De Pueblos Indígenas en Brasil

Noticias

O Triângulo do Gado: como uma fazenda gigante e uma pequena propriedade aparentemente esquentam bois para a JBS

26/09/2025

Fonte: Greenpeace - https://www.greenpeace.org



Investigação revela como uma fazenda gigante embargada e uma pequena propriedade rural formam um esquema de lavagem de gado que abastece a JBS e ameaça a Amazônia.

Uma nova investigação do Greenpeace Brasil lança luz sobre um mecanismo recorrente na Amazônia que, embora amplamente conhecido, segue abrindo caminho para a destruição da floresta.

O caso mais recente envolve uma fazenda de mais de 10 mil hectares, marcada por desmatamento e embargos, que transfere seus bois para uma propriedade de apenas 64 hectares. Dali, os animais seguem para o frigorífico da JBS em Santana do Araguaia (PA). O resultado é a chamada "lavagem de gado": um esquema que mascara a origem ilegal dos animais e evidencia como, mesmo diante de compromissos públicos de desmatamento zero, a maior processadora de carne do mundo continua vinculada a práticas que destroem a Amazônia.

O que parece pequeno, pode esconder algo muito maior

À primeira vista, a Chácara Rancho Alegre, em Santana do Araguaia (PA), parece inofensiva: são apenas 64 hectares, uma propriedade pequena, sem estrutura de fazenda grande, que mede aproximadamente 60 campos de futebol. Mas os números a seguir contam uma história bem diferente.

Entre 2018 e 2023, a Rancho Alegre movimentou mais de 4 mil bois. Isso representaria uma produtividade média de 10 animais por hectare ao ano, mais que o triplo do limite considerado razoável por técnicos (3 cabeças/ha/ano). Se de fato a Chácara Rancho Alegre tivesse produzido tudo o que aparece em seus registros, seria uma das fazendas mais produtivas da região, com índices absurdamente acima da média, que são incompatíveis com seu tamanho e infraestrutura.

A explicação para essa "superprodutividade" parece estar na relação com a Nova Orleans, uma fazenda gigante marcada por embargos ambientais. A investigação do Greenpeace mostrou que bois da grande propriedade foram transferidos para a Chácara Rancho Alegre, que então vendeu gado ao frigorífico da JBS em Santana do Araguaia. A Chácara Rancho Alegre, neste caso, parece atuar como um "hub" de triangulação de gado. É como se uma microempresa de bairro registrasse lucros de uma multinacional.

Outro fato agravante é que as duas fazendas estão registradas no Cadastro Ambiental Rural (CAR) em nome de pessoas de uma mesma família. A fazenda Nova Orleans está em nome de Mário Biernaski e a Chácara Rancho Alegre está registrada em nome de Tania Biernaski.

A Fazenda Nova Orleans tem mais de 10 mil hectares (o equivalente a quase 10 mil campos de futebol) e já foi alvo de embargos e multas. Em 2011, o Ibama aplicou uma multa de 8,7 milhões de reais por destruição de 1.168 hectares de floresta nativa com fogo, além de embargar a área. Em 2018, um novo embargo foi registrado em um área de 534 hectares, prevenindo atividades agrosilvopastoril, com objetivo de recuperar a área degradada. Além disso, a fazenda aparece na Lista do Desmatamento Ilegal do Estado do Pará (LDI) por ter devastado 164 hectares em 2013.

E não para por aí: Por conta de várias ocorrências, a Fazenda Nova Orleans também é categorizada como INAPTA pelo Selo Verde, programa de monitoramento e avaliação de desenvolvimento agropecuário sustentável e combate ao desmatamento ilegal no estado do Pará. Dentre as irregularidades, há a alteração nos limites do Cadastro Ambiental Rural (CAR) da propriedade, um recurso que pode ter sido usado para tentar "apagar" uma grande mancha de desmatamento e escapar da responsabilização.

Mapas mostrando embargos, desmatamento e os limites alterados do CAR da Nova Orleans

Como funciona a lavagem de gado, e o elo com a JBS
Os dados do banco de rastreabilidade da Friboi confirmam que a JBS comprou diretamente da Rancho Alegre 129 vezes entre 2018 e 2024, que por sua vez recebeu animais da fazenda Nova Orleans entre dezembro de 2018 e agosto de 2023. Isso significa que a empresa recebeu carne contaminada por desmatamento ilegal e outras irregularidades, mesmo após ter assumido compromissos públicos e com o sistema de justiça para monitorar seus fornecedores.

