De Povos Indígenas no Brasil

“Os povos indígenas também têm o direito de serem respeitados nas suas línguas”

por Anari Braz Bonfim

O Patxohã faz parte da família Maxakali e pertence ao tronco Macro-Jê. É uma das línguas no Brasil em processo de retomada.

A língua é hoje parte da nossa luta e também é um dos elementos de força pra gente.

Assim como todas as pessoas no mundo têm o direito de falar, os povos indígenas também têm o direito de serem respeitados nas suas línguas, no modo como cada um fala.

<i>Anari Braz Bonfim, do povo Pataxó no I Encontro do Grupo de Trabalho Nacional para a Década Internacional das Línguas Indígenas (DILI 2022-2032) / Foto: Andrés Cardona Cruz / Vist Project / Amazônia Real, 2023</i>
Anari Braz Bonfim, do povo Pataxó no I Encontro do Grupo de Trabalho Nacional para a Década Internacional das Línguas Indígenas (DILI 2022-2032) / Foto: Andrés Cardona Cruz / Vist Project / Amazônia Real, 2023

As línguas indígenas é que mantêm o bem viver dos povos indígenas desde os seus territórios, por meio dos saberes que são repassados de uma geração a outra, dos cantos, dos rituais. Como dizem os parentes, a língua também conecta com o sagrado, com a espiritualidade.

Somos o povo Pataxó. Um povo que já vem resistindo há mais de 524 anos, vendo o processo de luta pela sua existência.

Nossos anciões lutaram para poder permanecer, lutaram pelos territórios e continuam ainda lutando. Nesse processo, nós tivemos grande perda da nossa língua e, de uns 25 anos para cá, nosso povo vem num processo de fortalecimento e retomada da língua.

A recuperação da nossa língua foi por meio do que nossos antepassados deixaram para nós, tentando fortalecer por meio do canto, ensinar as crianças e os jovens. Estamos levando à frente aquilo que nossos mais velhos e nossos ancestrais deixaram pra gente honrar e dar continuidade: a nossa luta, a nossa existência e as nossas vidas.

A retomada da língua tem relação com o território. O território é importante para dar continuidade a todos os projetos de futuro dos povos indígenas. Então a garantia dos territórios também é importante para que o povo Pataxó continue vivendo e fortalecendo a nossa língua. A gente está a todo tempo tentando plantar, reconstruir aquilo que, como dizem os mais velhos, é a raiz que ficou. A gente tenta regar essa raiz para que ela floresça e continue viva.

O que a gente espera é que, daqui para frente, os nossos jovens possam dar importância e valorizar a nossa língua.

Depoimento registrado por Isabela Otsuki e Yasmim Chan de Lima em abril de 2025, durante o 21º Acampamento Terra Livre.

Valorizando as raízes

Anari Braz Bonfim é do povo Pataxó e nasceu na Terra Indígena Coroa Vermelha. Membra do Grupo de Pesquisadores Pataxó – Atxohã, ela estudou o Patxohã em sua dissertação de mestrado, defendida em 2012 na Universidade Federal da Bahia (UFBA), e atualmente é doutoranda em Antropologia Social no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).