De Povos Indígenas no Brasil
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Notícias
Infanticídio é uma tradição milenar dos Yanomami
10/03/2005
Fonte: Folha de Boa Vista-Boa Vista-RR
As índias yanomami mataram 35 bebês indesejados no ano passado, logo após o parto. O infanticídio é a principal causa de morte entre as crianças com menos de um ano. O que pode parecer uma barbárie aos olhos da sociedade não-índia não passa de um traço cultural desse povo, que é considerado o mais "primitivo" do mundo.
O alemão Erwin Frank estuda as populações indígenas da América há 30 anos. Professor da Universidade Federal de Roraima e doutor em Antropologia, ele está há dez anos pesquisando os índios da Amazônia, sobretudo os Yanomami. Em entrevista à Folha, disse ontem que o infanticídio é uma tradição bastante arraigada na cultura Yanomami
"Isso expressa a autonomia da mulher em decidir pela vida ou a morte do filho e funciona como uma forma de seleção para as malformações e para o sexo das crianças", esclareceu.
Segundo ele, a índia se isola do grupo e entra na mata quando sente que vai dar à luz. Ali, sozinha, ela decide o destino do filho por diversas razões, sem a interferência de nenhum outro membro da comunidade, nem mesmo o marido. Ela cava um buraco no chão, coloca algumas folhas e tem o filho de cócoras. Um dos métodos para matar a criança é asfixiá-lo com folhas.
Os estudos do doutor Erwin concluíram que as índias matam os filhos por qualquer malformação da criança ou se o sexo do bebê não corresponde ao esperado. "Os yanonami, principalmente os grupos mais afastados, preferem que o primeiro filho seja homem. Então a mulher comete o infanticídio para não esperar tanto tempo para engravidar novamente", disse.
Isso explica a quase inexistência de malformações congênitas, deformidades e anomalias cromossômicas como a Síndrome de Down entre os Yanomami. Em 2003, por exemplo, o DSY não registrou nenhum caso. Já em 2004, a estatística apontou uma única malformação congênita.
Outros estudiosos levantam a hipótese de que a mãe mataria o filho quando ainda tem outra criança de colo, para minimizar seu trabalho pesado, que só pioraria com duas crianças para carregar.
O professor ressalta, no entanto, que em geral as índias amamentam os filhos por três anos e meio, período que não voltam a engravidar, mas confirma que até essa idade mãe e filho são inseparáveis. Eles vivem grudados a seu corpo, por uma tipóia.
Na opinião do antropólogo, a nossa sociedade não deve perceber o infanticídio como uma barbárie contra criancinhas indefesas. "Esse é o modo de vida deles e não cabe a nós julgá-los com base nos nossos valores. A diferença entre as culturas deve ser respeitada", defende.
Ele acrescentou que as entidades que prestam serviços aos indígenas também não devem interferir nessa tradição, principalmente porque o infanticídio não prejudica o crescimento populacional.
Hoje, a taxa de crescimento demográfico dos yanomami é de 5%. "Os estudos demográficos apontam que o infanticídio tem pouca influência sobre a capacidade das populações se reproduzirem e, no momento, não vejo nenhum perigo de extinção do grupo por causa disso", ressaltou.
O diretor técnico do DSY, Marcos Pelegrini, concorda que o infanticídio não oferece riscos para a população yanomami. "O controle do crescimento populacional pode até ser uma das razões do infanticídio", comentou.
Segundo ele, o trabalho da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e das instituições conveniadas não pretende interferir diretamente no infanticídio. "Mas nós já registramos uma demanda para o uso de métodos contraceptivos e esse assunto está sendo tratado com as lideranças das comunidades. Vejo como um programa prioritário, porque é nosso dever oferecer a elas os métodos de planejamento familiar como todo brasileiro tem".
Em 2004, nasceram - e viveram - 688 crianças na área Yanomami, sendo 357 homens e 324 mulheres. (L.G.)
O alemão Erwin Frank estuda as populações indígenas da América há 30 anos. Professor da Universidade Federal de Roraima e doutor em Antropologia, ele está há dez anos pesquisando os índios da Amazônia, sobretudo os Yanomami. Em entrevista à Folha, disse ontem que o infanticídio é uma tradição bastante arraigada na cultura Yanomami
"Isso expressa a autonomia da mulher em decidir pela vida ou a morte do filho e funciona como uma forma de seleção para as malformações e para o sexo das crianças", esclareceu.
Segundo ele, a índia se isola do grupo e entra na mata quando sente que vai dar à luz. Ali, sozinha, ela decide o destino do filho por diversas razões, sem a interferência de nenhum outro membro da comunidade, nem mesmo o marido. Ela cava um buraco no chão, coloca algumas folhas e tem o filho de cócoras. Um dos métodos para matar a criança é asfixiá-lo com folhas.
Os estudos do doutor Erwin concluíram que as índias matam os filhos por qualquer malformação da criança ou se o sexo do bebê não corresponde ao esperado. "Os yanonami, principalmente os grupos mais afastados, preferem que o primeiro filho seja homem. Então a mulher comete o infanticídio para não esperar tanto tempo para engravidar novamente", disse.
Isso explica a quase inexistência de malformações congênitas, deformidades e anomalias cromossômicas como a Síndrome de Down entre os Yanomami. Em 2003, por exemplo, o DSY não registrou nenhum caso. Já em 2004, a estatística apontou uma única malformação congênita.
Outros estudiosos levantam a hipótese de que a mãe mataria o filho quando ainda tem outra criança de colo, para minimizar seu trabalho pesado, que só pioraria com duas crianças para carregar.
O professor ressalta, no entanto, que em geral as índias amamentam os filhos por três anos e meio, período que não voltam a engravidar, mas confirma que até essa idade mãe e filho são inseparáveis. Eles vivem grudados a seu corpo, por uma tipóia.
Na opinião do antropólogo, a nossa sociedade não deve perceber o infanticídio como uma barbárie contra criancinhas indefesas. "Esse é o modo de vida deles e não cabe a nós julgá-los com base nos nossos valores. A diferença entre as culturas deve ser respeitada", defende.
Ele acrescentou que as entidades que prestam serviços aos indígenas também não devem interferir nessa tradição, principalmente porque o infanticídio não prejudica o crescimento populacional.
Hoje, a taxa de crescimento demográfico dos yanomami é de 5%. "Os estudos demográficos apontam que o infanticídio tem pouca influência sobre a capacidade das populações se reproduzirem e, no momento, não vejo nenhum perigo de extinção do grupo por causa disso", ressaltou.
O diretor técnico do DSY, Marcos Pelegrini, concorda que o infanticídio não oferece riscos para a população yanomami. "O controle do crescimento populacional pode até ser uma das razões do infanticídio", comentou.
Segundo ele, o trabalho da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e das instituições conveniadas não pretende interferir diretamente no infanticídio. "Mas nós já registramos uma demanda para o uso de métodos contraceptivos e esse assunto está sendo tratado com as lideranças das comunidades. Vejo como um programa prioritário, porque é nosso dever oferecer a elas os métodos de planejamento familiar como todo brasileiro tem".
Em 2004, nasceram - e viveram - 688 crianças na área Yanomami, sendo 357 homens e 324 mulheres. (L.G.)
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