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Indígenas do rio Negro mostram que mudança do clima afeta da frutificação do açaí ao comportamento das queixadas
14/11/2025
Autor: Roberto Kaz
Fonte: Observatório do Clima - https://www.oc.eco.br/indigenas-do-rio-negro-mostram-que-mudancas-do-clima-t
Indígenas do rio Negro mostram que mudança do clima afeta da frutificação do açaí ao comportamento das queixadas
Levantamento, apresentado na COP30, foi feito pelos Aimas, os Agentes Indígenas de Manejo FlorestaL
14 de novembro 2025 por Roberto Kaz
DO OC - Cento e vinte e duas famílias indígenas tiveram suas roças prejudicadas, em 2025, pela cheia do rio Içana, um afluente do rio Negro localizado na parte noroeste da Amazônia. O número soa pequeno, mas é um bom indicador de como as mudanças do clima podem ser medidas tanto no macro (toneladas de carbono na atmosfera, aumento de eventos extremos, trilhões de dólares em prejuízos) quanto no micro (nesse caso, pessoas afetadas por ações que não têm nada a ver com seu modo de vida).
Os números foram anunciados ontem, em uma mesa organizada pelo Instituto Socioambiental (ISA) no Rainforest Pavillion, na Blue Zone da COP30. "O clima está totalmente descontrolado", disse Hélio Monteiro Lopes, indígena da etnia tukano e diretor-executivo da Foirn, a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro. "Temos tido períodos de verão fora de época, chuvas intensas inesperadas, até chuva de granizo. Neste ano houve um recorde de inundação no Rio Içana, depois de dois anos de seca. Tudo tem sido imprevisível."
Monteiro Lopes é um Aima, sigla para Agente Indígena de Manejo Ambiental. A iniciativa, criada há 20 anos pelo ISA, hoje remunera 40 indígenas que medem como as mudanças climáticas têm afetado a vida em seus territórios, ao longo dos rios Içana, Tiquié, Uauapés e do médio rio Negro. Tributário mais caudaloso do Amazonas, o rio Negro tem 62% de sua extensão sob proteção legal, e serve de lar para ao menos 23 povos indígenas que falam 16 línguas.
O trabalho dos Aimas consiste em observar o meio ambiente, registrar as mudanças ao longo do tempo, entrevistar outros moradores das comunidades e organizar os dados em cadernos, que depois são compartilhados em oficinas. Escritos em português e em línguas indígenas como tukano, tuyuka e baniwa, esses cadernos formam um acervo de mais de 420 diários produzidos por 89 pesquisadores desde 2005.
Assim, é possível medir a intensidade das chuvas, a variação dos rios, a floração e frutificação das plantas, as migrações e períodos de reprodução dos animais - e quantificar como esses ritmos se alteram com o passar dos anos. Como dizem os conhecedores do Rio Negro, "os animais conhecem melhor o tempo que o homem", porque respondem integralmente às condições do ambiente. O projeto, coordenado pelo antropólogo Aloísio Cabalzar, publica os resultados na revista Aru, que teve a sexta edição lançada durante a COP30.
"No passado havia um calendários mais previsível das plantas", contou Sandra Gomes Castro, da etnia baré. "Açaí tinha um período específico de colheita, que ia de março a junho. Hoje em dia não existe mais isso." Ela contou que seu avô costumava prever as colheitas de açaí a partir do movimento das estrelas - o que também se tornou impossível, devido à aleatoriedade provocada pelas mudanças climáticas. "Temos uma fruta que dá de quatro em quatro anos, chamada ucuqui. Antes ela aparecia nos meses de abril e maio. Na última colheita apareceu outubro e novembro."
Oscarina Gomes Castro, da etnia desana, contou como a temperatura afetou o comportamento dos animais - que por sua vez acabaram afetando a produção agrícola dos próprios indígenas. "No mês passado o roçado do seu Celestino foi atacado por um grupo de queixadas [uma espécie de porco selvagem], que acabou comendo a maniva." Isso ocorre pela escassez de alimentos, como acrescentou Hélio Monteiro Lopes: "As aves se alimentam dos frutos das árvores. Os animais do solo, como a queixada, comem os restos desses frutos. Quando não têm mais frutos nas árvores, a queixada acaba atacando o roçado. A consequência somos nós que sentimos."
Um relatório publicado nesta semana, na COP, pela Global Carbon Project, iniciativa que reúne mais de 130 cientistas de todo o mundo, apontou que o uso de combustíveis fósseis - que segue crescendo, ainda que em ritmo menor - obrigará o mundo a realocar a meta de aquecimento a 1,7oC acima do período pré-industrial, e não mais 1,5oC, como almeja o Acordo de Paris. Isso pode gerar novos períodos de enchentes na Amazônia - como foi o caso em 2021 e 2022 - ou de secas extremas - como ocorreu em 2023 e 2024, período em que aldeias ficaram isoladas, plantações foram perdidas e peixes morreram por falta de oxigênio.
