De Pueblos Indígenas en Brasil
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O que é racismo ambiental?
27/10/2025
Autor: Jullie Pereira
Fonte: InfoAmazonia - https://infoamazonia.org
 
 Após séculos de discriminação, preconceito e racismo, as populações negras, indígenas e quilombolas continuam sendo ignoradas e colocadas em vulnerabilidade quando grandes projetos ambientais são planejados ou quando os eventos climáticos se tornam extremos. Pesquisadores, professores e organizações explicam que o nome disso é racismo ambiental.
 
O racismo ambiental ocorre quando eventos climáticos ou danos ambientais impactam negativamente e de forma desproporcional as populações negras, indígenas, quilombolas ou periféricas, em razão da discriminação racial e social que essas pessoas historicamente são submetidas.
 
O conceito foi definido por Robert Bullard, pesquisador e professor emérito de Planejamento Urbano e Política Ambiental na Texas Southern University, nos Estados Unidos, e fundador do Bullard Center for Environmental and Climate Justice, centro de pesquisa e advocacy, que promove justiça ambiental e climática para comunidades negras, indígenas e de baixa renda.
 
Entre 1970 e 1980, Bullard pesquisou um caso em Houston, no Texas, onde a prefeitura planejava instalar um aterro em um bairro de maioria negra e pobre. Ele começou a coletar dados e mostrou que 75% dos lixões de Houston ficavam em bairros negros, apesar de eles representarem apenas cerca de 25% da população da cidade.
 
Isso mostrou que existe um padrão na forma como políticas ambientais e climáticas estão sendo construídas na cidade, em que populações racializadas são colocadas fora das discussões, empurradas para as margens da sociedade e sofrem os impactos dos eventos extremos.
 
Diferente da justiça climática, que aborda o conceito da luta pela igualdade climática, o racismo ambiental é um tipo de injustiça ambiental, que pode ocorrer em questões que envolvem os danos climáticos ou que envolvem os impactos ambientais como o uso irregular de agrotóxico e a mineração ilegal.
 
Racismo ambiental na Amazônia
A Amazônia Legal concentra a maior população indígena do país, são 720 mil pessoas vivendo em 424 terras indígenas na região, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, 60% da Amazônia Legal se autodeclara como preta ou parda. Isso significa que a região é, em sua maioria, formada por pessoas alvo do racismo ambiental.
 
Basta observar quem são os mais atingidos pelos eventos extremos: pessoas negras que vivem em comunidades consideradas periféricas, moradoras de residências em bairros com pouca ou nenhuma infraestrutura, o que as coloca em risco físico e mental. Esse foi o resultado de uma análise da InfoAmazonia que mapeou as populações e localidades mais vulneráveis a eventos hidrogeológicos na Amazônia Legal.
 
PÍLULAS CLIMÁTICAS
 
Esta é uma Pílula Climática, o glossário da InfoAmazonia que explica termos e conceitos sobre a COP30 e a crise do clima. Confira outras pílulas aqui.
 
Em 2023, oito pessoas morreram soterradas na comunidade Pingo D'água, no bairro Jorge Teixeira, em Manaus, no Amazonas. Dessas oito pessoas, quatro eram negras e imigrantes de origem venezuelana. Elas estavam morando em uma área considerada de risco, embaixo de um barranco. Depois de uma forte tempestade, o barranco caiu em cima de 20 casas.
 
A falta de políticas públicas de acesso e o crescimento desordenado empurram as pessoas que chegam do interior do estado ou são refugiadas de outros países para as zonas mais afastadas da cidade. Elas constroem ou compram suas casas onde há espaço, próximo de barrancos e de áreas florestais.
 
Outro exemplo é o caso da margem equatorial brasileira, onde o país pretende explorar petróleo. A InfoAmazonia mostrou, em reportagem, que o espaço é lar de comunidades tradicionais, com muitos homens e mulheres negras, que vivem da pesca e estão correndo o risco de terem seu modo de vida alterado. Mais do que isso, correm o risco de terem os rios, que são o sustento de suas mesas, atingidos por vazamentos de óleo.
 
Em Belém, cidade-sede da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), obras de melhoria do saneamento básico do bairro do Reduto, área nobre da cidade, estão sendo feitas na comunidade da Vila da Barca, onde vivem famílias negras e ribeirinhas.
 
