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Autores do 'PL da Devastação' serão responsáveis por novas propostas sobre licenciamento ambiental

24/09/2025

Autor: Oswaldo Braga de Souza

Fonte: Instituto Socioambiental - https://www.socioambiental.org/noticias-socioambientais/autores-do-pl-da-



Autores do 'PL da Devastação' serão responsáveis por novas propostas sobre licenciamento ambiental
Ex-ministra da Agricultura do governo Bolsonaro vai presidir comissão e relator da nova lei do licenciamento será responsável por mais dois pareceres sobre o assunto. Entenda a tramitação dos projetos

Oswaldo Braga de Souza - Jornalista do ISA
Quarta-feira, 24 de Setembro de 2025

A comissão mista que vai analisar a Medida Provisória (MP) 1.308/2025, sobre uma nova modalidade de licenciamento ambiental simplificada e acelerada, foi instalada na tarde desta terça-feira (23) no Senado.

Por um acordo entre governo e oposição, a senadora Tereza Cristina (PP-MS) foi eleita presidente e o deputado Zé Vitor (PL-MG), o relator. Após a escolha dos dois cargos, Cristina encerrou a sessão. Embora possa haver ainda mudanças pontuais, a composição do colegiado ficou francamente favorável aos ruralistas e à oposição.

Os dois parlamentares foram os principais responsáveis pelo teor da nova lei sobre o licenciamento ambiental (15.190/2025). Zé Vítor foi o relator do projeto de lei (PL) 2.159/2021 em sua última passagem pela Câmara, em julho. Cristina foi responsável pela versão final aprovada no Senado, em maio. Ela foi ministra da Agricultura do governo Bolsonaro e ficou conhecida como "menina veneno" por sua defesa do uso indiscriminado dos agrotóxicos no debate da lei aprovada pelo Congresso sobre o assunto em 2023.

O PL 2.159/2021 ficou conhecido como "PL da Devastação" por prever o desmonte do sistema de licenciamento ambiental no país, e em função das possíveis consequências disso.

Cristina e Vítor estão entre os mais influentes e radicais ruralistas do Congresso. Nessas funções, terão controle quase total sobre a tramitação e o conteúdo da proposta, a exemplo do tempo de discussão, alterações no texto e interlocutores privilegiados. A senadora não quis falar com a reportagem do Instituto Socioambiental (ISA) na saída da sessão.
Licença Especial

A MP foi enviada pelo governo ao Congresso após os vetos parciais do presidente Lula ao "PL da Devastação", em agosto. Embora passe a valer desde sua publicação, a MP precisa ser analisada em até 120 dias. Depois de passar pelo colegiado formado por deputados e senadores, precisa passar pelos plenários das duas casas legislativas. O prazo vence em 5 de dezembro.

Na avaliação dos ambientalistas, Lula vetou pontos importantes da nova lei. De quase 400 dispositivos, 63 foram vetados completa ou parcialmente. Desse total, 26 itens foram simplesmente excluídos.

Apesar disso, ainda segundo as organizações da sociedade civil que acompanham o assunto, a legislação e o texto da MP mantêm problemas. Para eles, a Licença Ambiental Especial (LAE), tema específico da medida, é o maior retrocesso do pacote.

Ela permite simplificar e acelerar o licenciamento ambiental de obras e atividades econômicas complexas, com grande impacto ambiental, como a extração de petróleo, a construção de hidrelétricas ou a pavimentação da rodovia BR-319 (Manaus-Porto Velho), numa das regiões mais preservadas da Amazônia.

Além disso, segundo a MP, poderiam ser alvo desse tipo de licença empreendimentos considerados "estratégicos" por um conselho do governo, o que abre caminho para que pressões políticas e econômicas prevaleçam no processo, em detrimento da análise técnica. Especialistas também apontam o aumento do risco de corrupção.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), é considerado o padrinho da LAE 📷 Andressa Anholete / Agência Senado

De acordo com uma análise do Observatório do Clima (OC), foram apresentadas mais de 830 emendas à medida e cerca de três quartos do total pretendem reintroduzir itens vetados por Lula. Cerca de 80% das propostas representam retrocessos ambientais.