Na prática, o frigorífico foi abastecido por bois de uma fazenda com embargos e multas, e "esquentados" por uma propriedade que é pequena demais para justificar os números que apresenta. Para piorar, a Chácara Rancho Alegre nem é tão limpa assim, já que consta como Inapta no Selo Verde do Pará por ter apresentado desmatamento após 2008 (cuja Autorização de Supressão de Vegetação não foi identificada), dentre outros motivos.

Não é acidente, é modelo de negócio
O caso do Triângulo do Gado escancara as brechas que ainda permitem que carne ligada a desmatamento, embargos e violações de direitos humanos siga abastecendo frigoríficos e chegue aos pratos dos consumidores.

A alteração de CAR para tentar esconder desmatamento, o provável uso de uma outra propriedade para esquentar bois de uma fazenda gigante e a omissão de uma das maiores empresas do mundo são faces de um mesmo problema: um modelo de negócios predatório, marcado por ligações com o desmatamento e com altos volumes de emissões de gases de efeito estufa.

A lavagem de gado segue movimentando o desmatamento da Amazônia e, enquanto frigoríficos não monitorarem suas cadeias de ponta a ponta, dificilmente o Brasil chegará ao desmatamento zero. O tempo para promessas já passou, agora é necessário mais ação. Grandes corporações como a JBS precisam ser reconhecidas e responsabilizadas pelos danos que causam.

Fica evidente também a importância de ação governamental quando compromissos privados falham. Com a COP30, que ocorrerá no coração da Amazônia, é urgente que governos ajam pelo fim do desmatamento nas florestas e ecossistemas mundiais. Não há mais espaço para promessas vazias.

Promessas antigas, descumprimentos que persistem
Desde 2009, após denúncias do Greenpeace, a JBS assumiu compromissos para eliminar o desmatamento de sua cadeia. O Compromisso Público da Pecuária (CPP) e os Termos de Ajustamento de Conduta (TAC) da Carne, em acordo com acordo com Ministérios Públicos. Ambos previam regras claras, como não comprar gado de áreas embargadas, desmatadas legal ou ilegalmente a partir de 2009 (CPP), desmatadas ilegalmente após 2008 (TAC), sobrepostas a terras indígenas ou unidades de conservação, sem CAR ou ligadas ao trabalho escravo.
Na prática, porém, a JBS segue falhando em monitorar principalmente seus fornecedores indiretos, justamente onde ocorre a maior parte da destruição. Promessas feitas há mais de uma década continuam sem ser cumpridas, enquanto o desmatamento, a grilagem e as violações de direitos seguem presentes na cadeia da carne.
Saiba mais sobre estas e outras promessas não cumpridas no site "JBS: Cozinhando o Planeta".

O que precisa acontecer agora
Combate global ao desmatamento: sob liderança do governo brasileiro, líderes mundiais devem apresentar até a COP30 um plano concreto para acabar com o desmatamento e a degradação das florestas até 2030. É hora de transformar compromissos em ação.
Instituições financeiras: bancos e fundos precisam exercer sua devida diligência, revendo financiamentos e investimentos que alimentam agentes destrutivos do setor pecuário.
Governos: cabe regular com urgência os setores agropecuário e financeiro, alinhando-os ao Acordo de Paris, ao Marco Global da Biodiversidade e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Isso inclui garantir sistemas alimentares justos e sustentáveis, acabar com o desmatamento e reduzir emissões associadas à pecuária, inclusive o metano.
O lucro não está acima da vida. É hora de transformar compromissos em ação.

A luta contra o desmatamento não acontece apenas na floresta ou nos tribunais.
Ela também passa pelo que você decide apoiar e exigir como cidadão.
Assine a petição que cobra da JBS e das lideranças globais o respeito pela Amazônia!
O que diz a JBS?

A JBS teve a oportunidade de comentar as conclusões do estudo de caso. Em sua resposta, a JBS indicou que todas as compras mencionadas estavam em conformidade com a política da empresa e com o protocolo setorial e que bloquearam preventivamente a Chácara Rancho Alegre, no Pará, e solicitaram esclarecimentos ao produtor. A JBS acrescentou ainda que a Fazenda Nova Orleans está bloqueada desde 2014.

https://www.greenpeace.org/brasil/blog/o-triangulo-do-gado-como-uma-fazenda-gigante-e-uma-pequena-propriedade-aparentemente-esquentam-bois-para-a-jbs/
 

Las noticias publicadas en el sitio Povos Indígenas do Brasil (Pueblos Indígenas del Brasil) son investigadas en forma diaria a partir de fuentes diferentes y transcriptas tal cual se presentan en su canal de origen. El Instituto Socioambiental no se responsabiliza por las opiniones o errores publicados en esos textos. En el caso en el que Usted encuentre alguna inconsistencia en las noticias, por favor, póngase en contacto en forma directa con la fuente mencionada.