De Povos Indígenas no Brasil
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Notícias

Kaxinawás terão 44 centros de produção no Juruá

21/01/2004

Autor: Ana Sales

Fonte: O Rio Branco-Rio Branco-AC



Os índios Kaxinawá estão desenvolvendo um grande projeto de produção agrícola e resgate das tradições da etnia Hunikui. Aprovado pelo Programa da Nações Unidas para o Desenvolvimento sustentável (Pnud), o projeto prevê a construção de 44 shubuãs para plantio de roçados comunitários e pólo aglutinador da população Hunikui . Traduzindo para a língua do branco, significa construir centros de treinamento com grande área plantada em sistema de rodízio.
O presidente da Organização dos Povos Indígenas do Rio Envira (Opire), índio Kaxinauá João Carlos Silva, informou que será construída uma estrutura central, com capacidade de abrigar cinco mil indígenas. "Nestes locais, além do plantio e capacitação, também serão realizados cinco festivais por ano, onde realizaremos nossas festas tradicionais, dando ênfase para a preservação e resgate das nossas manifestações culturais".
Além do grande centro de treinamento, cada uma das 43 comunidades indígenas serão beneficiadas com a construção de um shubuã de menor capacidade como forma de beneficiar todos os índios Kaxinawá com as diversas atividades a serem desenvolvidas pelo projeto. Serão construídas quatro shubuãs ao longo do rio Humaitá, seis em toda a extensão da praia do Carapanã, dois no seringal Independência, quatro nas comunidades Kaxinawá do rio Breu e 28 centros de treinamentos nas aldeias do baixo e alto rio Jordão.
O projeto, orçado em R$ 42 mil, será desenvolvido durante todo este ano e já tem data marcada para o primeiro grande festival indígena. Acontecerá no mês de junho, por ocasião da colheita de milho e feijão, com previsão de 230 toneladas. "Serão nove dias de festa com o batismo de crianças conforme reza a tradição Kaxinawá". Vai ter dança do mariri, festa do Gavião, formação de cantores e cantadores. Além de muita comida para agradecer os deuses indígenas pela fartura.

Compra mais barata
sem atravessadores
João Carlos explica que o projeto foi feito com o intuito de aglutinar os índios, facilitando a comunicação interna, a troca de experiências e discussão dos problemas comuns, "no sentido de buscarmos nosso próprio desenvolvimento e crescimento". Algumas medidas neste sentido já estão sendo efetivadas. A primeira delas é ficar livre do comércio feito por atravessadores que cobram um alto preço nas mercadorias, em relação ao valor normal dos produtos. Para tanto, o projeto contempla cursos de capacitação de lideranças indígenas nas áreas de gerenciamento e cooperativismo.
A liderança indígena está indo a Manaus (AM) fazer pesquisa de preços. "Para baratear o preço, vamos comprar direto dos fornecedores e distribuir os alimentos entre nossos parentes". A produção também vai ser vendida mais barata do que o preço de mercado, cerca de 20% a menos do que o preço praticado no comércio.
Tudo dentro de um princípio organizacional que objetiva a emancipação dos povos Kaxinawá, com melhoria da qualidade de vida e preservação dos seus valores e identidade sóciocultural. O próprio nome Kaxinawá está sendo questionado. João Carlos da Silva explica que a denominação original é Hunikui. "Kaxinawá é denominação de branco, e queremos resgatar o nome dado pelos nossos ancestrais".
O plantio de grandes áreas de terras, segundo o entrevistado, contribui para a independência financeira de seus parentes. "As coisas hoje são através de projeto e a gente tem que estar pedindo dinheiro ao poder público. Plantando, vamos ter o que comer nas nossas grandes reuniões e com o dinheiro da venda do excedente, podemos comprar sem ter que justificar para os brancos o porquê de algumas despesas".
Eles reuniram-se esta semana com o reitor da Universidade Federal do Acre, Jonas Pereira Filho, para formalização de um convênio de cooperação mútua que objetiva a criação de um programa de computador que reconheça as mais de mil palavras próprias da língua Hunikui. "Temos muitos sinais gráficos e outros símbolos que não existem na língua portuguesa, e fica muito difícil registrar em computador as coisas próprias da nossa cultura". A preocupação é também no sentido de permitir a escrita de textos, no computador na língua indígena, como uma forma de preservar a sua cultura.
 

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