De Povos Indígenas no Brasil
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Notícias
O rio tem esta coisa de ser o olho do mundo
24/07/2014
Autor: KUIN, Siã Huni; TINOCO, Dandara
Fonte: O Globo, Página 2, p. 2
O rio tem esta coisa de ser o olho do mundo
Na cidade para lançar na oca do Parque Lage um livro sobre curas, líder de etnia do Acre tomou ayahuasca, o chá sagrado da região, junto ao Cristo Redentor
Siã Huni Kuin, cacique
ENTREVISTA A:
DANDARA TINOCO
dandara.tinoco@oglobo.com.br
"Eu sou Siã Huni Kuin, liderança do povo Huni Kuin lá do Rio Jordão. Meu nome português é José Isaias Sales. Milito desde os 35 anos no movimento indígena. Vim ao Rio por um objetivo muito positivo. Andamos pesquisando nossos acervos da medicina da floresta, encontramos muita coisa e fizemos um livro"
Conte algo que não sei.
Nós humanos nunca terminamos de descobrir todo o segredo e o conhecimento científico e histórico. Tenho 50 anos e continuo aprendendo coisas novas. Nunca ia saber que tomaria o Nixi pãe (ayahuasca, ou daime, no sincretismo) junto com Jesus Cristo (Cristo Redentor). A gente nunca sabe o Yuxibu , o segredo do mundo.
Já tinha vindo ao Rio?
Algumas vezes. A cidade é cheia de energia, com montanha, mar... coisas boas. Tenho vários Txai (amigos) que estão aqui sempre prontos para conversar. No Cristo percebi que o Rio tem mesmo essa coisa de ser o olho do mundo.
Vocês foram quase exterminados.Como sobreviveram?
Nos últimos tempos, a gente está fazendo contato e mostrando para a sociedade a continuidade da nossa nação. O índio hoje não é como o índio do passado. Tem capacidade de buscar autonomia. Amanhã vou a um evento, no Acre, com 82 docentes indígenas. A gente está buscando direitos no Legislativo.
Vocês se reergueram através do reaprendizado da língua e da etnobotânica. Como usam as suas ervas?
Quando a pessoa está doente, dependendo da doença, o curandeiro ou pajé pega folhas, raízes ou cascas e vai cozinhar ou assar ou fazer verde, cru, mesmo. Aí a gente usa. Tomamos uns banhos também. Tem um medicamento que a gente bota no olho, tem um que a gente bota para tirar Panema (tristeza). Nossa medicina da floresta faz um efeito incrível, com três dias a pessoa já vai se recuperando.
Se diz hoje que a sociedade está doente. Concorda?
Concordo. Tem muita gente doente no mundo. Há essa destruição, o uso do planeta sem regras. É isso que dá o grande estresse. Há um crescimento da população sem controle.
O que os índios têm a ensinar aos brancos sobre organização social?
Nós passamos esse tempo todo cuidando da nossa terra, da nossa floresta, das nossas águas. Não fizemos nada de mal. Esse é o ensinamento. Não é tão complicado assim quando se quer fazer, claro.
A cultura da ayahuasca se disseminou no Brasil.
É um produto muito respeitado por nós, que não pode ser usado de qualquer jeito ou por qualquer um. É uma medicina muito importante para a compreensão humana, que tem de ser usada da maneira correta.
Seu nome, Huni Kuin, significa homem verdadeiro.
Isso. É o tipo americano, o nativo. E agora nós estamos pesquisando para ver se somos os verdadeiros mesmo. Estamos indo lá ver qual é a nossa história. Em alguns livros nós éramos Kaxinawá, palavra que vem de morcego. Descobrimos quando um antropólogo viu um indígena mexendo em um morcego na praia. Era só isso!
O que achou da Copa?
Gastaram tanto, e vem a Alemanha e dá de 7 x 1. Achei igual a um jogo num terreiro indígena. Não consegui entender. Acabaram com a emoção da gente. Ao mesmo tempo, perder, pegar aperto, é bom também para saber conquistar esse caminho com mais firmeza.
Pretende voltar ao Rio?