O esgoto produzido pelos moradores dessa região nobre será coletado e direcionado para uma estação de tratamento dentro da Vila da Barca. Na prática, a comunidade periférica recebeu a estrutura que processa os dejetos de um dos metros quadrados mais caros de Belém, sem que houvesse consulta pública ou diálogo prévio com os moradores.
 
O relatório "Encruzilhada Climática", da Oxfam Brasil, também mostra que, na Amazônia, a população é mais pobre, o que dificulta qualquer medida de adaptação quando eventos extremos ocorrem. A pobreza limita os recursos para a compra de moradias mais seguras, alimentos e água durante crises, além de inviabilizar acesso a seguros.
 
As regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul apresentam os maiores rendimentos médios per capita: R$ 2.237, R$ 2.202, R$ 2.167, respectivamente. Em contraste, as regiões Nordeste e Norte, onde estão oito dos nove estados que integram a Amazônia Legal, possuem rendimentos inferiores, sendo R$ 1.146 no Nordeste e R$ 1.302 no Norte.
 
Esse tratamento é uma face do que o racismo estrutural faz com essas populações. Aliado à crise climática, o que Bullard observou desde a década de 1970 é que elas são as mais impactadas. Quando os eventos extremos ou grandes projetos de exploração ocorrem, são elas as primeiras a sofrer.
 
Por que isso importa para a COP30?
Na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), a sociedade civil vai cobrar que as questões raciais e de justiça social estejam integradas na lógica das políticas climáticas globais.
 
A Coalizão Negra por Direitos, formada por mais de 200 associações, publicou um manifesto em junho deste ano, exigindo que a presidência da COP30 reconheça, nas negociações, que o racismo ambiental é um problema estrutural que exige políticas públicas específicas.
 
Também pediu que sejam implementadas ações concretas de reparação histórica, incluindo acesso a terras, moradia digna e serviços básicos, e a garantia da participação efetiva de comunidades negras e indígenas nos processos decisórios climáticos.
 
As organizações devem usar o espaço da conferência para mostrar aos países que o racismo ambiental deve ser considerado em todas as etapas de criação de políticas climáticas, principalmente dentro das ações de adaptação climática, que se tornam urgentes a cada evento extremo registrado.
 
Os Países Menos Desenvolvidos (PMDs) estão pedindo que os recursos para o financiamento das medidas de adaptação tripliquem em comparação com os níveis de 2022. Em entrevista à InfoAmazonia, o presidente da COP30, André Corrêa Lago, disse que seu desejo é que as pessoas se lembrem "da COP30 como uma COP de adaptação".
 
