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Indiazinha vai deixar ruas do centro

15/09/2005

Fonte: OESP, Metrópole, p. C8



Indiazinha vai deixar ruas do centro

Gilberto Amendola

Kerexu não vai mais vender artesanato no Largo São Francisco, no centro. A partir da próxima semana, a indiazinha de apenas 3 anos estará na escola, aprendendo guarani e navegando pela internet. Na edição da segunda-feira, o Estado mostrou a rotina da pequena Ariane, que só gosta de ser chamada pelo nome indígena, Kerexu (pronuncia-se cretchu), que significa lua crescente.
Todos os dias, ela deixava sua aldeia, na zona norte, para tentar a sorte no centro. A mãe, que vende peças de artesanato nas ruas, levava junto Kerexu e a irmãzinha de 8 meses. O comércio nunca rendeu muita coisa, mas os pedestres ficavam comovidos com a indiazinha.
Quem não gostou da história foi o cacique José Fernandes Guyra, da aldeia Tekoá Pyau, localizada na entrada do Pico do Jaraguá, que deu um puxão de orelhas na mãe de Kerexu, Rosenilda Macena. É que a aldeia tem um Centro de Educação e Cultura Indígena (Ceci). Para o cacique, a indiazinha deveria estar lá, e não nas ruas.
O Ceci é uma escola infantil que tem 97 alunos matriculados. Crianças de até 6 anos aprendem o guarani, a religiosidade de seu povo, danças, brincadeiras e até noções de internet. 'O Ceci é uma forma de resistência do povo indígena.
Aqui, as crianças aprendem a valorizar suas raízes. Mesmo assim, a internet é um sucesso.
Ela serve como fonte de pesquisa para os índios que procuram informações sobre outras tribos', disse a coordenadora do Ceci Jaraguá, Soraia Zanzine.
A instituição, cujos educadores são tirados da comunidade, serve como contraponto aos aparelhos de TV espalhados pela aldeia; ao assédio das igrejas evangélicas; e à popularidade de grupos de axé ou duplas sertanejas (que, vez ou outra, se apresentam por lá).
Além disso, a criação do Ceci garantiu quatro refeições diárias para os alunos. Em respeito à culinária tradicional , quase toda a merenda é feita à base de milho. 'Antes do Ceci, as indiazinhas estavam magrinhas', afirmou Zanzine.
Depois de completarem 6 anos, as crianças são encaminhadas para escolas tradicionais.
CLIQUES
Convencida pela comunidade, a mãe de Kerexu vai permitir que ela freqüente as aulas. 'Entendi que é mais importante para ela ficar aqui', disse Rosenilda. Ao saber da notícia, a indiazinha correu ontem para a sala de computadores e já deu seus primeiros cliques no mouse. 'O artesanato é a nossa única fonte de renda', disse uma índia que não quis se identificar.
'Ninguém tem nada contra isso. Mas a comunidade acha que as crianças devem primeiro se educar.' A aldeia Tekoá Pyau tem 2 hectares. Estima-se que 210 índios vivam nesse pedaço de terra, ocupado desde 1998.
As crianças representam metade de seus habitantes. Além do Creci Jaraguá, há duas unidades funcionando em aldeias de Parelheiros, na zona sul.

OESP, 15/09/2005, Metrópole, p. C8.
 

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