Queria ter tempo para ficar para sempre no Rio. Mas a gente tem compromisso...
O Globo, 24/07/2014, Página 2, p. 2
Na cidade para lançar na oca do Parque Lage um livro sobre curas, líder de etnia do Acre tomou ayahuasca, o chá sagrado da região, junto ao Cristo Redentor
Siã Huni Kuin, cacique
ENTREVISTA A:
DANDARA TINOCO
dandara.tinoco@oglobo.com.br
"Eu sou Siã Huni Kuin, liderança do povo Huni Kuin lá do Rio Jordão. Meu nome português é José Isaias Sales. Milito desde os 35 anos no movimento indígena. Vim ao Rio por um objetivo muito positivo. Andamos pesquisando nossos acervos da medicina da floresta, encontramos muita coisa e fizemos um livro"
Conte algo que não sei.
Nós humanos nunca terminamos de descobrir todo o segredo e o conhecimento científico e histórico. Tenho 50 anos e continuo aprendendo coisas novas. Nunca ia saber que tomaria o Nixi pãe (ayahuasca, ou daime, no sincretismo) junto com Jesus Cristo (Cristo Redentor). A gente nunca sabe o Yuxibu , o segredo do mundo.
Já tinha vindo ao Rio?
Algumas vezes. A cidade é cheia de energia, com montanha, mar... coisas boas. Tenho vários Txai (amigos) que estão aqui sempre prontos para conversar. No Cristo percebi que o Rio tem mesmo essa coisa de ser o olho do mundo.
Vocês foram quase exterminados.Como sobreviveram?
Nos últimos tempos, a gente está fazendo contato e mostrando para a sociedade a continuidade da nossa nação. O índio hoje não é como o índio do passado. Tem capacidade de buscar autonomia. Amanhã vou a um evento, no Acre, com 82 docentes indígenas. A gente está buscando direitos no Legislativo.
Vocês se reergueram através do reaprendizado da língua e da etnobotânica. Como usam as suas ervas?
Quando a pessoa está doente, dependendo da doença, o curandeiro ou pajé pega folhas, raízes ou cascas e vai cozinhar ou assar ou fazer verde, cru, mesmo. Aí a gente usa. Tomamos uns banhos também. Tem um medicamento que a gente bota no olho, tem um que a gente bota para tirar Panema (tristeza). Nossa medicina da floresta faz um efeito incrível, com três dias a pessoa já vai se recuperando.
Se diz hoje que a sociedade está doente. Concorda?
Concordo. Tem muita gente doente no mundo. Há essa destruição, o uso do planeta sem regras. É isso que dá o grande estresse. Há um crescimento da população sem controle.
O que os índios têm a ensinar aos brancos sobre organização social?
Nós passamos esse tempo todo cuidando da nossa terra, da nossa floresta, das nossas águas. Não fizemos nada de mal. Esse é o ensinamento. Não é tão complicado assim quando se quer fazer, claro.
A cultura da ayahuasca se disseminou no Brasil.
É um produto muito respeitado por nós, que não pode ser usado de qualquer jeito ou por qualquer um. É uma medicina muito importante para a compreensão humana, que tem de ser usada da maneira correta.
Seu nome, Huni Kuin, significa homem verdadeiro.
Isso. É o tipo americano, o nativo. E agora nós estamos pesquisando para ver se somos os verdadeiros mesmo. Estamos indo lá ver qual é a nossa história. Em alguns livros nós éramos Kaxinawá, palavra que vem de morcego. Descobrimos quando um antropólogo viu um indígena mexendo em um morcego na praia. Era só isso!
O que achou da Copa?
Gastaram tanto, e vem a Alemanha e dá de 7 x 1. Achei igual a um jogo num terreiro indígena. Não consegui entender. Acabaram com a emoção da gente. Ao mesmo tempo, perder, pegar aperto, é bom também para saber conquistar esse caminho com mais firmeza.
Pretende voltar ao Rio?
Queria ter tempo para ficar para sempre no Rio. Mas a gente tem compromisso...
O Globo, 24/07/2014, Página 2, p. 2
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