De Povos Indígenas no Brasil
Notícias
Manaus reafirma identidade ancestral e luta pela preservação das línguas originárias
24/10/2025
Autor: Robson Adriano
Fonte: A Critica - https://www.acritica.com
Com mais de 71 mil indígenas de 35 etnias, a capital amazonense se torna símbolo de resistência e revitalização cultural, onde espaços como o Wainhamary fortalecem o ensino da língua Apurinã e a memória dos povos que formam a cidade
Manaus é terra indígena. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a capital amazonense é morada de 71.713 indígenas autodeclarados, sendo a cidade com a maior população indígena do Brasil. Parte dessa população está na comunidade Parque das Tribos, no bairro Tarumã, zona Oeste de Manaus, morada de 860 famílias indígenas de 35 etnias diferentes, conforme levantamento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com destaque para povos originários do Alto Solimões - como os Kokama e os Sateré-Mawé - e do Alto Rio Negro - como os Baré, Tukano e Baniwa.
Os indígenas que vivem em Manaus protagonizam um processo contínuo de resistência e retomada da própria cultura, identidade, território, história, memória e língua. A oralidade desempenha um papel central na preservação e transmissão da sabedoria ancestral entre as gerações. Um dos símbolos dessa resistência é o Espaço de Estudo da Língua Materna e Conhecimentos Tradicionais Indígenas (EELMCTI) Wainhamary, localizado no bairro Monte das Oliveiras, zona Norte. Atualmente, a capital amazonense conta com 23 espaços dedicados ao ensino de línguas maternas, tradições e histórias dos povos originários.
Awitetxy Xytara, 64 anos, da etnia Apurinã, movida pela vontade de conhecer os costumes do povo ao qual pertence, fundou em 2013 o EELMCTI Wainhamary na zona Norte de Manaus, região da cidade em que estão 20 comunidades indígenas. No espaço, 23 alunos de até 15 anos, no contraturno, são alfabetizados na língua Apurinã, assim como aprendem sobre a cultura, dança, cantos, Awitetxy Xytara, 64 anos, do povo Apurinã.
O reconhecimento indígena de Xytara ocorreu após conhecer um "parente" na ocupação do Parque São Pedro em 2010. O "parente" conhecia a família inteira dela, oriunda do rio Purus. "Eu vivi no mundo sem saber que era indígena. Eu contei para o meu pai que encontrei o 'parente' que conhecia toda a nossa família. Ele me disse 'a gente é indígena, mas teu avô não queria que ninguém soubesse'. Naquela época eles matavam e escravizavam os indígenas e estupravam as indígenas. Ele me contou que o meu avô disse: 'para vocês que sobreviveram, não falem para ninguém que são indígenas, e todo mundo se calou'. Depois disso eu pensei: já que sou indígena, quero aprender sobre o meu povo", relembrou Xytara, que é remanescente da ocupação da Praça 9 de Novembro, ocorrida em 2010.
Conquista
O espaço onde funciona o Wainhamary - significa cobra jiboia, em Apurinã - foi conquistado após visita do presidente Lula a Manaus no ano de 2010. A professora do lugar é a filha de Xytrara, Jeane Menandes, 42 anos, de nome indígena Kisipa, que na língua Apurinã significa Cobra Grande, mas traduzido para o português é Arco-íris. "Para nós, Apurinã, quando o arco-íris aparece no céu é uma cobra-grande invisível", explicou. A importância de se abrir um espaço ensino é manter viva a língua indígena, bem como garantir a continuidade dos costumes e crenças dos povos originários.
"Nós, índigenas urbanos, como são chamados o que moram na cidade, perdemos a nossa cultura e língua porque vamos conversar no português. Aprendemos para falar no português. Assim como os Muras e os Barés que já perderam a língua materna, para que nós (Apurinãs) não percamos, temos que resgatar a língua. Nós temos a língua-mãe, que é do povo Arawak, e começamos a praticar novamente. Hoje o povo já não dança mais, não canta mais e não fala e precisamos reaprender. A identidade foi ocultada por muito tempo. Hoje temos apenas dois centros Apurinãs", disse Awitetxy, que significa "chefe ou liderança" em Apurinã.
Cemitério
A Praça 9 de Novembro, situada no Centro Histórico de Manaus, foi um cemitério indígena no período pré-colonial. Artefatos históricos como urnas funerárias já foram encontradas no lugar. Em 2010, um grupo de oito famílias indígenas ocupou a praça durante sete dias como protesto de promessas não cumpridas pelo governo da época. Naquele ano, o presidente Lula visitou a capital amazonense para anunciar a construção de 3.511 unidades do programa "Minha Casa, Minha".
