From Indigenous Peoples in Brazil
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Foco de violência no sul do Pará vota 'não'
24/10/2005
Fonte: OESP, Metrópole, p. C9
Foco de violência no sul do Pará vota 'não'
Em Redenção, índios se unem a brancos para defender o uso das armas de fogo
José Maria Mayrink
Até 20 anos atrás, Redenção, município de 70 mil habitantes, a 750 quilômetros de distância de Belém, era a região mais violenta do sul do Pará, com sete assassinatos por dia. Agora relativamente tranqüila, com uma média de três mortes por mês, a cidade votou ontem em peso contra a proibição da venda de armas de fogo. Dois argumentos básicos convenceram homens e mulheres - de índios caiapós a famílias de pecuaristas e seus empregados - a apertar a tecla 1 nas urnas eletrônicas: as pessoas "de bem" têm o direito de se defender dos bandidos e quem vive na Amazônia precisa ter ao menos uma espingarda de caça para sobreviver no mato.
"Não tenho arma nenhuma em casa, mas, se a lei proibisse que eu tivesse, os ladrões me assaltariam para levar a boiada do patrão", afirmou o vaqueiro Manoel Alves Machado, de 45 anos. Ele é responsável por um rebanho de 2 mil cabeças de gado na Fazenda Cana Verde, a 75 quilômetros de Redenção.
Osmauro Gomes dos Santos, de 46 anos, que também trabalha numa fazenda e teve de encarar 160 quilômetros de viagem para votar não no referendo, tem uma "por fora" - espingarda que se carrega pela boca - de fabricação caseira para matar caititu, anta, paca e onça. "Não gosto de caçar, mas atiro no que aparecer pela frente", contou ontem, na fila da seção eleitoral.
Os índios caiapós também votaram em bloco contra a proibição de armas de fogo - para eles, instrumento de trabalho. "Nosso povo precisa de espingarda para matar animais, mesmo os índios que gostam de caçar e pescar com arco e flecha", disse Mronho Kayapó, da aldeia Rio Dourado, a uma hora de vôo de Redenção.
DEFESA
Mas não é só para caça e pesca que os índios usam armas. "Se o branco pegar arma de fogo para invadir nossas terras, também vamos nos defender com arma de fogo", afirmou o cacique Kaikuair Kayapó, da aldeia Moi Karukó, no Xingu, que foi a uma escola municipal apresentar sua justificativa por estar ausente de seu domicílio eleitoral.
Eleitores que viajaram até 200 quilômetros para o referendo não entendiam muito bem o motivo de serem obrigados a votar. "Eleição boba, que não tem candidato", criticou o aposentado Joaquim Batista. Ele queria saber por que, em vez disso, o governo não pergunta se o povo apóia a pena de morte.
Ao contrário de Batista, Raimunda Alves da Silva, de 44 anos, gostou da idéia do referendo, que, em sua opinião, seria uma solução para diminuir a violência. "De primeiro, uns 20 anos atrás, quando vim morar aqui, morria pelo menos uma pessoa a cada noite em Redenção. E a vingança vinha logo: matavam três e cinco amanheciam amarrados."
Ex-mulher de um militar, Aline Patrícia de Assis, de 28 anos, avisou que, independentemente do resultado do referendo, pretende comprar uma arma. "Fiz curso de tiro e quero estar pronta para me defender." Eleitora do não, ela apertou a tecla 1 da urna com a certeza de que essa foi a opção da maioria dos brasileiros.
O delegado Luiz Antônio Ferreira, um carioca que se mudou para Redenção há seis anos e chefia na cidade a Superintendência Regional do Araguaia Paraense, informou que centenas de moradores do sul do Estado têm armas em casa, principalmente na mata - em geral, espingardas "por fora" usadas para caçar. Esse fato, de acordo com um agente da Polícia Federal que não quis se identificar, leva os policiais a agirem pelo "bom senso" quando encontram um trabalhador rural armado na selva. "Sabemos que ele poderá ser atacado por uma onça e, por isso, preferimos não apreender a arma."
CALMARIA
Apesar de estar localizado numa região violenta, o município de Redenção está bem mais calmo do que nos anos 80. "Naquela época, os carros da polícia recolhiam sete ou oito cadáveres por noite", disse o delegado Ferreira. "Agora, os homicídios não passam de dois ou três por mês."
