mesmo chegando a atirar contra um grupo de mulheres pataxó.

"A gente não vende a dignidade, nosso direito, a gente tá aí para resistir (...) Vieram com caminhonetes, 16 homens fortemente armados e com o apoio da Polícia Militar", afirmou Dario.

Em sua carta, reproduzida pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), representantes do povo Pataxó afirmam que "não é mais possível continuar assistindo nossa terra sendo subtraída, cada vez mais invadida; as vidas de nossos parentes sendo ceifadas sem punição dos assassinos e mandantes". Tal impunidade é visível diante do assassinato da liderança Pataxó Hahãhãe, quando o assassino de Nega Pataxó, o filho de latifundiário José Eugênio, pagou uma fiança de aproximadamente R$ 30 mil após ter confessado ser o dono da arma e ter cometido os disparos, saindo impune do assassinato em um crime que é inafiançável.

Os indígenas e o Cimi também apontam a "presença intensiva de paramilitares, que vêm sendo sistematicamente identificados circulando armados entre os povoados Cumuraxitiba e nossas comunidades." No mesmo relatório do CIMI, é reafirmada a presença desses milicianos, que fizeram ataques às TIs de Comexatibá e Barra Velha do Monte Pascoal. O caso de Barra Velha, onde dois jovens Pataxó foram assassinados pelo bando paramilitar "Invasão Zero", ocorreu quase que simultaneamente à prisão do Cacique Suruí e outras lideranças pelas mãos da Força Nacional, sob a prerrogativa de desarmar os indígenas e desmobilizar quaisquer atos que fossem realizados na região.

Durante o mês de junho, o Sul da Bahia - que foi palco para o Fórum Nacional do bando paramilitar 'Invasão Zero', onde o show de horrores incluiu: táticas de 'combate' (leia-se: massacre) aos povos indígenas, quilombolas e camponeses - foi logo seguido por meses de um derramamento de sangue destes mesmos povos, com nenhum pronunciamento ou mesmo denúncia dos governos de turno federal, encabeçado por Luiz Inácio, e estadual, ambos dirigidos pelo PT.

De fato, o que ocorreu foi uma enorme cumplicidade, seja pela nova justificativa da Lei 14.701/2023 do 'Marco Temporal', que invade e barganha as TIs para o saqueio do mercado imobiliário. O Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) se torna cúmplice do que vem ocorrendo quando, de acordo com o CIMI, nada fez para demarcar as terras desde 2015, ano em que a demarcação foi delimitada.

Algo que severamente afeta a demarcação das TIs Pataxó, além do Marco Temporal, é a PEC das Praias, que já tem seus efeitos conhecidos em Itaparica, onde a megaobra da Ponte Salvador-Itaparica, feita com o investimento de monopólios chineses, pode devastar mais de 100 terreiros históricos e abre um precedente para privatização (e privação) dos territórios indígenas e a violenta especulação imobiliária contra suas terras.

"A gente reuniu as comunidades indígenas. O pessoal queria denunciar, teriam várias outras praias fechadas; foram várias denúncias e ninguém fez nada. Ao Ministério Público, foram tantas denúncias e ninguém fez nada. Então assim: a gente teve que fazer autodemarcação!", declarou Dario Pataxó, denunciando a omissão do velho Estado às demandas do povo Pataxó.

Encerrando a sua carta, os indígenas demandam a demarcação de forma definitiva, denunciando a morosidade dos governos de turno federal e estadual e de diversos órgãos burocráticos, como o Ministério Público Federal (MPF) e o INCRA.

A guerra vivida pelos povos do campo e a sua resistência
O campo na Bahia, seguindo a tendência geral no país, está sendo incendiado pelo terror semeado pelo latifúndio (representado por grupelhos como "União Agro" e "Invasão Zero") e pela resistência camponesa, indígena e quilombola. De acordo com um relatório publicado recentemente pelo CIMI, o estado é o terceiro com mais conflitos agrários do país (com 171 ocorrências), perdendo somente para o Maranhão (420) e Pará (314). Mesmo com o alarde da falsa "esquerda" oportunista, de que os novos governos de turno federal de Luiz Inácio e estadual de Jerônimo Rodrigues dariam conta da situação que vive o povo pobre do campo, o que se mostra na prática é um grande escalonamento da situação e da omissão destes ao problema.

A tendência do escalonamento da resistência dos pobres no campo e a omissão do velho Estado já tem dado, para além desta retomada na Bahia, grandes exemplos em todo o país. Nos últimos dias, várias cidades foram palco de ocupações feitas por camponeses em sedes do INCRA. No município de Machadinho d'Oeste (RO), camponeses estão repelindo diuturnamente as hordas paramilitares do latifúndio das áreas Gedeon José Duque, Valdiro Chagas e Gonzalo I e II, sob a direção da Liga dos Camponeses Pobres (LCP). Na Bahia, a liderança da retomada em Comexatiba também afirmou que "nós estamos firmes e fortes na luta, com o apoio das mulheres na organização política", refletindo de forma cristalina esta tendência.

Não é a primeira vez que os povos indígenas do sul da Bahia, particularmente os Pataxó, enfrentam as hordas paramilitares do latifúndio e denunciam os seus asseclas nas instituições do velho Estado. Quando do assassinato dos jovens Gildo e Itarauí na TI Barra Velha por parte do "Invasão Zero", os indígenas Pataxó denunciaram em um comunicado que "o que tem falado mais alto não é a justiça, mas o dinheiro, os latifúndios e os interesses daqueles que querem exterminar nossa luta e calar nossas lideranças."Essa e outras retomadas e ocupações realizadas, como a fundação do Acampamento Mãe Bernadete em Carinhanha, são fruto de uma crescente resistência dos povos do campo, elevada à condição de uma verdadeira Revolução Agrária. Em entrevista a AND, a Liga dos Camponeses Pobres (LCP) pontuou que "O mais importante de tudo isso é que demonstra que, como não nos cansamos de afirmar, a luta pela terra no Brasil virou uma guerra, e a Revolução Agrária é a questão mais importante no momento para derrotar a extrema direita, toda a reação e o imperialismo", convocando firmemente: "os verdadeiros democratas se juntem de armas e bagagens com os camponeses, indígenas e quilombolas para derrotá-los."

https://anovademocracia.com.br/pataxo-retomada-ba-inicia-comexatiba/
 

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