Uma carta foi entregue a ele por lideranças indígenas cobrando moradia. Os indígenas da ocupação foram retirados da praça e ganharam casas na Zona Norte da cidade.
https://www.acritica.com/manaus/manaus-reafirma-identidade-ancestral-e-luta-pela-preservac-o-das-linguas-originarias-1.387083
Manaus é terra indígena. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a capital amazonense é morada de 71.713 indígenas autodeclarados, sendo a cidade com a maior população indígena do Brasil. Parte dessa população está na comunidade Parque das Tribos, no bairro Tarumã, zona Oeste de Manaus, morada de 860 famílias indígenas de 35 etnias diferentes, conforme levantamento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com destaque para povos originários do Alto Solimões - como os Kokama e os Sateré-Mawé - e do Alto Rio Negro - como os Baré, Tukano e Baniwa.
Os indígenas que vivem em Manaus protagonizam um processo contínuo de resistência e retomada da própria cultura, identidade, território, história, memória e língua. A oralidade desempenha um papel central na preservação e transmissão da sabedoria ancestral entre as gerações. Um dos símbolos dessa resistência é o Espaço de Estudo da Língua Materna e Conhecimentos Tradicionais Indígenas (EELMCTI) Wainhamary, localizado no bairro Monte das Oliveiras, zona Norte. Atualmente, a capital amazonense conta com 23 espaços dedicados ao ensino de línguas maternas, tradições e histórias dos povos originários.
Awitetxy Xytara, 64 anos, da etnia Apurinã, movida pela vontade de conhecer os costumes do povo ao qual pertence, fundou em 2013 o EELMCTI Wainhamary na zona Norte de Manaus, região da cidade em que estão 20 comunidades indígenas. No espaço, 23 alunos de até 15 anos, no contraturno, são alfabetizados na língua Apurinã, assim como aprendem sobre a cultura, dança, cantos, Awitetxy Xytara, 64 anos, do povo Apurinã.
O reconhecimento indígena de Xytara ocorreu após conhecer um "parente" na ocupação do Parque São Pedro em 2010. O "parente" conhecia a família inteira dela, oriunda do rio Purus. "Eu vivi no mundo sem saber que era indígena. Eu contei para o meu pai que encontrei o 'parente' que conhecia toda a nossa família. Ele me disse 'a gente é indígena, mas teu avô não queria que ninguém soubesse'. Naquela época eles matavam e escravizavam os indígenas e estupravam as indígenas. Ele me contou que o meu avô disse: 'para vocês que sobreviveram, não falem para ninguém que são indígenas, e todo mundo se calou'. Depois disso eu pensei: já que sou indígena, quero aprender sobre o meu povo", relembrou Xytara, que é remanescente da ocupação da Praça 9 de Novembro, ocorrida em 2010.
Conquista
O espaço onde funciona o Wainhamary - significa cobra jiboia, em Apurinã - foi conquistado após visita do presidente Lula a Manaus no ano de 2010. A professora do lugar é a filha de Xytrara, Jeane Menandes, 42 anos, de nome indígena Kisipa, que na língua Apurinã significa Cobra Grande, mas traduzido para o português é Arco-íris. "Para nós, Apurinã, quando o arco-íris aparece no céu é uma cobra-grande invisível", explicou. A importância de se abrir um espaço ensino é manter viva a língua indígena, bem como garantir a continuidade dos costumes e crenças dos povos originários.
"Nós, índigenas urbanos, como são chamados o que moram na cidade, perdemos a nossa cultura e língua porque vamos conversar no português. Aprendemos para falar no português. Assim como os Muras e os Barés que já perderam a língua materna, para que nós (Apurinãs) não percamos, temos que resgatar a língua. Nós temos a língua-mãe, que é do povo Arawak, e começamos a praticar novamente. Hoje o povo já não dança mais, não canta mais e não fala e precisamos reaprender. A identidade foi ocultada por muito tempo. Hoje temos apenas dois centros Apurinãs", disse Awitetxy, que significa "chefe ou liderança" em Apurinã.
Cemitério
A Praça 9 de Novembro, situada no Centro Histórico de Manaus, foi um cemitério indígena no período pré-colonial. Artefatos históricos como urnas funerárias já foram encontradas no lugar. Em 2010, um grupo de oito famílias indígenas ocupou a praça durante sete dias como protesto de promessas não cumpridas pelo governo da época. Naquele ano, o presidente Lula visitou a capital amazonense para anunciar a construção de 3.511 unidades do programa "Minha Casa, Minha".
Uma carta foi entregue a ele por lideranças indígenas cobrando moradia. Os indígenas da ocupação foram retirados da praça e ganharam casas na Zona Norte da cidade.
https://www.acritica.com/manaus/manaus-reafirma-identidade-ancestral-e-luta-pela-preservac-o-das-linguas-originarias-1.387083
As notícias publicadas no site Povos Indígenas no Brasil são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos .Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.