OESP, 24/10/2005, Metrópole, p. C9
Em Redenção, índios se unem a brancos para defender o uso das armas de fogo
José Maria Mayrink
Até 20 anos atrás, Redenção, município de 70 mil habitantes, a 750 quilômetros de distância de Belém, era a região mais violenta do sul do Pará, com sete assassinatos por dia. Agora relativamente tranqüila, com uma média de três mortes por mês, a cidade votou ontem em peso contra a proibição da venda de armas de fogo. Dois argumentos básicos convenceram homens e mulheres - de índios caiapós a famílias de pecuaristas e seus empregados - a apertar a tecla 1 nas urnas eletrônicas: as pessoas "de bem" têm o direito de se defender dos bandidos e quem vive na Amazônia precisa ter ao menos uma espingarda de caça para sobreviver no mato.
"Não tenho arma nenhuma em casa, mas, se a lei proibisse que eu tivesse, os ladrões me assaltariam para levar a boiada do patrão", afirmou o vaqueiro Manoel Alves Machado, de 45 anos. Ele é responsável por um rebanho de 2 mil cabeças de gado na Fazenda Cana Verde, a 75 quilômetros de Redenção.
Osmauro Gomes dos Santos, de 46 anos, que também trabalha numa fazenda e teve de encarar 160 quilômetros de viagem para votar não no referendo, tem uma "por fora" - espingarda que se carrega pela boca - de fabricação caseira para matar caititu, anta, paca e onça. "Não gosto de caçar, mas atiro no que aparecer pela frente", contou ontem, na fila da seção eleitoral.
Os índios caiapós também votaram em bloco contra a proibição de armas de fogo - para eles, instrumento de trabalho. "Nosso povo precisa de espingarda para matar animais, mesmo os índios que gostam de caçar e pescar com arco e flecha", disse Mronho Kayapó, da aldeia Rio Dourado, a uma hora de vôo de Redenção.
DEFESA
Mas não é só para caça e pesca que os índios usam armas. "Se o branco pegar arma de fogo para invadir nossas terras, também vamos nos defender com arma de fogo", afirmou o cacique Kaikuair Kayapó, da aldeia Moi Karukó, no Xingu, que foi a uma escola municipal apresentar sua justificativa por estar ausente de seu domicílio eleitoral.
Eleitores que viajaram até 200 quilômetros para o referendo não entendiam muito bem o motivo de serem obrigados a votar. "Eleição boba, que não tem candidato", criticou o aposentado Joaquim Batista. Ele queria saber por que, em vez disso, o governo não pergunta se o povo apóia a pena de morte.
Ao contrário de Batista, Raimunda Alves da Silva, de 44 anos, gostou da idéia do referendo, que, em sua opinião, seria uma solução para diminuir a violência. "De primeiro, uns 20 anos atrás, quando vim morar aqui, morria pelo menos uma pessoa a cada noite em Redenção. E a vingança vinha logo: matavam três e cinco amanheciam amarrados."
Ex-mulher de um militar, Aline Patrícia de Assis, de 28 anos, avisou que, independentemente do resultado do referendo, pretende comprar uma arma. "Fiz curso de tiro e quero estar pronta para me defender." Eleitora do não, ela apertou a tecla 1 da urna com a certeza de que essa foi a opção da maioria dos brasileiros.
O delegado Luiz Antônio Ferreira, um carioca que se mudou para Redenção há seis anos e chefia na cidade a Superintendência Regional do Araguaia Paraense, informou que centenas de moradores do sul do Estado têm armas em casa, principalmente na mata - em geral, espingardas "por fora" usadas para caçar. Esse fato, de acordo com um agente da Polícia Federal que não quis se identificar, leva os policiais a agirem pelo "bom senso" quando encontram um trabalhador rural armado na selva. "Sabemos que ele poderá ser atacado por uma onça e, por isso, preferimos não apreender a arma."
CALMARIA
Apesar de estar localizado numa região violenta, o município de Redenção está bem mais calmo do que nos anos 80. "Naquela época, os carros da polícia recolhiam sete ou oito cadáveres por noite", disse o delegado Ferreira. "Agora, os homicídios não passam de dois ou três por mês."
OESP, 24/10/2005, Metrópole, p. C9
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