De Povos Indígenas no Brasil
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“Gostaria que todo mundo, indígenas e não indígenas, se unissem na mesma força e lutassem para melhorar as coisas. As mulheres todas de mãos dadas unidas para mudar as coisas para a melhor..”

Kerexu Mirim Guarani (Beatriz dos Santos)


Kerexu Mirim Guarani concede entrevista ao ISA, durante a 1ª Marcha das Mulheres Indígenas, realizada em Brasília (DF), em 2019. Foto: Silvia de Melo Futada/ISAKerexu Mirim Guarani concede entrevista ao ISA, durante a 1ª Marcha das Mulheres Indígenas, realizada em Brasília (DF), em 2019. Foto: Silvia de Melo Futada/ISA


Sou da etnia Guarani de São Paulo, meu nome em português é Beatriz e em Guarani é Kerexu Mirim.


O que que te trouxe à primeira marcha das mulheres indígenas?

Eu vim para somar números com as parentes daqui, que estão nessa luta que é de todos nós. E para ajudar. Como é a primeira vez que viemos à Brasília, eu não conhecia nada. Foi uma honra, porque encontrei vários parentes, de várias etnias e os povos Guarani que também estão aqui. Para nós, essa luta é uma luta que não tem fim, né? E a Marcha das Mulheres, para mim, mostra que as mulheres hoje em dia estão tendo mais poder, mais força.

Conte um pouco para nós a história da aldeia que você formou.

A gente conseguiu fazer uma nova retomada há um ano e cinco meses. Foi um pouco difícil, mas com a ajuda das nossas guerreiras de São Paulo nós conseguimos formar uma aldeia nova. Essa aldeia foi formada por duas mulheres, eu e minha irmã. Hoje minha irmã é a cacique e eu sou uma das lideranças que ajuda ela lá. No começo, era uma época muito chuvosa e difícil. Começamos a andar pela mata porque queríamos plantar, queríamos ter o nosso próprio espaço para produzirmos a nossa própria alimentação, nossos artesanatos. Aí, começamos a andar por meio da natureza e da mata e logo encontramos um lugar perfeito que parecia que Deus tinha dado para a gente. Conversamos com as lideranças da Tenondé-Porã, o pessoal, e a liderança decidiu apoiar a gente nesta parte, andaram conosco para verificar se ficava realmente dentro dos limites da demarcação, e estava dentro. Então começamos do zero, porque era uma mata fechada e não queríamos destruir. Cuidamos da natureza, pensamos os pássaros, formas de proteger os animais, porque não vivemos sem eles, que estão em contato conosco hoje. Passamos frio, passamos fome, e ainda estamos em poucas pessoas. Somos nove famílias. Respeitamos o pessoal que vem de fora visitar também. Temos a nossa roça, temos o nosso espaço, nossas casas já são de pau-a-pique, temos muitas coisas lá. Quando entramos, era uma mata fechada, fomos abrindo aos pouquinhos e hoje temos muitas coisas plantadas.

E hoje, o que vocês mais precisam na aldeia? Tem escola?

Estamos pensando em fazer uma escola. É difícil as crianças se deslocarem até a escola da aldeia Tenondé Porã quando está chovendo. São 40 minutos a pé. Até tomar o ônibus… Pensamos no futuro em conseguir uma escola. Devagarzinho, conseguimos as coisas.

Se você pudesse deixar uma mensagem, o que diria?

Gostaria que todo mundo, indígenas e não indígenas, se unissem na mesma força e lutassem para melhorar as coisas. As mulheres, todas, de mãos dadas. Unidas para mudar as coisas para melhor.


A entrevista acima foi registrada em 2019, durante a Primeira Marcha das Mulheres Indígenas, em Brasília (DF), por Selma Gomes, Beatriz Murer, Daniele Leal, Mariana Furtado e Silvia Futada.