"A nossa força-tarefa aqui tem o objetivo de frear o que está acontecendo nesse momento", finalizou Sandra Gomes Castro. "Com os acordos que serão firmados aqui, temos esperança de resolver o que nós estamos vivendo lá na ponta."
https://www.oc.eco.br/indigenas-do-rio-negro-mostram-que-mudancas-do-clima-tem-afetado-da-frutificacao-do-acai-ao-comportamento-das-queixadas/
Levantamento, apresentado na COP30, foi feito pelos Aimas, os Agentes Indígenas de Manejo FlorestaL
14 de novembro 2025 por Roberto Kaz
DO OC - Cento e vinte e duas famílias indígenas tiveram suas roças prejudicadas, em 2025, pela cheia do rio Içana, um afluente do rio Negro localizado na parte noroeste da Amazônia. O número soa pequeno, mas é um bom indicador de como as mudanças do clima podem ser medidas tanto no macro (toneladas de carbono na atmosfera, aumento de eventos extremos, trilhões de dólares em prejuízos) quanto no micro (nesse caso, pessoas afetadas por ações que não têm nada a ver com seu modo de vida).
Os números foram anunciados ontem, em uma mesa organizada pelo Instituto Socioambiental (ISA) no Rainforest Pavillion, na Blue Zone da COP30. "O clima está totalmente descontrolado", disse Hélio Monteiro Lopes, indígena da etnia tukano e diretor-executivo da Foirn, a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro. "Temos tido períodos de verão fora de época, chuvas intensas inesperadas, até chuva de granizo. Neste ano houve um recorde de inundação no Rio Içana, depois de dois anos de seca. Tudo tem sido imprevisível."
Monteiro Lopes é um Aima, sigla para Agente Indígena de Manejo Ambiental. A iniciativa, criada há 20 anos pelo ISA, hoje remunera 40 indígenas que medem como as mudanças climáticas têm afetado a vida em seus territórios, ao longo dos rios Içana, Tiquié, Uauapés e do médio rio Negro. Tributário mais caudaloso do Amazonas, o rio Negro tem 62% de sua extensão sob proteção legal, e serve de lar para ao menos 23 povos indígenas que falam 16 línguas.
O trabalho dos Aimas consiste em observar o meio ambiente, registrar as mudanças ao longo do tempo, entrevistar outros moradores das comunidades e organizar os dados em cadernos, que depois são compartilhados em oficinas. Escritos em português e em línguas indígenas como tukano, tuyuka e baniwa, esses cadernos formam um acervo de mais de 420 diários produzidos por 89 pesquisadores desde 2005.
Assim, é possível medir a intensidade das chuvas, a variação dos rios, a floração e frutificação das plantas, as migrações e períodos de reprodução dos animais - e quantificar como esses ritmos se alteram com o passar dos anos. Como dizem os conhecedores do Rio Negro, "os animais conhecem melhor o tempo que o homem", porque respondem integralmente às condições do ambiente. O projeto, coordenado pelo antropólogo Aloísio Cabalzar, publica os resultados na revista Aru, que teve a sexta edição lançada durante a COP30.
"No passado havia um calendários mais previsível das plantas", contou Sandra Gomes Castro, da etnia baré. "Açaí tinha um período específico de colheita, que ia de março a junho. Hoje em dia não existe mais isso." Ela contou que seu avô costumava prever as colheitas de açaí a partir do movimento das estrelas - o que também se tornou impossível, devido à aleatoriedade provocada pelas mudanças climáticas. "Temos uma fruta que dá de quatro em quatro anos, chamada ucuqui. Antes ela aparecia nos meses de abril e maio. Na última colheita apareceu outubro e novembro."
Oscarina Gomes Castro, da etnia desana, contou como a temperatura afetou o comportamento dos animais - que por sua vez acabaram afetando a produção agrícola dos próprios indígenas. "No mês passado o roçado do seu Celestino foi atacado por um grupo de queixadas [uma espécie de porco selvagem], que acabou comendo a maniva." Isso ocorre pela escassez de alimentos, como acrescentou Hélio Monteiro Lopes: "As aves se alimentam dos frutos das árvores. Os animais do solo, como a queixada, comem os restos desses frutos. Quando não têm mais frutos nas árvores, a queixada acaba atacando o roçado. A consequência somos nós que sentimos."
Um relatório publicado nesta semana, na COP, pela Global Carbon Project, iniciativa que reúne mais de 130 cientistas de todo o mundo, apontou que o uso de combustíveis fósseis - que segue crescendo, ainda que em ritmo menor - obrigará o mundo a realocar a meta de aquecimento a 1,7oC acima do período pré-industrial, e não mais 1,5oC, como almeja o Acordo de Paris. Isso pode gerar novos períodos de enchentes na Amazônia - como foi o caso em 2021 e 2022 - ou de secas extremas - como ocorreu em 2023 e 2024, período em que aldeias ficaram isoladas, plantações foram perdidas e peixes morreram por falta de oxigênio.
"A nossa força-tarefa aqui tem o objetivo de frear o que está acontecendo nesse momento", finalizou Sandra Gomes Castro. "Com os acordos que serão firmados aqui, temos esperança de resolver o que nós estamos vivendo lá na ponta."
https://www.oc.eco.br/indigenas-do-rio-negro-mostram-que-mudancas-do-clima-tem-afetado-da-frutificacao-do-acai-ao-comportamento-das-queixadas/
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