"A Licença Ambiental Especial dificilmente será aperfeiçoada. Ela não deveria existir. Pode-se aceitar a priorização dos processos considerados pelo governo, o que já ocorre na prática. Mas agilizar empreendimentos com alto potencial de impacto é inverter a lógica estabelecida pela própria Constituição, que nos princípios da ordem econômica prevê tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental", avaliou Suely Araújo, coordenadora de Políticas Públicas do OC.

A proposta foi incluída na tramitação no Senado pelo presidente da casa, Davi Alcolumbre (União- AP). Entre outras razões, ele estaria interessado em acelerar a exploração de petróleo na Foz do Amazonas, o que beneficiaria seu estado. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) permitiu o avanço da licença para um dos empreendimentos da Petrobras na véspera da votação no plenário do Senado, depois de meses de pressão de Alcolumbre e do próprio presidente Lula.

A própria publicação da MP, que tem vigência imediata, foi vista como uma deferência ao parlamentar, considerado um aliado pelo Palácio do Planalto. Entre assessores parlamentares que acompanham o assunto, a expectativa é que a medida seja aprovada com certa facilidade por causa do interesse do senador, dos ruralistas e do próprio governo.
PL e vetos

Depois dos vetos, o governo também enviou um PL 3.834/2025 com urgência constitucional para suprir lacunas na nova legislação. Por acordo entre governo e oposição, Zé Vítor também foi escolhido o relator na Câmara.

O projeto foi enviado há 45 dias ao Congresso e passou a trancar a pauta do plenário da Câmara nesta terça. Depois de votado, segue para o Senado (saiba mais no final da reportagem).

Como se não bastassem essas ameaças ao licenciamento (considerando a correlação de forças desfavorável aos ambientalistas hoje no Legislativo), os vetos de Lula também precisarão ser analisados numa sessão do Congresso (composta por deputados e senadores), mas ainda não há data marcada para isso acontecer.

"O acordo de entrega das duas relatorias para um mesmo deputado que foi responsável pelo texto que hoje é lei e contém mais de 63 vetos, significa mais um passo para que a disputa sobre o licenciamento não se encerre tão rapidamente e siga para o Judiciário", analisa Alice Dandara de Assis Correia, advogada do ISA.

"Não temos dúvidas de que retrocessos vetados serão retomados no PL ou na MP. Isso significa que teremos um feito inédito: o veto do que já foi vetado em uma mesma sessão legislativa" disse.
A pavimentação da BR-319 (Manaus-Porto Velho) pode ser uma das obras que será beneficiada com a Licença Ambiental Especial (LAE). Pesquisas comprovam que esse tipo de empreendimento induz o desmatamento na Amazônia 📷 Alberto Araújo / Amazônia Real
Imbróglio e anistia

Na verdade, o que pode transformar a MP numa questão é sua negociação combinada com a de outras pautas. Ela acabou entrando no maior imbróglio político do Congresso dos últimos meses: a disputa em torno da do projeto bolsonarista de anistia aos golpistas de 2022 e 2023.

O PL 3.834 converteu-se num dos obstáculos para a votação da proposta ao começar a trancar a pauta do plenário da Câmara nesta terça. Como já se tornou tradicional com a agenda ambiental, a prerrogativa de retirar ou não o regime de urgência constitucional do projeto tornou-se então uma moeda de troca. No caso, o objetivo do governo seria impedir a análise do perdão aos golpistas e, de quebra, votar a isenção do Imposto de Renda (IR), tema de interesse direto do Planalto.

Apoiados pelos bolsonaristas, os ruralistas ameaçaram com a possibilidade de votar o PL 3.834 ainda nesta terça, com uma redação que retoma a maior parte do texto original do "PL da Devastação". Zé Vítor chegou a dizer que os governistas estavam se negando a discutir o assunto.

Durante o dia, a pergunta entre organizações da sociedade civil era o que o governo faria, sob o risco de mais um desastre no tema do licenciamento. "Temos de trabalhar com a hipótese de que o projeto seja votado hoje", chegou a dizer um deputado petista.

Se a urgência fosse retirada, as atenções se voltariam à MP, com um pouco mais de tempo para negociações, conforme a avaliação original dos ambientalistas. Já à noite, veio a informação de que o governo retirou a urgência, mas que a anistia não seria votada nesta terça.



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