https://infoamazonia.org/2025/10/27/o-que-e-racismo-ambiental/    
O racismo ambiental ocorre quando eventos climáticos ou danos ambientais impactam negativamente e de forma desproporcional as populações negras, indígenas, quilombolas ou periféricas, em razão da discriminação racial e social que essas pessoas historicamente são submetidas.
O conceito foi definido por Robert Bullard, pesquisador e professor emérito de Planejamento Urbano e Política Ambiental na Texas Southern University, nos Estados Unidos, e fundador do Bullard Center for Environmental and Climate Justice, centro de pesquisa e advocacy, que promove justiça ambiental e climática para comunidades negras, indígenas e de baixa renda.
Entre 1970 e 1980, Bullard pesquisou um caso em Houston, no Texas, onde a prefeitura planejava instalar um aterro em um bairro de maioria negra e pobre. Ele começou a coletar dados e mostrou que 75% dos lixões de Houston ficavam em bairros negros, apesar de eles representarem apenas cerca de 25% da população da cidade.
Isso mostrou que existe um padrão na forma como políticas ambientais e climáticas estão sendo construídas na cidade, em que populações racializadas são colocadas fora das discussões, empurradas para as margens da sociedade e sofrem os impactos dos eventos extremos.
Diferente da justiça climática, que aborda o conceito da luta pela igualdade climática, o racismo ambiental é um tipo de injustiça ambiental, que pode ocorrer em questões que envolvem os danos climáticos ou que envolvem os impactos ambientais como o uso irregular de agrotóxico e a mineração ilegal.
Racismo ambiental na Amazônia
A Amazônia Legal concentra a maior população indígena do país, são 720 mil pessoas vivendo em 424 terras indígenas na região, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, 60% da Amazônia Legal se autodeclara como preta ou parda. Isso significa que a região é, em sua maioria, formada por pessoas alvo do racismo ambiental.
Basta observar quem são os mais atingidos pelos eventos extremos: pessoas negras que vivem em comunidades consideradas periféricas, moradoras de residências em bairros com pouca ou nenhuma infraestrutura, o que as coloca em risco físico e mental. Esse foi o resultado de uma análise da InfoAmazonia que mapeou as populações e localidades mais vulneráveis a eventos hidrogeológicos na Amazônia Legal.
PÍLULAS CLIMÁTICAS
Esta é uma Pílula Climática, o glossário da InfoAmazonia que explica termos e conceitos sobre a COP30 e a crise do clima. Confira outras pílulas aqui.
Em 2023, oito pessoas morreram soterradas na comunidade Pingo D'água, no bairro Jorge Teixeira, em Manaus, no Amazonas. Dessas oito pessoas, quatro eram negras e imigrantes de origem venezuelana. Elas estavam morando em uma área considerada de risco, embaixo de um barranco. Depois de uma forte tempestade, o barranco caiu em cima de 20 casas.
A falta de políticas públicas de acesso e o crescimento desordenado empurram as pessoas que chegam do interior do estado ou são refugiadas de outros países para as zonas mais afastadas da cidade. Elas constroem ou compram suas casas onde há espaço, próximo de barrancos e de áreas florestais.
Outro exemplo é o caso da margem equatorial brasileira, onde o país pretende explorar petróleo. A InfoAmazonia mostrou, em reportagem, que o espaço é lar de comunidades tradicionais, com muitos homens e mulheres negras, que vivem da pesca e estão correndo o risco de terem seu modo de vida alterado. Mais do que isso, correm o risco de terem os rios, que são o sustento de suas mesas, atingidos por vazamentos de óleo.
Em Belém, cidade-sede da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), obras de melhoria do saneamento básico do bairro do Reduto, área nobre da cidade, estão sendo feitas na comunidade da Vila da Barca, onde vivem famílias negras e ribeirinhas.
O esgoto produzido pelos moradores dessa região nobre será coletado e direcionado para uma estação de tratamento dentro da Vila da Barca. Na prática, a comunidade periférica recebeu a estrutura que processa os dejetos de um dos metros quadrados mais caros de Belém, sem que houvesse consulta pública ou diálogo prévio com os moradores.
O relatório "Encruzilhada Climática", da Oxfam Brasil, também mostra que, na Amazônia, a população é mais pobre, o que dificulta qualquer medida de adaptação quando eventos extremos ocorrem. A pobreza limita os recursos para a compra de moradias mais seguras, alimentos e água durante crises, além de inviabilizar acesso a seguros.
As regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul apresentam os maiores rendimentos médios per capita: R$ 2.237, R$ 2.202, R$ 2.167, respectivamente. Em contraste, as regiões Nordeste e Norte, onde estão oito dos nove estados que integram a Amazônia Legal, possuem rendimentos inferiores, sendo R$ 1.146 no Nordeste e R$ 1.302 no Norte.
Esse tratamento é uma face do que o racismo estrutural faz com essas populações. Aliado à crise climática, o que Bullard observou desde a década de 1970 é que elas são as mais impactadas. Quando os eventos extremos ou grandes projetos de exploração ocorrem, são elas as primeiras a sofrer.
Por que isso importa para a COP30?
Na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), a sociedade civil vai cobrar que as questões raciais e de justiça social estejam integradas na lógica das políticas climáticas globais.
A Coalizão Negra por Direitos, formada por mais de 200 associações, publicou um manifesto em junho deste ano, exigindo que a presidência da COP30 reconheça, nas negociações, que o racismo ambiental é um problema estrutural que exige políticas públicas específicas.
Também pediu que sejam implementadas ações concretas de reparação histórica, incluindo acesso a terras, moradia digna e serviços básicos, e a garantia da participação efetiva de comunidades negras e indígenas nos processos decisórios climáticos.
As organizações devem usar o espaço da conferência para mostrar aos países que o racismo ambiental deve ser considerado em todas as etapas de criação de políticas climáticas, principalmente dentro das ações de adaptação climática, que se tornam urgentes a cada evento extremo registrado.
Os Países Menos Desenvolvidos (PMDs) estão pedindo que os recursos para o financiamento das medidas de adaptação tripliquem em comparação com os níveis de 2022. Em entrevista à InfoAmazonia, o presidente da COP30, André Corrêa Lago, disse que seu desejo é que as pessoas se lembrem "da COP30 como uma COP de adaptação".
https://infoamazonia.org/2025/10/27/o-que-e-racismo-ambiental/
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